sexta-feira, 29 de abril de 2011

Você é politicamente correto?



Ao escrever esse texto, havia terminado a leitura de um livro do Içami Tiba: Juventude e Drogas: Anjos Caídos. Então, o associei a diversos casos que envolvem profundos sofrimentos e perdas e, em muitos deles, posicionar-se, pontuando o contexto, dialogando com os filhos, sem preconceito, sem temer expor seus conceitos pessoais, sabendo que isso pode salvá-los de algum ato que comprometa suas integridades físicas e mentais.

Certa vez, uma criança me disse: “Como vou descobrir sozinho o que pode ser bom? Preciso de ajuda, tenho sofrido muito para descobrir tudo sozinho. Eu não sei como fazer.” Isso me balançou tanto, a ponto de ficar umas noites em claro, mas nada poderia me aproximar daquilo que essa criança estava passando, afinal, em plena infância, ela estava acometida por um elevado nível de estresse, tendo seu sistema imunológico rebaixado e apresentando alergias, resfriados e bronquites contínuas e a depressão, sinalizando uma possível apresentação.

Os pais diziam estar envoltos em seus trabalhos e acreditavam que a escola e o contexto em interagir com os colegas, seriam, em grande parte, necessários para a formação da personalidade do filho. Mas, então, o que adianta ser tão bem sucedido nos negócios, atingir metas, considerar-se politicamente correto, além de outras dessas besteiras que hoje se tornaram padrões para corretos infelizes?

Nada está tão politicamente correto que nos remeta a omissão, permitindo que o amanhã, sob a desculpa da ética, transforme nossas próximas gerações na pior parte de nosso silêncio. Assim, tenho acompanhado o sofrimento de pais e filhos que engolem a angústia e negam o que necessitam dizer uns aos outros, justamente pelo receio em não serem compreendidos e, consequentemente, excluídos.

Mas, que sociedade é essa que tanto exige, sem nada a oferecer, tornando-se o inverso do discurso que apregoa, envolta nos juízos de valores que hoje são sentenças veladas, a espera do primeiro pedido de desculpas, para então, seguir o espetáculo do escárnio, impondo a necessidade do perdão, como num rito de suplício, onde, exigem que gritemos por Deus, para em seguida, obtermos compaixão de homens, transformando nossas mentes num verdadeiro campo de batalhas, onde há um só gladiador, uma só vítima, que somos nós mesmos. Entretanto, se assim nos abandonamos, aceitando os modelos e padrões que são colocados como posturas éticas e politicamente corretas, “goela abaixo”, renunciamos a melhor parte de nossa história, sendo essa, a existência que temos a construir e vivenciar intensamente.

Afinal, o que é ser politicamente correto? É, por acaso, não poder discutir posturas que não são adequadas para a nossa vida? É estabelecer minha orientação sexual, baseando-me nas tendências do momento para não ser taxado de reacionário, careta, ou mesmo, preconceituoso?

É abrir as portas da minha casa e dizer, venham, transem a vontade e, quando terminarem, limpem o tapete? É assistir ao Big Brother e ser obrigado a compactuar com o que ali é vomitado em nossas casas? É “liberar geral”, porque a bebedeira rebaixou a instância psíquica que estabelece parâmetros de autopreservação? É aceitar Jesus, falar em amor e me esconder por detrás do evangelho, açoitando aos que não compartilham do que penso? Então, com muita satisfação, sou politicamente incorreto.


Por Marcus Antonio Britto de Fleury Junior.

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