A imagem da presidente Dilma
Rousseff construída pelo publicitário João Santana tem dois pilares de
sustentação: ética e competência gerencial. Santana, apoiado em sua fina
sensibilidade marqueteira, captou as demandas da sociedade.
Ninguém aguentava
mais a roubalheira que terminou na grande síntese da picaretagem: o mensalão.
Mas os brasileiros também queriam
um país melhor administrado, alguém que fosse capaz de dar respostas às
demandas por educação, saúde, logística, etc. Vendeu-se, então, a imagem da
gerentona.
Dilma, ao contrário de Lula, seria uma administradora focada,
competente, exigente com os resultados da gestão pública.
O marketing, apoiado em fabulosos
gastos de propaganda, continua firme.
Mas a imagem real de Dilma Rousseff
começa a ruir como um castelo de cartas. O perfil ético da administradora que
combate “os malfeitos” já não se sustenta.
O vale-tudo, o pragmatismo para
construir a reeleição, a irresponsabilidade na gestão da economia, sempre
subordinada aos interesses da campanha (basta pensar no uso político da
Petrobrás e na postergação do aumento da conta de energia para 2015),
pulverizou os apelos do marketing.
Eu mesmo, amigo leitor, não
obstante minhas divergências ideológicas com a presidente da República, tinha
alguma expectativa com o seu governo. Hoje minha esperança é zero.
Mas o pior estava por vir. A
suposta competência de Dilma Rousseff foi engolida pelo lamentável episódio da
compra da refinaria em Pasadena. A imagem da administradora detalhista e
centralizadora simplesmente acabou.
Dilma Rousseff, então presidente
do Conselho de Administração da Petrobrás, autorizou a empresa a comprar 50% da
refinaria, no Texas, por US$ 360 milhões. A refinaria tinha sido vendida um ano
antes a uma empresa belga, a Astra Oil, por US$ 42,5 milhões.
Por falta de informação ou desleixo, nem Dilma
nem qualquer dos conselheiros chamaram a atenção para o fato de que, para ficar
com metade do empreendimento, a Petrobrás desembolsaria 8,5 vezes mais do que a
Astra gastou pouco antes pela refinaria.
Confrontada por documentos inéditos
atestando o voto favorável da então conselheira Dilma Rousseff à compra da
refinaria, na reunião de 2006, ela admitiu, em nota da Presidência da República
ao jornal O Estado de S.Paulo, que se baseara em um mero resumo executivo,
“técnica e juridicamente falho”, dos termos da transação.
Ao contrário da afirmação de
Dilma, executivos da Petrobrás, ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo, disseram
que a presidente Dilma Rousseff e todo o Conselho de Administração da estatal
tinham à disposição, em 2006, o processo completo da proposta de compra da
refinaria.
Resumo da ópera: aprovou sem ler
uma transação que dilapidou o dinheiro público. Administração temária é o
mínimo que se pode deduzir. Estarrecedor.
O ex-procurador-geral da
República Roberto Gurgel considera “extremamente grave”o caso em que a
Petrobrás teve prejuízo bilionário. Se houver indícios de responsabilidade da
presidente Dilma Rousseff no caso, ela deverá ser ouvida em Brasília pelo
Ministério Público.
“A partir do momento em que
surjam indícios do envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro, a
investigação tem de ser deslocada para o procurador-geral da República”,
afirmou Gurgel em entrevista ao UOL.
A imprensa não pode admitir, mais
uma vez, que a técnica da submersão acabe por tirar o foco de um escândalo de
grandes proporções. É preciso empunhar o bisturi e lancetar o tumor da
irresponsabilidade com o dinheiro público.
Chega! Boa parte do noticiário de
política, mesmo em ano eleitoral, não tem informação. Está dominado pelo
declaratório e ofuscado pelos lances do marketing político. Dilma Rousseff
continua sendo apenas uma embalagem. Mas seu verdadeiro conteúdo começa a
aparecer.
A programação eleitoral é, quando
muito, uma aproximação da verdadeira face dos candidatos. Tem muito espetáculo
e pouca informação.
Só o jornalismo independente pode
mostrar o verdadeiro rosto dos candidatos. Sem maquiagem e sem efeitos
especiais. Temos o dever de fazê-lo.
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