sábado, 9 de outubro de 2010
Ensino de qualidade se faz com valorização profissional
Este é um trecho da redação de uma aluna do 1º ano do ensino médio, cujas entrelinhas têm muito a dizer:
“Se eu fosse professora? Ah! Eu não seria professora. Jamais. Não conseguiria. Minha mãe é professora. Embora ela tenha deixado de ser minha mãe há muito tempo. Ela passou a ser mãe dos alunos dela... Ela mora na escola, ela almoça na escola. Só não dorme na escola, porque ainda não ofereceram um dormitório, senão dormiria. Quando eu perguntei a ela, porque ela não tempo pra gente, ela me respondeu também com um com um questionamento:
_Quem vai pagar as contas?
O que é ser professor hoje? Quem quer ser professor? Quem está se tornando professor e sob quais condições? Como estes têm sido reconhecidos e valorizados? Como se vêem profissionalmente e qual sua identidade? Que imagem a grande mídia, os poderes públicos, o jovem e a sociedade têm como representação desta categoria profissional?
A autora da redação, sendo filha de professora e conhecendo as condições da escola pública, pode ter todas as dúvidas em relação a qual profissão seguir, mas já definiu a que não quer. Que fatores são preponderantes para esta certeza?
Muitos professores enfrentam diariamente, o desafio de assumir, em cada sala de aula, uma média de 54 alunos, porém por mais que apresentem competência, não conseguem atender, por completo, às reais necessidades de cada um. Muitos estão desistindo da função, mesmo antes do término do estágio probatório, devido às precárias condições que enfrentam no seu dia-a-dia. Sem contar a sobrecarga de trabalho em função da má remuneração.
A educação, de uns tempos para cá, tomou rumos inovadores, os professores estão sendo preparados para acompanhar o ritmo acelerado da tecnologia, os recursos audiovisuais tornaram-se ferramentas pedagógicas essenciais nas escolas, laboratórios de língua, informática, ciências e outros mais vem favorecendo a metodologia modernizadora do educador. Bibliotecas carregadas de livros doados pelo MEC, programas de incentivo à leitura, olimpíadas de Matemática, Língua Portuguesa, Geografia, História... Contudo, é lamentável que estes recursos financeiros não se estendam para sanar o defasado salário do profissional da educação, provando que investimento em materiais tem-se de sobra, mas o recurso humano não está sendo levado em consideração.
É considerável o número de profissionais que se tornaram acríticos e simples executores de tarefas, trabalhando em condições de crescente precariedade emocional e destituídos da conquista de seus direitos em mais de três décadas neste regime que se diz democrático. Trabalhador descrente, sobrecarregado, com baixa autoestima e grande pressão psicológica, no ambiente de trabalho, além do visível desinvestimento na Educação, como prova o decréscimo real de verbas destinado à remuneração dos professores ao longo dos anos. De que adianta tantos recursos tecnológicos, tantos cursos de capacitação se ninguém se preocupa em investir no principal: o próprio educador? Como prejuízo, o aumento do número de docentes sofrendo com a ausência de um plano de carreira que os favoreçam dignamente, além dos problemas funcionais acarretando doenças físicas e emocionais, como nódulos nas cordas vocais, stress seguido de depressão, LER, e outras doenças, sendo obrigados a trabalhar, porque a auditoria do plano de saúde não favoreceu uma licença para a continuação do tratamento. Sem contar a luta para conseguir a direito a licença prêmio de três meses, garantida por lei a todos os trabalhadores, a cada cinco anos de serviços prestados.
