sábado, 2 de abril de 2011

O poder e seus perigos



Em se tratando do poder pessoal e o poder institucional, há um grande perigo quando ocorre a confusão entre os dois. Na vida da sociedade e do Estado, terão que conviver, sem se confundir, essas duas modalidades de poder, já que o poder pessoal é inerente à pessoa, é a capacidade de opção individual, que é própria do ser humano dotado de razão. Esse poder, que Rousseau chamou de soberania individual, inalienável, viverá no indivíduo, para objetivos seus, particulares.
Constituído o Estado, surge o poder institucional, entendido como a força que a própria pessoa exerce, não por inerência pessoal e sim em virtude do cargo ou posição que ocupa na instituição chamada Estado. Esse poder, funcional, não é para objetivos pessoais e sim para a obtenção de fins públicos, não disponíveis ao livre-arbítrio do agente.

Todas as atitudes que fugirem disso são consideradas desvios de conduta, maiores ou menores, criminosos ou vexatórios, que nos entristecem e nos fazem pensar na falta de preparo, de consciência ou de controle de muitos homens públicos. Esses “servidores” não conhecem nem a teoria nem a prática (ou delas se “esquecem”) da distinção entre o poder pessoal (pelo qual o indivíduo deve pagar por seus atos) e o poder institucional (cujo uso indevido faz padecer o Estado, quer seja o nacional ou o regional).

Infelizmente, temos verificado tais práticas com muita frequência no Brasil e nos Estados da Federação, o que é lamentável, condenável, mas crescente (normalmente por má-fé), existindo a confusão dos dois conceitos por quem nunca deveria, nem poderia, fazê-lo, pois o art. 37 da Constituição Brasileira determina que a administração pública seja feita com moralidade e impessoalidade.

Um dos mais importantes juristas do século XX, o austro-americano Hans Kelsen advertia que “o verdadeiro sentido do poder estatal não é o de que um homem está submetido a outro homem, mas, sim, o de que todos os homens (governantes e governados) estão subordinados às normas.”

No entanto, não há limites morais para alguns dirigentes, ou pseudos “graduados”, que recebem poder delegado da autoridade máxima e, que de forma maquiavélica criam os seus próprios métodos, diferindo da sua orientação e direção com o objetivo de alimentar suas panelas pessoais, tudo pela mais valia na área pública. São capazes de tudo para manterem seu poder.

De fato, isso leva a sociedade a correr grandes perigos, pois passa a estar nas mãos de um grupo com práticas que em nada diferem de apenas mais uma confraria que defende interesses comuns, que acredita que os fins justificam os meios. E, pior, está disposta a pagar qualquer preço para não ter de conviver com outras pessoas que consideram competidores no seu espaço de poder, eis que a oferta de meios passou a ser muito maior que a sua possibilidade de utilização.

Aí, e por isso mesmo, esses pseudos “graduados” passam a trabalhar – normalmente sem conhecimento do seu chefe – para que os demais membros da organização (que pode ser um governo, associações de moradores de bairros, clubes, etc.) sobre a qual têm influência se tornem submissos. Neste caso, essas pessoas passam a ter e exercer poderes descabidos, perigosos até, na maioria das vezes colocando toda uma gestão em situação que tende ao desastre, com o tempo.

O chefe de uma organização, ou mesmo de um governo, não pode, sob qualquer forma, permitir que em sua administração seja incrustado esse tipo de mau caráter na figura de uma mulher ou homem de mãos cheias de calos de tanto puxar as tetas do poder dado a quem democraticamente fora escolhido pelo povo e, que às vezes, é levado a algumas decisões distorcidas, frutos da criação dos seus “comandados”.

O verdadeiro líder é aquele que procura monitorar e avaliar de forma imparcial e, dá a sua palavra final, a palavra que define uma decisão, que tem personalidade, o estágio mais antigo do exercício do poder. Espero contribuir para a transformação da sociedade, que seja apenas “um” ao ler os meus artigos dominicais, com isto, não deixar aqui mais uma reflexão de travesseiro na seguinte frase: “Se o egoísta contemplasse a solidão infernal que o aguarda, nunca se apartaria da prática infatigável da fraternidade e à harmonia.”


Antonio Alencar Filho.

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