terça-feira, 3 de agosto de 2010

Você já pensou em comprar a felicidade?


Recentemente tive oportunidade de ler no “London Review of Books” uma interessante matéria de autoria do escritor Andrew O’Hagan, sobre a problemática da felicidade e, por extensão, da depressão; imagina ele que as pessoas devem ter um local no organismo (provavelmente localizado no cérebro) de onde controlam o seu termostato de felicidade.
Portanto, por este ponto de vista, não adianta colocar a culpa da sua depressão na ex-esposa, no filho que está com más notas na escola, na momentânea falta de dinheiro ou no acúmulo de gordura no seu abdome; eventos causadores de estados depressivos vêm e vão, porém, sua capacidade de estar feliz, ou não, é estacionária.
A indústria farmacêutica tem lançado, com um apetite cada vez mais avassalador, uma gama enorme de drogas capazes de agir na esfera da depressão, porém, isto não é boa notícia para certa indústria de livros e, principalmente, para os autores de textos indicados para combater esta dificuldade; imaginam, estes autores, que estes sentimentos depressivos podem ser eliminados pela leitura de um adequado livro de autoajuda e as prateleiras de livrarias estão abarrotadas de livros para este propósito, normalmente com longos e autoexplicativos títulos nas suas capas.
Não sei como as populações de alguns séculos passados faziam para se manifestar sobre esta mesma preocupação, que, na verdade, é uma ambição para viver uma vida feliz; penso que a partir dos estudos de Freud, no final do século XIX e início do XX, a população passou a procurar uma “muleta” para se escorar e conseguir ajuda para enfrentar estas dificuldades, que vêm e vão e, cuja base de localização deveria, segundo ele, estar situada, primordialmente, no subconsciente.
A procura de solução para o problema existencial por intermédio de livros de autoajuda surgiu, ou se intensificou, na ultima década do século passado; de lá para cá, vem tomando proporções gigantescas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada ano nos Estados Unidos, cerca de 33.000 pessoas cometem suicídio, 400.000 tentam o suicídio, 17 milhões de americanos sofrem de depressão, 27 milhões são dependentes de álcool ou drogas, 60 milhões sofrem de algum distúrbio mental e 11 bilhões de dólares são gastos, anualmente, somente com a compra de livros de autoajuda, CDs, seminários, cursos, palestras, etc.
Estes dados nos sugerem que estamos convivendo, atualmente, com uma profunda tristeza nas nossas vidas; uma grande parte da população está sem direção, esqueceu como fazer para se manter de pé na superfície da vida; o projeto de vida que foi traçado não está sendo executado, incluindo ai, para nosso maior mal-estar, também a juventude.
Temos que convir que onze bilhões de dólares não seja uma cifra desprezível, porém, podemos até entendê-la ao depararmos, como recentemente ocorreu comigo, ao percorrer uma livraria no aeroporto de Londres onde chamava a atenção a abundância de oferta de livros de autoajuda, principalmente uma enorme gôndola com livros de autores interessados em manter o leitor distante da obesidade.
Tomei nota de alguns títulos – Agora coma isto; As regras para comer; O que esperar quando você está na expectativa (?); A cura do abdome gorduroso, e assim por diante; ao folhear um deles tive alguma surpresa com respeito aos conselhos do “especialista de plantão” em dietas; confesso que fiquei confuso com algumas orientações do tipo: “Não coma nada com exceção de carne assada e legumes, porém, dose a ingestão de refrigerantes, que será contrabalançada pelo teor de gordura do beef e o seu tempero (evite os açucarados) e a qualidade dos legumes”. Deu para entender?
Nesta mesma livraria vi um anúncio de um projeto de nome muito interessante e chamativo “Seja feliz! Desperte o poder de felicidade que existe em você”; tomei nota do seu endereço eletrônico e aqui em casa resolvi consultá-lo; passo aos meus leitores algumas informações sobre o mesmo.
O projeto é composto de um livro, um curso “on line” com duração de oito semanas e quatro CDs com as conferências do Dr. Robert Holden (um rapaz bonito, sorriso aberto com maravilhosos dentes, cabelos repartidos de lado, sem gravata, irradiando felicidade com o olhar).
O seu currículo, que é transcrito na integra, traz informações sobre suas participações no programa da Oprha Winfrey (O quanto você é feliz?) e na BBC de Londres (Como ser feliz!); ah! Ia me esquecendo, o programa do curso inclui alguns temas bastante interessantes: “Você está feliz?; Seu relacionamento está aumentando?; Você ama seu trabalho?; Você gostaria de ser feliz? Seja feliz Agora!!”.
Para completar a informação, o site esclarece que este treinamento de felicidade, não somente mudará a maneira de você se sentir, e principalmente, mudará a maneira de funcionar seu cérebro.
Estão curiosos e querem saber quanto custa esta nova maneira de encontrar a felicidade? Não é muito cara, menos de 500 libras esterlinas, para ser exato, 499 libras; o endereço do site? Ei-lo, sem meu compromisso com possíveis desilusões: www.behappy.net

Hélio Moreira. drhmoreira@gmail.com

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