Além do mais é preocupante a falta de professores em determinada áreas, como química, física e matemática. A carência de profissionais com formação para lecionar é gritante! Os contratos provisórios não atendem a demanda e os alunos ficam dias, semanas e até um trimestre todo sem aula, à espera de um professor, que não aparece e quando aparece, o contratado desiste, por motivos óbvios. Muitos daqueles que permanecem ignoram a realidade escolar e acabam “por brincar de fazer de conta que ensinam”, Porém, esta brincadeira sem graça está custando à ineficiência do ensino nas escolas públicas. Aqueles que conseguem demonstrar competência são impedidos de continuar seu trabalho, porque o contrato dura apenas um ano, como se a educação de nossos alunos perdurasse por um tempo limitado, contrariando a pensamento pedagógico de que a aprendizagem deve contínua e significativa. Esse rodízio e descaso pela educação pública levam à ineficiência do ensino e para recuperar o que foi perdido o custo é muito maior. Por isso é importante ressaltar que sem uma política educacional séria nada muda.
Pesquisas e estatísticas têm comprovado a carência de profissionais em determinadas áreas e em outras cuja demanda está por vir, o que a médio prazo comprometerá o desenvolvimento do país, pois muitos investimentos não ocorrem por falta de mão de obra qualificada. Ora, para garantir profissionais que atendam a essas necessidades, antes de tudo torna-se necessário professores qualificados, competentes e valorizados; de escolas com condições mínimas de funcionamento.
Segundo o professor Pedro Demo, “qualidade da aprendizagem discente depende, na maior parte, da qualidade da aprendizagem docente” (Demo, 2007a). Como proporcionar uma educação de qualidade com tanto rotatividade de professores?
Demo ainda coloca que:“a profissão docente continua muito mal remunerada, apesar do acordo em torno de mil reais por uma semana de quarenta horas. Este salário não é aceitável. Nenhuma profissão com nível superior acharia suficiente, muito menos professor” (Demo, 2008);
A Lei nº 11.738, de 16/07/2008 estabeleceu um piso salarial nacional que deveria ser implantado a partir de janeiro de 2009 e efetivado na totalidade em janeiro de 2010, sendo corrigido anualmente. No entanto, o que se tem é uma correção mensal de menos de 2% sobre o salário que se recebia em fevereiro de 2009, sem ao menos ser cumulativa, até que o piso seja alcançado. Assim, o professor foi duplamente desrespeitado – como cidadão que não teve seus direitos garantidos e cumpridos, bem como profissional que não é valorizado. Isso tudo com o consentimento daqueles que também deveriam observar o cumprimento das leis que elaboram, independentemente do âmbito em que atuam.
É importante que o poder público esteja mais a par da realidade da educação pública e se faça presente. Que deem respaldo ao educador que carece de condições dignas para realizar seu trabalho com motivação. Os alunos de hoje não vivem mais de ilusão, pois percebem claramente que a má qualidade da educação não é culpa de seus professores. Ele tem consciência de que o poder público é também responsável para garantir, futuramente, seu espaço no mercado de trabalho e que, este, depende da qualidade da educação que recebem. Eles ainda acreditam na escola pública, não somente porque dependem dela, mas porque conhecem muitos professores capacitados e que merecem o devido respeito da sociedade.
Torna-se necessário a criação de projetos de lei que deem respaldo para as reais necessidades dos educadores, com propostas de políticas públicas que favoreçam realmente a melhoria da educação em todo país, que acompanharam de perto a dura realidade da educação, conhecendo os desafios e as prioridades para uma educação de qualidade e, finalmente, colaborando para o sucesso da mesma.
Docentes bem preparados intelectual, emocional e eticamente. Bem remunerados, motivados e com boas condições profissionais é o que todos almejam. Como afirma Paulo Freire, “ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho... Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”.
Profª. Patrícia Nara da Fonsêca Carvalho no DM.
Sob meu ponto de vista ela está coberta de razão. E você? Deixe seu ponto de vista aqui ou direto no dihitt.
Postado por
William Junior
às
10:41
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parabéns aos professores brasileiros ,que conseguem sobreviver com este mínimo salário e muitas vezes esquecem de seus filhos para desicarem aos filhos dos outros dando a educação que falta em casa,a paz
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