quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Mitomania. Você sabe o que é?

entrevista – Psicóloga Sarah Cassimiro.
“Na mentira compulsiva, tal comportamento está fora do esperado”

Especialista afirma que os dependentes da mentira sabem que estão a mentir, mas não conseguem se controlar.

Às vezes, usada para o bem e às vezes para o mal, a mentira já fez parte da vida das pessoas pelo menos uma vez. Existe uma frase muito conhecida que afirma que quando uma pessoa diz que não mente, ela já está mentindo. Mas existem pessoas que mentem em excesso, portadoras de um transtorno chamado mitomania ou mentira obsessiva-compulsiva.  Em entrevista ao jornal Diário da Manhã, a psicóloga Sarah Cassimiro Marques, especialista em Neuropsicologia e mestre em Neurociências do Comportamento, explica o que é a mitomania, quais os sintomas e como é o tratamento.
Diário da Manhã – Qual a diferença entre o mentiroso comum e um que é doente?
Sarah Cassimiro – A mitomania ou mentira compulsiva é uma tendência patológica pela mentira. Isso significa que o comportamento de mentir se encontra fora da normalidade, visto que todo ser humano mente. Há vários critérios de normalidade, mas os utilizados pela Psicopatologia (estudo das patologias) é o critério de normalidade disfuncional e normalidade como um processo. No primeiro, o fenômeno é considerado patológico a partir do momento em que produz sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. No segundo critério são considerados aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários do indivíduo que possam explicar tal comportamento. Por exemplo, é esperado que uma criança de até 6 ou 7 anos de idade minta, pois a distinção de verdade e mentira até no máximo 8 anos ainda é tênue. A criança, até esse faixa etária, costuma confundir realidade com seu mundo imaginário. Portanto, a diferença de um mentiroso comum e um doente é que na mentira compulsiva tal comportamento está fora do esperado para idade e escolaridade da pessoa e o indivíduo não consegue sozinho interromper esse processo, mesmo que ele continue acarretando prejuízos para o indivíduo, interferindo no julgamento racional, no relacionamento familiar e especialmente social.
 DM – O que é a mitomania?
Sarah Cassimiro – A mitomania ou mentira compulsiva é uma tendência patológica pela mentira. Essa entidade nosográfica foi proposta por Dupré em 1905, que a definia como a tendência patológica mais ou menos voluntária e consciente da mentira e da criação de fábulas imaginárias.
DM – A pessoa sabe que está mentindo de forma doentia?
Sarah Cassimiro – Os mitômanos têm consciência que estão mentindo, porém são  anosognósticos, ou seja, não possuem consciência de que tal comportamento faz parte de uma patologia e que precisa ser tratado. A tendência à mentira torna-se perseverante.
 DM – O que causa a mitomania?
Sarah Cassimiro – O comportamento anormal não surge repentinamente, nós aprendemos a ser doentes: resultado da interação de influências comportamentais, biológicas, emocionais, sociais e de desenvolvimento. É um processo complexo e fascinante na qual podemos identificar fatores predisponentes (tornam o indivíduo mais vulnerável a patologia, por exemplo, histórico familiar de transtornos mentais), desencadeantes (marcos ambientais e biológicos que suscitam o comportamento, como lesões cerebrais ou traumas psicológicos) e agravantes (acentuam o comportamento, como uso de drogas).
 DM – Quais os sintomas dessa doença?
Sarah Cassimiro – Declarações repetidas de inverdades; mentiras verificadas ao longo de anos, podendo se tornar parte do estilo de vida; mentiras como um fim em si mesmas, ou seja, motivações externas, como vantagens sociais ou recompensas materiais não parecem ser os motivadores primários para o comportamento; mentiras aparecem frequentemente na forma de narrativas complexa; tentativas falhas no controle de tal comportamento; prejuízos sociais advindos do comportamento de mentir; negação da existência de patologia. Os dependentes da mentira sabem que estão a mentir mas não se conseguem controlar, num processo que surge de uma forma muito semelhante ao do vício do jogo ou à dependência de álcool ou de drogas. Para o diagnóstico da mitomania, deve-se excluir a existência de algumas condições psiquiátricas que tradicionalmente são ligadas à mentira: Confabulação, Síndrome de Ganser, Transtorno Factício, Transtorno de Personalidade Borderline e Transtorno de Personalidade Antissocial. Além disso, é possível observar mentira nos Transtornos de Personalidade Narcisista e Histriônica.
 DM – A mitomania tem cura?
Sarah Cassimiro – O tratamento recomendado é a psicoterapia. Ela ajuda o indivíduo a identificar os fatores influenciadores no processo de instalação da doença e as crenças e esquemas disfuncionais subjacentes. Além disso, trabalha o desenvolvimento de novos repertórios, trabalhando a extinção deste comportamento disfuncional de mentir. Assim sendo, o paciente consegue uma reinserção saudável no ambiente social.
 DM – Familiares e amigos podem ajudar uma pessoa que está com esta doença? Se sim, como?
Sarah Cassimiro – Sim, primeiro ajudando a identificar a patologia, já que o individuo nega a existência dela, dificultando a adesão ao tratamento. Segundo, contribuindo no tratamento em si quando houver a solicitação do psicoterapeuta.
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Um comentário:

  1. Parabéns pela página! Andréa - D.R.A. Busologia - http://drabusologia.site.com.br/.

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