quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Você acredita nos cientistas?



As edições de 22 de setembro último das revistas Nature e Scientific American trazem o resultado de uma pesquisa de opinião realizado com seus leitores, em 18 países, entre os quais está incluído o Brasil, sobre percepções e credibilidade, em relação ao papel da ciência, dos cientistas e de outros importantes atores sociais; como políticos e autoridades religiosas, por exemplo.
Talvez não seja surpresa, até pelo vício de amostragem, que envolveu exclusivamente leitores de publicações desta natureza (21 mil pessoas), sendo uma boa parcela deles detentora de titulação acadêmica de doutorado, que nutrem certa simpatia pela ciência e por cientistas de uma maneira geral, mas o resultado mostrou que as pessoas acreditam mais na palavra dos cientistas do que na de qualquer outro grupo de atores sociais.

Em ordem de confiança, numa escala de zero a cinco, os cientistas receberam uma nota média ao redor de quatro. Em segundo lugar, empatados, próximo de três, vieram os grupos de amigos/familiares e as organizações não-governamentais. Na sequência, em ordem decrescente de credibilidade, apareceram os órgãos de defesa dos cidadãos, os jornalistas, as empresas, os políticos eleitos e, em último lugar, surpreendendo muita gente, com nota média de 1,55 em credibilidade, as autoridades religiosas.

A credibilidade da ciência depende de quê?
A confiança dos leitores que responderam à pesquisa das revistas Nature e Scientific American depende do tema. Quando o assunto é a teoria da evolução de Darwin versus a fantasia dos criacionistas, por exemplo, a palavra da ciência mereceu a melhor avaliação entre todos os quesitos amostrados. Também foram bem avaliadas, em termos de credibilidade, a palavras dos cientistas em assuntos como energia renovável, origem do universo e células-tronco. Todavia, os cientistas, na opinião dos respondentes, deixaram a desejar na questão da pandemia da gripe aviária, no que tange ao uso de drogas para depressão e no valor dos pesticidas. Muitos julgaram, mesmo sem qualquer base para isso, que, no caso da gripe H1N1, os cientistas exageraram na gravidade do problema, prestando-se a ajudar a indústria farmacêutica na venda de drogas.

Lamentavelmente, chamou atenção que 23,5% dos brasileiros que participaram da enquete ainda mostram dúvidas sobre a teoria da evolução das espécies baseada na seleção natural. Na China esse contingente chegou à metade dos entrevistados e no Japão a 35%. Apesar destes números, não significa que os orientais acreditam no criacionismo. Na Alemanha e no Reino Unido essa parcela não alcançou 10% e nos EUA ficou ao redor de 13%.
Unanimidade, entre brasileiros, americanos e britânicos, com cerca de 80% concordando, apesar de toda crítica pública ao IPCC, foi a aceitação de que a atividade humana é responsável pelos sinais já identificados de mudança do clima global.

Diferenças e unanimidades marcantes
A diferença entre países, regiões do globo e culturas ficou patente nos resultados da pesquisa. Os europeus são os mais temerosos em relação aos possíveis problemas decorrentes do uso da energia nuclear e do cultivo de organismos geneticamente modificados (as populares plantas transgênicas, que são exemplo a soja RR e o milho Bt). Os americanos são os menos preocupados com estas questões. Também há que se destacar o temor em relação aos possíveis riscos desconhecidos do uso das nanotecnologias.
Os chineses se mostraram os mais receosos com as opiniões políticas dos cientistas.
Os brasileiros, depois dos chineses, foram os mais renitentes em relação aos cientistas opinarem sobre política. Certamente, um resultado da ingenuidade e do simplismo de algumas opiniões emitidas no passado e no presente por muitos dos nossos cientistas. No resto do mundo, apenas 10% dos respondentes compartilharam essa opinião.

A vingança segundo Borges
La venganza es inútil y es cruel y absurda. La única venganza verdadera es el olvido. Y el perdón.

por Gilberto Cunha em ONaciona.PF.

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Um comentário:

  1. Olha, ainda acho que falta espírito científico, ou seja, de investigação nas escolas para que a criticidade aumente entre as pessoas. Assim, as informações não serão analisadas sobre pontos de vista binários: certo ou errado. Mas, num contexto dialético de influência e possiblidade.

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