terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Terror tem licença para matar

Por simples ignorância ou por razões históricas, ideológicas, econômicas, insanas, religiosas, culturais, histéricas é maior do que se imagina o número daqueles que aplaudem o ato de terror que ceifou a vida de 12 pessoas na redação do jornal de humor Charlie Hebdo, em Paris, tido por alguns como de extrema-esquerda. Aliás, não captei o motivo de alguns, entre nós, insistirem em caracterizar a ação dos terroristas em Paris como atentado à extrema-esquerda – seria para definir os autores como de direita? Ou por que as vitimas ridicularizavam as religões?

Como muitos devem lembrar, quando do episódio das Torres Gêmeas em Nova York que matou milhares de pessoas houve aplausos aqui no Brasil à ação da Al Qaeda. Naquele caso as reações foram mais explicitas porque o evento correu – está entre as razões elencadas – num dos símbolos do capitalismo, do ocidente, da decadência, da burguesia, do pecado.

Quem viaja pelas redes sociais vai ver que no campo ideológico (em primeiro lugar) a cumplicidade com o terror também tem sido mantida ao longo de muitos anos por causa do ódio visceral que parcela da intelectualidade mundial – a da França com destaque – devota aos pecados produzidos no ocidente pelo capitalismo. Todos os males da humanidade esta nesse sistema e para destruí-lo vale qualquer coisa. Em segundo lugar – e creio isto é mais forte ainda – por que essa mesma parcela da intelectualidade não conseguiu produzir, ao longo de mais de século, dezenas de experiências, milhares de tratados e milhões de vítimas, qualquer alternativa viável àquilo que condena.

Esse fracasso em produzir algo consistente que possa ser posto em prática no lugar do capitalismo só faz alimentar esse ódio, dai o apoio ao terror ser crescente. E entre nós brasileiros essa paranoia tem outros componentes, como o fato de não termos produzido nada, nem no campo teórico, que pudesse nos mobilizar em torno de alguma proposta nova. Nós gravitamos em torno do que dizem os pensadores alienígenas e repetimos como bons papagaios o que ouvimos.

Nesse contexto não é complicado entender tal postura: tudo o que eventualmente pode significar uma alternativa, uma oposição e até o extermínio do capitalismo vai ser aplaudido não importando o custo disso, nem todas as atrocidades que se cometam com a pessoa humana. Jean Paulo Sartre, por exemplo, escondeu, por questões ideológicas, que sabia dos crimes contra a humanidade cometidos por Joseph Stalin durante o regime comunista russo. Para os crimes à direita a propaganda sempre foi eficaz, para os crimes à esquerda um silêncio ensurdecedor tomou conta do Planeta.


Tudo é sutil: essa postura de apoio ao terrorismo, que a cada ano mais e mais se fortalece e se expande, realiza algo ainda mais macabro que os próprios atentados, qual seja, expedir licença para matar. Hoje há um grupo de brasileiros que se sente no direito de dizer quem deve e pode ser morto sem problema algum, em nome de algo vago tipo abaixo o capitalismo. Num filme de 007, com Sean Connery, para curtir um pacotão de pipoca, chupar dropes de anis ou namorar tudo vale, mas na vida real avalizar a morte como resposta digna a qualquer ofensa, é insanidade. E nessa cantilena entraram desde incautos jovens até letradas cabeças das academias e destacados políticos.

P.S.: Outro dado terrível, é que o atentado ao jornal satírico francês aumentará a popularidade daqueles que fomentam o sentimento anti-islâmico e contra imigrantes na Europa que, em alguns países, como na Alemanha, está prestes a sair do controle.

Ivaldino Tasca.


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