Internet é, frequentemente, o bode
expiatório para justificar a crise do jornalismo. Os jovens estão “plugados”
horas sem-fim. Já nascem de costas para a palavra impressa. Será? É evidente
que a juventude de hoje lê muito menos. Mas não é só a moçada que foge dos
jornais. Os representantes das classes A e B também têm aumentado a fileira dos
navegantes do espaço virtual.
O público dos diários,
independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas
cada vez mais órfã de jornalismo de qualidade. Num momento de ênfase no
didatismo, na infografia e na prestação de serviços - estratégias convenientes
e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas.
O leitor que devemos conquistar não
quer, como é lógico, o que pode conseguir na internet. Ele quer conteúdo
relevante: a matéria aprofundada, a reportagem interessante, a análise que o
ajude, de fato, a tomar decisões.
Para sobreviverem, os grandes jornais precisam fazer que seja interessante o que é relevante. O jornalismo impresso deve ser feito para um público de paladar fino e ser importante pelo que conta e pela forma como conta. A narração é cada vez mais importante.
Quem tem menos de 30 anos gosta de
sensações, mensagens instantâneas. Para isso, a internet é imbatível.
Mas há quem queira entender o mundo.
Para estes, deve existir leitura reflexiva, a grande reportagem. Será que
estamos dando respostas competentes às demandas do leitor qualificado? A
pergunta deve fazer parte do nosso exame de consciência diário.
Antes, os periódicos cumpriam muitas
funções. Hoje, não cumprem algumas delas. Não servem mais para nos contar o
imediato, o que vimos na TV ou acabamos de acessar na internet. E as empresas
jornalísticas precisam assimilar isso e se converter em marcas
multiplataformas, com produtos adequados a cada uma delas. Não há outra saída!
Estamos em uma época em que
informação gráfica é muito valiosa. Mas um diário sem texto é um diário que vai
morrer. O suporte melhor para fotos e gráficos não é o papel. Há assuntos que
não é possível resumir em poucas linhas.
Assistimos a um processo de
superficialização dos jornais. Queremos ser light, leves, coloridos, enxutos. O
risco é investir na forma, mas perder no conteúdo. Olhemos para o sucesso da
revista britância The Economist. Algo nos deveria dizer. Não é verdade que o
público não goste de ler. O público não lê o que não lhe interessa, o que não
tem substância, o que não agrega, não tem qualidade. Um bom texto, para um
público que compra a imprensa de qualidade, sempre vai ter interessados.
Daí a premente necessidade de um
sólido investimento em treinamento e qualificação dos profissionais. Para mim,
o grande desafio do jornalismo é a formação dos jornalistas. O valor dele se
chama informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação. Por
isso, são necessários jornalistas com excelente formação cultural, intelectual
e humanística. Gente que leia literatura, seja criativa e motivada.
O conteúdo precisa fugir do
previsível. O noticiário de política, por exemplo, tradicionalmente forte nos
segmentos qualificados do leitorado, perdeu vigor. Está, frequentemente,
dominado pela fofoca e pelo declaratório. Fazemos denúncias (e é importante que
as façamos), mas, muitas vezes, faltam consistência, apuração sólida. O
resultado é a pauta superada por um novo escândalo. Fica no leitor a sensação
de que não aprofundamos, não conseguimos ir até o fim. O marketing político
avançou além da conta. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da
era do declaratório e da inconsistência.
Políticos e partidos vendem uma bela
embalagem, mas fogem da discussão das ideias e das políticas públicas. Nós,
jornalistas, somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos
a missão de rasgar a embalagem e mostrar a realidade. Só nós, estou certo,
podemos minorar os efeitos perniciosos do espetáculo audiovisual que,
certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia sólida e
amadurecida.
Só um sério investimento em
qualidade, rigor e relevância garantirá o futuro dos jornais.
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário