Projetar
um veículo supersônico, ajudar um deficiente visual a enxergar ou fazer
história na exploração espacial. O que podemos aprender com as mentes
brilhantes por trás desses feitos?
Lição Nº 1: Novos desafios requerem novas maneiras
de pensar
Parte carro, parte jato, parte nave espacial, o
Bloodhound SSC pretende ser o primeiro veículo terrestre a quebrar a barreira
das 1.000 milhas por hora (1.609 km/h). E um dos maiores desafios do projeto
foi criar as rodas. Como projetar as rodas mais rápidas do mundo, capazes de se
manterem estáveis e seguras a uma velocidade supersônica, e com recursos
financeiros limitados?
Após muita discussão e ideias que atingiam os
limites da tecnologia material, Mark Chapman, engenheiro-chefe do projeto
Bloodhound, conta que sua equipe decidiu dar um passo atrás e mudar a maneira
com que estavam tentando resolver os problemas. "Muito pouco do que
desenvolvemos é inteiramente novo", diz ele. "O que é inédito é a
maneira como aplicamos as tecnologias".
Eles adotaram uma abordagem chamada design de
experimentos – uma técnica matemática de resolver problemas realizando inúmeras
pequenas experiências e depois analisando todos os resultados conjuntamente.
"De repente - depois de batermos a cabeça na parede por dois, três, quatro
meses -, conseguimos chegar a um projeto para uma roda que seria suficientemente
resistente para o desafio supersônico", revela o cientista.
Lição Nº 2: Forme sua opinião a partir de provas
Assim como seus colegas, o geofísico Steven
Jacobsen, da Northwestern University, nos Estados Unidos, acreditava que a água
da Terra se originou em cometas. Mas ao estudar profundamente as rochas, que
permitem aos cientistas analisar a passagem do tempo, ele descobriu água dentro
da ringwoodita, um mineral encontrado no manto terrestre. Isso sugere que os
oceanos podem ter gradualmente surgido do interior do planeta há muitos e
muitos séculos.
"Tive uma enorme dificuldade em convencer meus
companheiros", admite o cientista. Ainda assim, duas evidências
fundamentais descobertas no ano passado parecem endossar seu ponto de vista.
Só o tempo dirá se essas novas teorias são
verdadeiras. E é possível que essa história ainda apresente viradas. "Mas
pensar que você pode ser a primeira pessoa a ter observado uma coisa pela
primeira vez é arrepiante", conta ele.
Lição Nº 3: O mote "99% de transpiração"
é verdadeiro
A neurocientista Sheila Nirenberg, da Cornell
University, em Nova York, está tentando desenvolver uma nova prótese para curar
a cegueira. Um elemento fundamental para seu projeto foi decifrar o código que
transmite informações dos olhos para o cérebro. "Quando me dei conta
disso, não conseguia comer, não conseguia dormir. Tudo o que eu queria era
trabalhar", revela Nirenberg.
"Às vezes, fico exausta e me desligo. Mas aí
recebo um e-mail de alguém que está no meio de uma crise ou que está sofrendo
de degeneração macular, gente que não consegue mais ver os rostos de seus
próprios filhos. E eu penso: 'Que direito eu tenho de reclamar?'. Isso me dá
energia para voltar ao laboratório e continuar trabalhando.
Lição Nº 4: A resposta nem sempre é o que se espera
A bióloga marinha e exploradora americana Sylvia
Earle passou décadas tentando enxergar o oceano com novos olhos. A máquina de
seus sonhos é um submarino que pudesse levar cientistas até o mais profundo
leito do mais profundo oceano.
Mas que tipo de material poderia aguentar melhor as
várias pressões encontradas a milhares de quilômetros sob a superfície do mar?
"Poderia ser aço, poderia ser titânio, poderia ser um tipo de cerâmica ou
quem sabe algum tipo de sistema de alumínio", diz Earle. "Mas o
melhor material é o vidro."
Segundo as estimativas da cientista, uma esfera de
vidro com 10 a 15 centímetros de espessura seria capaz de explorar com
segurança as profundezas marítimas que ela sonha em explorar.
"O vidro é o material mais antigo conhecido
pelo homem e um dos que nós menos compreendemos", explica Tony Lawson,
diretor de engenharia da Deep Ocean and Exploration Research Marine, uma das
empresas fundadas por Earle. "Ele tem uma estrutura molecular desordenada,
um pouco como a de um líquido, em vez da trama organizada encontrada em outros
sólidos. Por isso, quando o vidro é prensado por todos os lados, como ocorrerá
no fundo do oceano, as moléculas se espremem para ficarem mais próximas e
formam uma estrutura ainda mais rígida."
Lição Nº 5: Um pouco de sorte faz toda a diferença
Foi uma façanha comemorada como um dos maiores
sucessos da história da exploração espacial: 20 anos de planejamento atingiram
seu ápice quando a sonda Philae pousou sobre o Cometa 67P a 480 milhões de
quilômetros da Terra, em novembro de 2014.
Segundo Stephan Ulamec, diretor do programa Philae,
o maior desafio foi projetar uma sonda para aterrissar em um corpo celeste
cujas características os cientistas conheciam muito pouco. "Não tínhamos
ideia do tamanho, do ciclo de dia e noite nem da intensidade da gravidade do
cometa. Não sabíamos como era sua superfície nem a velocidade de impacto do
equipamento", revela.
A equipe precisou criar parâmetros de design que
pudessem fazer a sonda se adaptar à ampla gama de possíveis estruturas do
cometa. Mas os cientistas apostaram que o astro teria um formato de batata
relativamente nivelado, com superfícies planas que propiciariam a aterrissagem
da Philae.
Mesmo assim, nem tudo correu de acordo com os
planos, e as duas décadas de planejamento meticuloso quase foram jogadas no
lixo minutos depois do pouso. Os arpões de ancoragem da sonda não dispararam
como deveriam e ela ricocheteou antes de finalmente conseguir se estabelecer na
superfície gelada do cometa e enviar com sucesso os primeiros dados para seus
criadores, que respiraram aliviados.
Lição Nº 6: A genialidade é indefinível
"Essa palavra 'gênio' é engraçada", diz a
neurocientista Sheila Nirenberg. "Eu meio que a ignoro e continuo tocando
a vida. Você faz o que faz independentemente do rótulo que te dão. Não consigo
pensar em outra maneira de explicar a genialidade".
BBC Brasil.
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Uma coisa que preciso praticar muito é "Forme sua opinião a partir de provas"
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