sábado, 23 de abril de 2011

Capitalismo selvagem...



O capitalismo é tão cruel e selvagem quanto qualquer outro sistema orgânico. O capitalismo faz o cara que tem um carrão se achar superior ao cara que está dentro de um ônibus. Faz o cara do ônibus se achar inferior ao cara do carrão. E claro, convence a sociedade inteira disso.

O capitalismo sugere uma pergunta curiosa: como um animal mortal, do mesmo tamanho que você, pode exercer uma influência muito mais abrangente que a sua numa mesma sociedade? O que faz dois corpos do mesmo tamanho físico vibrarem de modo tão desigual num mesmo habitat?

O capitalismo tem um certo ritmo, uma dinâmica própria. Ele aniquila automaticamente quem o ignora. Ele só pode premiar quem joga no time dele, mas nem todos que jogam com ele são premiados. Podemos dizer que a natureza é o sistema animal. E que o capitalismo é o sistema humano. Ambos os sistemas são predatórios, arriscados e sem garantias.

Ambos são anárquicos e despudorados em sua essência. Em ambos, só os caciques experientes colocam o ouvido no chão e preveem o próximo tsunami ou a próxima bolha financeira.

O capitalismo obriga as marcas a criarem auras mágicas em torno dos produtos. Quanto mais rica for a marca que você usa, maior é a sua proteção mística. O capitalismo cria um mundo tão encantado quanto o mundo de Alice. Os olhos das crianças vendo um pirulito brilham na mesma intensidade que os olhos dos homens vendo uma barra de ouro. O capitalismo resgata a emoção que o adulto perdeu na infância.

Ressuscita a criança que mora dentro dele e faz isso muito bem com quadriciclos motorizados, mamadeiras alcoólicas, pozinhos mágicos e toda aquela nuvem mágica que existe ao redor dos logotipos de grife. A ostentação de poder é o bullying dos adultos.

O capitalismo é a forma que o homem encontrou para perpetuar sua infantilidade. O modo que o adulto achou de regar a secura de sua alma. A única saída para frear o excesso de razão que o apodrece a cada segundo.

O capitalismo é o sistema que melhor se adapta a essa creche global que se auto-ajusta entre birras egocêntricas e chantagens atômicas. Somos filhos de uma terra sem pai, à deriva no mar negro do Espaço.

Imploramos por uma ilusão que nos convença de que o mundo não é só um pedaço de poeira no meio do nada. Pagamos quanto for pra escapar desse deserto existencial sem fim. A sociedade do consumo desvairado é uma consequência inevitável do desespero humano. Fazemos qualquer negócio por um pouquinho de emoção.


Por Felipe Ret. eufilipefaria@hotmail.com

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