

Ninguém consegue disfarçar o desconforto com a fumaceira no ar que estamos observando já há aproximadamente duas semanas. Tivemos uma semana típica de primavera, com temperaturas mais elevadas durante o dia e baixas a noite, sem exagero. Mas faltou aquele céu azul característico da primavera.
Sei que não conforta, mas essa fumaceira no ar se estende desde o Brasil Central ao Sul. Nessas duas semanas estive viajando ao Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, e a situação é a mesma. Mesmo não sendo um fenômeno novo, não é tão freqüente entre nós esse acúmulo de fumaça, provocado por queimadas no Centro do Brasil. E, também a colaboração das queimadas anuais pós-geadas, tradicionalmente, realizadas também nos campos do Rio Grande do Sul.
O fogo é descrito na história da civilização como uma das maiores descobertas do homem, há aproximadamente dez mil anos. Ao atritar pedras surgiam faíscas que rapidamente se transformavam em chamas. O fogo provoca a combustão da matéria orgânica, em presença de oxigênio, produzindo o gás carbônico e água. A reação é exotérmica, havendo a liberação de grandes quantidades de calor. Daí seu uso na era da industrialização para geração de calor nas máquinas térmicas, bem como nos trens “Maria-fumaça”.
Esse fogo servia para o aquecimento das pessoas, iluminação à noite e para espantar os animais. Mais tarde, o fogo passou a ser o principal mecanismo de dominação da natureza. Era feita a derrubadas das matas e depois o fogo, de forma rápida, destruía tudo, deixando a área pronta para o cultivo. O fogo era tão importante, que parece que se incorporou como um “gene” no corpo humano. Um maldito “gene”.
Nesses últimos séculos, muitas tecnologias foram desenvolvidas para dominação da natureza sem o uso do fogo. O “homem-moderno”, que usa celular, computador, carro de último geração tecnológica, vai ao campo e coloca fogo nas pastagens. Exatamente, como fazia os primitivos, que não tinham outra alternativa para dominar a natureza e produzir seu alimento.
No Centro do Brasil, as pastagens nativas são crestadas pela estiagem que ocorre todos os anos, de abril- maio a setembro-outubro. No Sul do Brasil as pastagens nativas são crestadas pelas geadas. Desenvolveu-se a cultura de que após o inverno, deve-se queimar essas pastagens para acelerar o rebrote das pastagens. E fato, poucos dias após a queimada os campos ficam verdes e logo haverá forragem para os animais. Grandes quantidades de fumaça é produzida, liberando gás carbônico no ar e reduzindo o oxigênio. De outro lado, muitos nutrientes são sublimados, provocando o empobrecimento dos solos. O resultado é o gradual desaparecimento de espécies forrageiras de alto valor nutritivo e a sobrevivência de espécies rústicas, que não produzem forragem, em quantidade e qualidade, para os animais.
Também estamos em plena época de colheita da cana-de-açúcar no Centro do Brasil. Infelizmente, a maior parte da cana ainda é queimada e depois cortada manualmente. Isso representa o emprego para milhares de trabalhadores. Existem máquinas de colheita de cana, mais econômica, sem a necessidade da queimada. Há Leis que proíbem a queima da cana. A entrada em vigor é prorrogada por pressão de sindicalistas, para não desempregar. Esse ato político, também a expressão do “gene primitivo da piromania”.
O “gene da piromania” também se expressa quando nas casas aqui em Passo Fundo são realizadas queimadas, quase diárias, de lixo, folhas e outros materiais.
Em relação às pastagens, há inúmeras técnicas de manejo, de forma sustentável, sem o uso do fogo. É mais trabalhoso e não é tão rápido como o fogo. Apesar disso, e considerando todo o apelo pela redução da emissão de gás carbônico, a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou uma Lei, permitindo as queimadas dos campos gaúchos no inverno. Com parecer de técnicos, pasmem! É a legalização da “piromania”.
Não surpreende legislar pelo atraso, quando a mesma Assembléia Legislativa já fez Lei para Churrasco (que ninguém segue) e a democracia nas escolas: as criancinhas recém chegadas, no ensino fundamental, também devem votar para escolher o diretor da escola. Essas crianças, certamente iluminadas, sabem melhor que os professores, escolher entre seus pares, aquele que tem as melhores condições de administrar uma escola, com competência e postura ética.
E, fumar também não seria a expressão do “gene da piromania”?
por Elmar Luiz Floss em ONacional.
Um belo texto que merece sua opinião.Participe!!!
William,
ResponderExcluirMais uma brilhante postagem.
A piromania virou "mania nacional", e nós estamos sofrendo as conseqüências disso.
Tantas coisas deveriam ser mudadas, modificadas, mas ninguém se empenha em fazer algo para que isto aconteça.
Vamos levando...
Parabéns pela postagem.
Bjs.
A Piromania e bastante grave, uma doença imprevisivel e e muito difil descobrir quem é piromaniaco.
ResponderExcluirVejam tb o meu post sobre piromania:
http://thescienceworld.blogspot.com/2010/11/especial-mentes-em-chamas-o-que-vai-na.html