A extinção da revista íntima nas unidades prisionais, publicada no
Diário Oficial da União e recomendada pelo Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, é considerada um avanço.
Mas estaria longe de
resolver o problema de violação de
direitos e humilhação a que os parentes de presos são submetidos
para entrar nas penitenciárias do país, na opinião do advogado da organização não governamental Justiça
Global, Eduardo Baker. O tema é polêmico.
A prática parte do pressuposto, conforme Baker, de que o parente do
criminoso também vai cometer crime. "Essa noção da revista vexatória vem
sendo legitimada, e parte da ideia de que os parentes estão tentando colocar
coisas para dentro do presídio, não que eles tentam só visitar aquele que vai
ficar um, dois, quatro ou mais anos preso. É preciso garantir os direitos, e
não violá-los em benefício de uma suposta garantia de segurança. Tem que ver
essas pessoas como sujeitos de direito também."
Baker explica que esse procedimento viola a integridade, intimidade e
privacidade das pessoas que fazem visitas. Segundo ele, "enquanto a prisão
é para gerar um dano ou um ônus apenas para a pessoa condenada, acaba gerando
punição para outras pessoas, porque a revista poderia ser feita com scanners corporais, detector de metais
e outras formas não invasivas. Em muitas situações a pessoa é obrigada a se
despir, agachar, estando desnuda na frente de outras pessoas; inclusive
crianças tendo que se despir, pessoas idosas; em alguns lugares ainda tem
técnica de apalpamento".
Levantamento da campanha "Pelo fim da revista vexatória", da
Rede de Justiça Criminal de São Paulo, aponta que 0,03% das revistas íntimas
nos presídios leva à apreensão de algum material proibido, como drogas, armas e
celulares.
Baker reconhece a importância da resolução e a iniciativa de alguns
estados, como Goiás e São Paulo, que instituíram a chamada revista humanizada.
Mas para ele é importante tratar a questão com lei que proíba a prática e oriente
a maneira correta. "[A resolução] não resolve, porque vai depender da boa
vontade de cada administrador, de cada estado, mas é uma sinalização de parte
do governo federal que esta é uma questão que tem que ser atacada. Se antes era
um tema praticamente invisível na esfera pública, mas não na sociedade civil, a
gente começa a ver o Estado prestando atenção nisso. A gente não pode negar a
importância desse passo."
No presídio de Pelotas, como bem apontou recente reportagem do
jornalista Álvaro Guimarães, do Diário Popular, a recomendação poderá ser
acatada em função do recebimento de equipamentos utilizados na Copa do Mundo. A
Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) do Rio de Janeiro
informou que as unidades prisionais têm tecnologias como banquinhos e portais
detectores de metais, além de detectores manuais e sistemas de câmeras que
auxiliam no procedimento de revista, raios X de bagagem, leitores ópticos de
carteiras de visitantes e catracas eletrônicas de controle de acesso.
Essa realidade,
porém, está longe de ser a de todas as penitenciárias do país.
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