domingo, 31 de outubro de 2010

Aí está Deus...



Quando nos comunicamos, partilhamos algo. Há um estímulo que suscita uma resposta. Esta resposta se torna outro estímulo gerando determinada reação. Temos assim a comunicação relacional humana. Se há sintonia, a conversa vai longe, mesmo que se trate de abobrinhas. Para cortar o papo, o que se denomina comunicação cruzada, basta interceptar, desviar a conversa. Exemplo: se lhe perguntarem pelo Manuel germano, discorra sobre o gênero humano.
Nosso relacionamento determina nossa qualidade de vida. Não se relacionar é deixar minguar a alegria de viver.
Na relação a dois vê-se que muitos coabitam anos a fio, sem se conhecerem. Se adaptam, se acostumam com a suportação recíproca. Ainda não se encontraram. Falam em separação, mas já estão, há muito tempo, separados. São pessoas cheias de qualidades. Educadas, cultas, competentes, bondosas, agradáveis. Mas só mostram seus dons quando estão em público ou na presença de um terceiro. A intimidade é um sufoco. Não se revelam, um ao outro de coração. Sempre esperam que o outro faça algo. Tenha iniciativa, se desvele. Inevitavelmente, se dá o rompimento, onde deveria ter ocorrido o encontro. Tendo olhos de ver descobrem que desde o início não foram verdadeiros, nem houve crescimento na relação. Vão levando para ver até onde dá pra ir. No contato raso não conhecem a grandiosidade do mergulho profundo.
Quando não há transparência na comunicação abre-se campo para interpretações distorcidas. Cada um fantasia segundo seus anseios, expectativas, necessidades. Anseio por ser percebido. Queixam-se: “posso dormir colada a seu lado, que continuo invisível.” Expectativa por uma atenção, um cuidado: “passei mal a noite toda e nem fui percebido.” Necessidade: “precisei trocar ideia sobre algo importantíssimo e não fui ouvido.”
Desilusão de não ter quem o olhe nos olhos ou o escute. Não ter quem partilhe a angústia que lhe constrange a alma. São diálogos surdos entre quem fala sem esperança, carente de ouvidos. Não há cumplicidade. Nem mesmo amizade. Não conhecem a segurança de um contato estável, fiel, duradouro.
Comunicação é aprendizado. Exige prática e coragem. No encontro com o outro estaremos inteiros na busca da permuta. Do encontro de almas. Deve ser recíproca a permissão para sondar o sagrado terreno das almas. O mais secreto de cada um. No encontro existencial não há espaço para o medo. É um pelo outro e ambos pelos demais. As dificuldades serão minimizadas no tempo que passa. É no aconchego do lar que são refeitas as forças gastas na peleja da vida. Há por que lutar. O ser humano se sacrifica até seu limite máximo a favor dos que ama. E o faz sorrindo. Sem cobranças sórdidas. Feliz por desdobrar-se em atenção, acolhimento, respeito.
A vivência do amor incondicional alarga os horizontes. A paz de espírito, o testemunho da verdade nos liga ao sagrado. Satya Sai Baba, o sábio da Índia de nossos dias ao trabalhar a educação em valores humanos diz: “Onde há fé, existe amor/ Onde há amor, existe a paz/ Onde há paz, existe a verdade / Onde há verdade, aí está Deus.”

Elzi Nascimento e Elzita Melo Quinta. (iopta@iopta.com.br)

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