segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Coloca o saco!



Vou direto ao ponto. Eu assisti Tropa de Elite 2 e, acreditem, duas vezes seguidas. Eu precisava fazer isso, não queria deixar de dar uma segunda chance ao filme para que eu enxergasse alem do óbvio: mais um filme violento com um herói justiceiro. Um Jack Bauer brasileiro com quem o povo se identifica e sinceramente eu consegui, vi além disso. Não chegou a me surpreender porque eu já sabia o final antes de assistir, já que assistimos o final desse filme todos os dias nos noticiários de TV, seja nos mais sérios ou nos oportunistas calibre grosso ou chumbo trocado sei lá.
Mas neste filme acontece algo legal, o dramático Cap. Nascimento começa a cair na real sobre a polícia e a política que a controla e entra em parafuso porque se dedicou 20 anos como policial para nada. Parece reprise na minha mente porque há 3 anos eu conheci, no Rio de Janeiro, Rodrigo Pimentel, o verdadeiro Capitão Nascimento, que me falou sobre sua frustração e é tudo que hoje vemos no filme.
Eu me lembro dele dizer coisas como: o Bope matou crianças no fogo cruzado e eu não consigo apagar aquelas cenas da minha mente. Daí eu contei a ele que certa vez a Rotam, o Bope goiano, armado, invadiu a Assembleia Legislativa procurando um deputado que a chamou de assassina, que riu e disse: nossa, que loucura! Aqui os deputados são na maioria parceiros dos Comandos. Aí foi minha vez de ficar assustado. Parceiros dos Comandos? Pois é! Foi então que caiu minha ficha mais uma vez. Aqui está cheio desses caras que se escoram no desejo de vingança da sociedade pra se elegerem com propostas fascistas em nome da ordem e nestas eleições entraram muitos, diga-se de passagem, com essa bandeira de bandido bom é bandido morto.
Incrível como neste filme é a arte imitando a vida e, consequentemente, vida imitando a arte da vida. Vou explicar: no filme tem de tudo que temos aqui, os políticos oportunistas, o programa de TV sanguinário com apresentador candidato, que fala do assassinato e anuncia remédio contra varise. Temos secretário de Segurança que também vira candidato, seu escudeiro que sabe de segurança, mas não tem autonomia para botar a cara. Temos o deputado invocado com direitos humanos, têm os repórteres atrevidos, posso estar incluso nesses. Só é difícil apontar o Cap. Nascimento, porque são tantos candidatos e o que teve de PM que incorporou o Capitão depois de assistir o Tropa não está nos anais. Ficaram tão empolgados que usavam até as mesmas gírias, a mesma marra e, confesso, alguns representavam tão bem que mereciam uma pontinha no segundo filme. Eu mesmo já fui abordado por um policial certa vez que copiosamente me disse: "Tênis bacana, hein! Você é do movimento? Cadê a droga? Vou plantar para você descer pra CPP." Eu não sabia se ria ou se ficava com medo, vai saber. Só faltou ele falar: coloca o saco! Eu que não sou bobo nem nada, me comportei diante da dura e logo o ator me liberou dizendo: se eu te ver de novo aqui vai ter! Detalhe: eu estava no ponto de ônibus.
Mas se realmente o Tropa de Elite 2 influenciar novamente os policiais, dessa vez eles vão querer se voltar contra o sistema que é corrupto de cima pra baixo. Seria perfeito! O cinema iria prestar um grande serviço à sociedade, seria lindo! Mas sinceramente eu duvido muito que os policiais comecem a perceber o quão são prejudiciais o seu despreparo e a violência diante do cidadão, porque as promessas de campanha ainda têm como carro-chefe o aumento de salário, mais armamento, helicópteros, viaturas. E nada de prevenção, educação, capacitação, cultura e esporte, algo que realmente funciona em áreas de conflito. E quem vai querer dar uma de Che Guevara com as contas atrasadas em casa? Então acho que a cena mais imitada ainda vai ser: coloca o saco!


Dyskreto.(www.twitter.com/Dyskreto)

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Um comentário:

  1. Realmente amigo é muito complicado, temos que rever todo o processo de EDUCAÇÃO, de formação do Cidadão, célula inicial da Sociedade, e isto se aplica tanto para baixo quanto para cima, explico:temos marginais, traficantes, bandidos tanto nos guetos, nas favelas, quanto nos casarões e palácios. Tanto no meio do povo, quanto nos quartéis ou escolas, em todo canto enfim, portanto precisamos REVER os conceitos e Valores da nossa Sociedade.
    Parabéns, gostei muito da postagem, aproveitemos para repensar.
    Obrigado.

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