terça-feira, 10 de agosto de 2010

Os despertar da nossa inteligência evolutiva


Ao comparar os achados pré-históricos do homem de Neandertal e do homem de Cro-magnon, emergiu uma importante pergunta: o que os diferencia tanto, a ponto de justificar o considerável desnível de inteligência existente entre ambos, ainda que a leitura genética os aproxime? Os recentes estudos apontam para algumas possíveis respostas, as quais se relacionam ao tipo de convívio, além da alimentação rica em proteína obtida pela carne ingerida (desenvolvimento cerebral), fato já verificado por meio da análise dos isótopos das partes proteicas presentes nos ossos das duas espécies.
As evidências mostram que os Neandertais viviam em pequenos grupos de 15 a 20 membros, e sua atividade comum era a caça, a qual contava com o apoio coletivo, haja vista eles terem de se lançar à sorte quando se deparavam com enormes e perigosos animais (significativa porcentagem das ossadas está quebrada e perfurada). Para ter êxito, foi necessário o mínimo de comunicação entre eles (sua laringe é idêntica à nossa, permitindo um sistema de linguagem à época), além do tamanho do crânio, com variação entre 1.200 e 1750 cm³ (maior que o nosso em alguns casos). Logo, nem o tipo de alimentação, nem a anatomia do Neandertal o impediram de deslanchar na escalada evolutiva. O que foi então?
Uma das hipóteses mais bem aceitas no seio da comunidade científica é o despertar mais aguçado da inteligência humana a partir de dois fatores: o desenvolvimento tecnológico de ferramentas específicas frente a cada nova dificuldade encontrada pelos Cro-magnons (criatividade e flexibilidade) e a farta rede de comunicação entre os seus grupos dispersos nas muitas regiões (inteligência social), o que levou ao exercício das trocas de objetos por eles produzidos: armas (pequenas pontas de lança de obsidiana, uma rocha vulcânica de fácil manipulação encontrada em lugares longínquos), adornos (colares feitos dos dentes humanos e réplicas esculpidas de conchas marítimas) e o arsenal artístico (pinturas, esculturas e instrumentos musicais: a flauta primitiva).
Os Neandertais, contudo, possuíam uma mente inflexível, tanto que seus instrumentos de caça não tiveram mudança significativa ao longo da sua existência. Era empobrecido o nível de interação entre os grupos, assim, ao que tudo indica, houve um sistema de comunicação que serviu apenas para as atividades localizadas de caça e convivência mínima dentro do pequeno conjunto de convívio. Eles se limitavam pela baixa qualidade de produção tecnológica e a escassa interação social, impedindo a expansão da aprendizagem e de novos horizontes cujas descobertas normalmente estimulam o desenvolvimento.
Cabe, pois, a nossa mais profunda reflexão, pois os louros e glórias transportados através das sucessivas superações (algumas mais ágeis, outras...) assinadas nos genes da continuidade, contrastam às vagarosas passadas dadas atualmente e ao potencial disponível. Será que nos acomodamos? Por ventura nos sentimos bem superiores a tudo o que observamos ao nosso redor e assim colocamos o burro na sombra? Será que não é o momento de acordar com uma chacoalhada reflexiva e perceber que há muito (é indizível o tanto!) à frente? Se o passado permitiu o despertar da inteligência evolutiva, o presente também pode fazê-lo, não? E o futuro, o que esperar dele? Não chegamos ao cume da montanha, estamos na sua base. Será que a cegueira produzida pelo autoengano impede o acesso a novos e maiores saltos na jornada que muito promete se houver empenho?

Armando Correa de Siqueira Neto. (selfcursos@uol.com.br)

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Um comentário:

  1. Na minha opinião, o que motiva a evolução é a curiosidade do ser humano e as mais diversas barreiras que são impostas pelo meio.

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