Minha primeira vez

Lá se foi o primeiro mês do ano. Calores e sabores de um verão marcado pela labuta diária e, muitas vezes, sem horários estabelecidos conforme os ditames sociais.


Compromissos importantes, agenda atribulada e enxurradas de informações em todos os meios.



E tudo isto me faz lembrar que 2010 é ano de eleições. Daí me vem na cabeça memórias nem tão longínquas: a minha primeira ida às urnas. Foi ótimo chegar com meu Título de Eleitor e perder a virgindade em algo que meus pais desconheceram quando tinham a mesma idade que eu.
Só que quando penso nisto me vem um branco sem tamanho, pois não faço a mínima ideia em quem eu votei naquela época. Lembro, claro, que eram eleições municipais, mas em quem foi que eu votei? Bem, não sei.
E isso me deixa um pouco desequilibrado.



O motivo de tal distúrbio é que sempre pensei que tive minhas ideologias muito bem fundamentadas. Nunca fui partidário de nada, mas priorizava saber quem era aquele candidato, qual sua história de vida e o que me levou a querer marcar o quadradinho dele na cédula, para que aquela pessoa fosse minha representação na esfera das decisões políticas de minha cidade, estado e país... Blá, blá, blá!



Hoje vejo que fui um completo alienado! Desde que exerci meu papel como cidadão, já passei por eleições federais, estaduais e municipais, mas não me lembro quem era quem e nem quando que cada um foi eleito. Isso me deixa confuso justamente porque sou de uma geração que viu a abertura política no Brasil depois de um período árduo de Ditadura Militar. Nas Diretas Já do Ulisses, eu tinha apenas três anos. Lembro quando o Tancredo Neves morreu. Lembro do movimento Caras Pitadas nas ruas das metrópoles deste país e de ir vestido de preto no colégio para tentar expressar meu ódio para com as falcatruas feitas pelo Collor e sua trupe, mas não lembro em quem votei pela primeira vez. Que consciente de araque sou eu...



Certo, sou um analfabeto funcional da política! Mas e agora? Essa gurizada nova que vê pela frente sua primeira possibilidade de votar; que olha para os candidatos e pensa que pode mudar o mundo com apenas um clique da urna eletrônica. Será que eles estão seguindo o mesmo caminho roto que segui? Infelizmente penso que sim. Pelo que vejo, ninguém mais quer saber de política. Esse pessoal do século 21 já está mais para a internet e festinhas do que para a política. E fico triste.
Minha tristeza é espelho do meu descrédito nos políticos e em mim, pois reclamava e nada fazia para mudar. Olhava as coisas acontecendo e não desprendia uma gota de suor ou de fosfato para tentar fazer meu papel de questionador. Não fazia a diferença. E espero que isto mude, pois eu mudei. Me arrependi de algo que fiz e tive que correr atrás da máquina para não ser atropelado.



Portanto, neste outubro próximo, vocês que são o futuro do país, façam algo certo na hora de votar. Se informem, critiquem e cobrem muito destes que vão nos representar publicamente. Façam o certo e não caiam no mesmo erro que cometi quando na minha primeira vez. Vejam a política não como um câncer que tenha que ser exterminado, mas que precisa ser tratado para não criar metástases.

Daniel Bittencourt.


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