Como se formam os conceitos a gente nunca sabe ao certo. Conceito se
constitui, não vem pronto. Perdurou, no Brasil, um tratamento às crianças como
se fossem pessoas secundárias ou que não merecessem atenção. Por longo tempo,
os relatos de agressões eram constantes, com surras impiedosas.
Até hoje, a criançada sofre nas mãos de alguns pais sem escrúpulos. Mas,
antes, a sociedade aceitava com tranquilidade que os pais massacrassem seus
pupilos, sem nenhum direito à reação, em nome do inquestionável pátrio poder.
Com a recente aprovação da chamada lei da palmada, a discussão sobre a
agressão de pais voltou à tona, com grande parte defendendo esse direito. Para
amenizar, passaram a chamar palmadinha. Qualquer tapinha, palmadinha é
agressão; é violência. Ponto.
Com o passar do tempo, os pais mudaram da agressividade selvagem para a
permissividade banal aos filhos. Foi uma longa caminhada de erros, compensações
e muitas distorções.
Tornou-se clichê a frase "quero dar aos filhos tudo que os meus não
me deram ou não tive". Também virou ditado popular a frase "não tenho
um pai, tenho um amigo". Ótimo, não fossem relações diferentes. Por
princípio, um bom pai necessariamente é um bom amigo. Quase sempre o desempenho
desses papéis devem ser separados.
Houve tanta confusão nessa transição que o amigo se tornou sinônimo de
cupincha, e o pai passou a ser pau-mandado.
O pai que obrigava o filho a ir à escola, agora deixa ir quando quer;
deixou de exigir o respeito aos mais velhos – para a maioria, os mais novos não
precisam de respeito; deixou a criançada substituir o senhor e a senhora por
meu "véio" e minha "véia". Isoladamente, tratamento é
secundário, mas é fundamental no conjunto da formação.
Estudar deve ser encarado como obrigação natural, sem as opções
"querer ou deixar de querer". Não um convencimento meloso ou
melancólico. Mas um trabalho voltado a valorizar o estudo e a aprendizagem
desde criancinha. A criança se convenciona a ir ao colégio, assim como se
escova os dentes, toma banho, sem o gostar ou desgostar.
Quando os pais, para serem amigos, deixam os filhos substituírem a
escola pela rua, o dever pelo "videogame"; estão a caminho da
conclusão dessa narrativa. Caso parem por aqui, formarão filhos mimados, sem
referências, mal-educados, pessoas apenas desagradáveis. Somando-se outros poucos ingredientes, a delinquência está a um passo.
A essa altura os pais já estão totalmente dominados, a família logo
será, os vizinhos se tornam incômodos e a gana de subjugar o mundo se torna a meta do bebê
mimado. Nesse ponto a árvore está pronta, o caminho são as desculpas, as
justificativas, a alegação de que deu tudo, mas se esqueceu de dar formação,
o principal erro.
Como todo mundo tem acesso à internet,
podem consultar alguns comportamentos que, em regra, intitulam de "como
criar um delinquente". E sobre as diferenças de formação de filhos, o
livro "Crianças francesas não fazem manha".
Comente este
artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário