Os conceitos e conhecimentos sobre tabaco e
tabagismo, há mais de três décadas, saíram das cinzas da omissão proposital e
das escassas informações científicas até então geradas, vindo a mudar
completamente a atitude de quem realmente cuida da saúde. No entanto, grande
parte da sociedade ainda permanece à mercê da falta ou manipulação da
informação, do fazer sempre igual e não mudar, ou mesmo de um comportamento de
dependência, no caso dos fumantes. Não cabe mais a arcaica concepção de ser o
tabagismo um hábito, um charme social, uma forma de ter companhia em situações
de solidão, ou mesmo uma opção para enfrentamento das lides diárias. Isto o
tabagismo não é!
Deveriam os governos ter tomado enérgica atitude
quando se descobriu que a fumaça de cigarros contém mais de 4.700 substâncias
químicas, sendo 200 tóxicas e prejudiciais para a saúde, e 50 delas com forte
efeito cancerígeno, uma vez que o risco ficou mais do que evidente. Tornou-se
injustificável manter no mercado um produto que causa mais de cinquenta doenças
graves, principalmente as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) –
cardiovasculares (infarto), cerebrovasculares (derrame), câncer (principalmente
do pulmão) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC ou enfisema-bronquite
crônica), sendo estas DCNT responsáveis por mais de 60% da mortalidade humana.
E o problema é tão mais grave quando se sabe que fumar leva a uma forte
dependência química e psicológica que torna difícil a recuperação da liberdade
perdida pelo fumante.
E as descobertas não pararam por aí, pois
verificou-se que o tabagismo passivo, isto é, a inalação de fumaça ambiental do
tabaco, pode ser tão danoso quanto o praticado pelos fumantes, pois as
substâncias químicas inaladas são as mesmas. Crianças têm mais infecções
respiratórias, asma, otite média, morte súbita do recém-nascido, e adultos têm
aumento de câncer de pulmão, DPOC (enfisema), infarto do miocárdio, entre
outros. Por isto é que se proíbe fumar em ambientes fechados.
A partir dos anos 80, muitas medidas de controle do
tabagismo foram implantadas e, sem dúvida, já se observam resultados
favoráveis, pois hoje, no Brasil, existem mais ex-fumantes (26 milhões) do que
fumantes (24 milhões), e a percentagem de adultos fumantes que era 34% (1989),
atualmente caiu para 15%. Mas, ainda estamos longe do controle necessário para
evitar tantas mortes e sofrimento. Então, o que falta? Falta mais vontade
política e independência decisória do parlamento para regulamentar a Lei
Antifumo (12.546/2011) e não se deixar levar pelas mazelas da indústria do
tabaco. Falta um melhor referencial de informações técnicas para subsídio do
judiciário para suas tomadas de decisões, por exemplo, quando das demandas
indenizatórias por danos causados pelo tabaco. No Brasil, apenas um setor
empresarial jamais pagou nada por danos ao cidadão causados pelo seu produto,
que sabidamente é o mais lesivo para a saúde e a vida humana: o do tabaco. Isto
indica que alguma coisa de muito errada aí existe! Para colaborar mais e
cumprir sua missão, dentro da área da saúde e da sua inserção social, a AMB
(Associação Médica Brasileira) está lançando o documento “Evidências
Científicas sobre Tabagismo para Subsídio ao Poder Judiciário”, que visa a
proporcionar uma fonte de dados de referência com base na literatura científica.
Nosso único objetivo é que cada setor revise,
atualize e melhore suas informações e que isto resulte numa melhor atuação
visando apenas o bem comum, a saúde e a vida!
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