segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A revolução das mentalidades


Notícias corriqueiras levam a pensar. Matéria veiculada num jornal, semana passada, diz que certo cidadão ao passar num concurso declarou: “estou feliz por poder ajudar, de agora em diante, nas despesas de casa. Há anos que minha mulher garante, sozinha, os gastos da família inteira.” Bons tempos, há milênios, quando homens e mulheres levavam juntos esta empreitada. Responsabilidade comum, solidariedade e partilha justa. Ambos há dois milhões de anos, aproximadamente, vivenciaram a divisão do poder. Governavam juntos. Coletavam frutos e caçavam animais miúdos.
No período do seixo rolado havia a lei da solidariedade e da partilha. Matar um membro da própria ou de outra tribo era ameaça à vida de todos. Não havia guerra. O poder era um serviço. Havia rodízio no comando. Não havia individualismo. O homem desconhecia o seu papel na procriação. Pensava que as mulheres pariam, fecundadas pelos deuses. Vigorava o matriarcado.
Há quatrocentos mil anos surgiram as sociedades de caça. Neste cenário a força física vale mais do que a procriação. O homem começa a ter primazia sobre as mulheres. Surgem guerras por mais territórios e mais alimento. A escassez era uma ameaça. O guerreiro mais apto era o chefe do grupo. A mulher, por possuir um calendário no seu próprio corpo sempre foi mais ligada aos ciclos da natureza. Descobriu a agricultura. Iniciou-se como horticultora.
O homem, com mais tempo para o ócio, desenvolve a tecnologia, através da fundição dos metais. Passou a fabricar instrumentos que serviam para o manejo da terra e para impor-se demarcando território. A eficiência levou-os a deixarem de ser nômades. O excedente dos cultivos agrícolas passou a ser trocado, inaugurando o mercado entre os povos de então. Estava estabelecida a atividade econômica como rota para o progresso e a dominância. Mais posses, mais bens... Mais tarde mais moedas. Mais dinheiro, mais poder, mais guerras tornaram-se rotina.
A lei da competição e da agressão ganha terreno. A conquista pela violência e morte toma conta. Nasce o individualismo.
De oito mil anos para cá, instituições autoritárias, desiguais e excludentes fazem história. Estabeleceu-se a sociedade escravista e com ela o patriarcado. Leis e costumes feitos por homens e para os homens. Às mulheres o zelo da casa e a criação dos filhos. Mais prole, mais força de trabalho barata, mais contingente para as batalhas. Mulher domínio privado. Homem domínio público. A mulher assume uma submissão psicológica.
Só no fim do século XIX, com a invenção da máquina a vapor, o uso da força mecânica substituiu a força braçal. Através do século XX lutas e conquistas a duras penas. Em meio à queima de sutiãs, expressão de teima e rebeldia busca a mulher equiparar-se às vantagens masculinas no campo social, profissional e familiar. A dama de cama, fogão e mesa busca espaço profissional. Submete-se a salários femininos (percentualmente sempre menores que os masculinos). E de repente, uma declaração como esta que citamos no início destas reflexões. Sinal dos tempos? A história se repete? De novo a escassez? Tecnologia em alta. Poluição galopante. Desertificação de terras aráveis. Estamos frente à mais importante relíquia do passado. A maior conquista do século XX: a revolução das mentalidades.

Elzi Nascimento e Elzita Melo Quinta. iopta@iopta.com.br.

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