Nos últimos dias falou-se bastante da nova campanha
da marca de carnes Friboi, protagonizada por Roberto Carlos. O maior abatedouro
do país, até trocar as bolas, tinha como garoto propaganda somente o familiar
Tony Ramos.
Apesar de acostumados a ver reclames sobre a venda
patenteada de aves, com seus simpáticos mascotes galináceos, ainda provoca
alguma estranheza ao consumidor ter uma grife de rês.
Para quem
não teve o prazer de degustar o comercial em azul e branco, o artista aparece
em um restaurante com seus amigos de fé e, quando servidos, o camarada recebe
legumes, ou coisa que o valha, e imediatamente diz: “não, não, o meu prato é
aquele ali”, sinalizando uma porção bovina guarnecida pelas cores verde,
amarelo (e vermelho também).
“Você voltou
a comer carne, Roberto?”, indaga o garçom.
“Voltei.” É quando entra o famoso refrão “eu
vooolteiiii...”
A infâmia da
peça publicitária desagradou a carnívoros e veganos. O tiro saiu pela cloaca
causando grande repercussão negativa nas redes sociais, ao ponto de a empresa
mandar bloquear os comentários no YouTube.
Dizem que RC era vegetariano há mais de 30 anos e
agora teria novamente aderido à proteína animal. Detalhe, no comercial ele não
aparece comendo carne, somente ri muito com seus convivas ante tão espirituoso
gracejo. O cachê do cantor não foi divulgado, mas alguns comentaristas
especulam algo entre R$ 6 e R$ 10 milhões.
Não vou repetir aqui o que muitos já disseram, que
ele vendeu a alma, porque nunca o vi como defensor legítimo de qualquer ideia
digna de citação. Desde a Jovem Guarda, sempre foi vendido ao maior poderio
midiático do Brasil. Tampouco serei ingênuo de acreditar que todo artista
consuma os produtos que divulga.
O que pegou
muito mal na tal estratégia foi o aroma exalado de hipocrisia. Mesmo quem não é
vegetariano pode sentir um mal-estar no modo como se serviram do assunto. Em
tempos internéticos, cada vez mais é sabido os ingredientes que compõem a
indústria carnívora.
As pessoas têm todo o direito de continuar comendo
carne por não desejarem abrir mão dos deliciosos prazeres que a gastronomia
oferece. Mas é seu dever fazer dessa escolha uma opção consciente.
Foi-se o tempo em que não se sabiam do que eram
feitas as salsichas. Ou mesmo, como apregoou Paul McCartney, fossem as paredes
dos abatedouros de vidro e todos seriam vegetarianos.
Na mesma rede em que podemos ver o comercial, há
muito material sobre o abate animal (dito humanitário) que movimenta bilhões.
No Brasil um bovino é morto por segundo. Na mesma porção de tempo, um frango e
meio (vamos fracionar o bicho também na estatística) vai pra panela.
No mundo das ideias goela-abaixo, animal é coisa. É
medalhão. É janela. É ripa. Fraldinha. E mesmo quando carrega a anatomia aos
cardápios, acaba coisificado. Uma coxa de frango deixa de ser a perna de um
bicho? E o coração? Ah, coraçãozinho é uma delícia! E se mexo no abelheiro, é
porque “esse cara” que causou espécie foi o Roberto Carlos. Talvez agora ele
passe a ser o Rei do gado. E que tudo mais... vá pro inferno!
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