domingo, 7 de fevereiro de 2010

Imunes à dor



A dor, todos sabemos, é um sinal de alerta recebido pelo cérebro, nos dizendo que algo vai mal em nosso organismo.

A homeostase orgânica foi quebrada.

Certa tarde, em certo dia, os pais de “Lúcio” deparam com o bebê de 7 meses em uma cena dantesca: o bebê, já com os dentes de leite, havia dilacerado a própria língua de tanto mordê-la, sem sentir dor, e quase morre engasgado com o próprio sangue.

Lúcio é portador de uma síndrome rara: a insensibilidade total à dor, uma condição que afeta 300 pessoas no mundo. Estes seres humanos quase super-homens não sentem dores, podem dar uma topada com o dedão, cair de bicicleta, tratar dos dentes sem anestesia e nunca sentir dor.

A vida sem dor
Olhos feridos, não pode fazer prova.
Banho gelado
Eu não sinto frio, se não tomar banho gelado, fico com febre.
Almoço forçado
Quase nunca sinto fome. Já emagreci cinco quilos.
Sangue misterioso

O sangue saía da cabeça, o pai assustou-se, mas, ao verificar, o sangue fluía do pavilhão auricular, sem dor.

Houve uma criança que os pais resolveram arrancar todos os dentes de leite, pois ela canibalizava os dedos a ponto de decepá-los.

Consultaram o neurocirurgião sueco Jan Minde, o maior especialista atual em insensibilidade à dor.

Ele enviou por carta um teste a ser feito com o pai e o filho. Foi feito.

Andrea Portno, uma das autoras do trabalho, é professora da Faculdade de Medicina da USP.

Como se sabe, não sentir dor é perigoso. Entre os que têm este “poder”, um caso é pior que outro.

O que aconteceu no organismo dessas pessoas?

O corpo insensível
Até a década de 1970, pensava-se que o problema era o excesso de produção de um hormônio, a endorfina, que é relaxante natural, que, em grande quantidade, doparia o organismo. Explicação não convincente, pois, se assim fosse, bastaria usarmos a naloxona, substância que bloqueia a endorfina e outros anestésicos, como heroína-morfina.

Estudos aprofundados chegaram à conclusão de que a insensibilidade a dor é genética.

Devido a mutações num gene que afeta o NAV 1.7 – uma espécie de canal eletroquímico que liga os nervos periféricos ao sistema nervoso central (cérebro).

O gene em questão com mutações deixa esse canal de comunicação sem funcionar, e o sinal de dor não chega ao cérebro.

Estudando esta síndrome trará grandes benefícios às pessoas normais.

“É um passo para a evolução dos medicamentos analgésicos”, explica Geoffrey Woods, geneticista do instituto de pesquisas médicas da Universidade de Cambridge.

Faço isto para informar ao leigo e ao médico não especialista dessa patologia médica, pois muitos destes pacientes estão fazendo espetáculos em circos, por vezes nem falam.

Como o filósofo grego Aristóteles diria 5.500 anos depois, “é impossível aprender sem dor”.

Nabyh Salum

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