O ser humano definitivamente não está preparado para receber um ''não''.
O não da vida, o não em suas relações amorosas. Ao ter seu amor renegado muitos
tiram a própria vida num ato de covarde desespero, porque soberano não é. Mas o
maior problema é quando a vida que se quer é a do outro, num escárnio maldito
pela impossibilidade de prosseguir sozinho. Mas a vida continua...
Em relações de forte apego emocional e total dependência, um está
totalmente envolvido, mas o outro muitas vezes gostaria também de estar!
Quando isso acontece abre-se um abismo entre ambos e o fracasso da
relação já se vislumbra logo alí. O ser humano não sabe sofrer, falo do
sofrimento mais elevado, o sofrimento dos deuses, aquele que nos tira da vida e
nos faz renunciar aos planos mais baixos. E muitas vezes esse sentimento que
nos desespera e nos deixa fora de sí é só uma alegoria.
Sofrer tornou-se algo insuportável para o homem, um masoquismo
desnecessário para galgar os umbrais celestes.
Aquele amor Shakesperiano em que
se dava a vida pelo ser amado, como prova soberana de afeto já não é mais
possível, porque além da vida do outro, se quer a alma também com todos os seus
pensamentos e lembranças.
Onde está o ato soberano do desprendimento, do suave afeto que tudo dá e
nada exige? Por que negociável não é. O ser humano deve ser livre para dizer:
- Não te quero mais porque me sufocas, não te quero mais porque me
desesperas, não te quero mais, pois já não vislumbro minha vida atrelada a
você. E porque tudo é tão fugaz e fugidio...
Aonde está o amor próprio do ser humano rejeitado e sua capacidade de
permanecer estático em seu abandono, de juntar seus cacos, apesar da dor e
conviver com eles até não doer mais, independente da volta do outro, ou não?
Estamos mais amargos, mais solitários e mais possessivos. Pode se ter a
posse da terra, mas não a posse do ser humano, pois se a posse é um ato
embaraçoso para a terra, que dirá para os amantes!
Que bom que o ser humano pudesse terminar seus relacionamentos “com
amor”, apesar de tudo!
Não te quero mais! Prefiro sofrer a viver um ato de amor que não seja
espontâneo, livre, íntegro e despido da constante vigília que corrói os
alicerces da soberania amorosa, pois não cria vínculos com a confiança.
Não te quero mais, porque prefiro eu ser enterrada na terra do que tê-la
posse. Porque o amor e a terra são laços adquiridos de forma pacífica, um golpe
somente para adquirir qualquer um dos dois e está desfragmentado o ato da
liberdade, e o que é um ato de amor senão um ato de liberdade mútua?
A vida produz muitos sofrimentos, e o sofrimento produz gritos de
angústia que faz vacilar o chão abaixo de nossos pés. Ora, uma alma que não
conhece a inveja é uma alma admirável!
Na concepção Goethiana, em Fausto, vê-se que o sofrimento encontra um
excelente argumento para mostrar que amor e orgulho são despossuídos, de forma
que, “A incredulidade é esfomeada da alegria como o alimento do espírito”.
Se amas, deixe ir!
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