Goste ou não de batuque, a verdade é
que o Carnaval bate novamente em nossas portas, desta vez um pouco mais tardio.
A maioria já voltou de férias e está no batente há algumas semanas, o que faz
essa parada estratégica, seja para rasgar a fantasia, assistir aos desfiles,
viajar ou simplesmente não fazer nada, curtindo as capitais vazias. Não
obstante as críticas, o fato é que o ano irá de fato começar após a
Quarta-feira de Cinzas, esteja você sóbrio ou de ressaca. E já que o tema é
Carnaval, sabia que as empresas têm muito a aprender com as escolas de samba?
Nós, brasileiros, acostumados a
acompanhar os desfiles desde criança, pouco reparamos no planejamento, na
organização e execução do evento, focando nossas atenções às pirotecnias de
carnavalescos brilhantes como Joãozinho Trinta, da Beija Flor, ou Paulo Barros,
da Unidos da Tijuca, que trouxeram o circo, o cinema e a tecnologia para a avenida
em atrações de tirar o fôlego até para quem não gosta de folia.
Colocado o pano de fundo, vejamos
então as lições que podemos extrair destas agremiações.
Enredo: proveniente do verbo enredar, significa
literalmente prender na rede, entrelaçar. Em uma história, seria o ato de
juntar as ações numa sequência lógica de espaço e tempo. As agremiações o
escolhem logo após o término do Carnaval, o qual guiará o tema, a fabricação
das fantasias, as alegorias e a composição do samba do próximo ano: quesitos que
precisam estar em perfeita sintonia com o enredo. Já pensou quantas empresas
encontram dificuldades em alinhar os objetivos de seus colaboradores, a
estratégia e as metas fixadas pela alta direção?
Evolução e conjunto: velocidade, forma, animação, movimentação,
compactação e uniformidade são critérios avaliados pelos jurados. Eventuais
buracos nas alas ou alterações bruscas na velocidade do desfile são passíveis
de penalização. Imagine agora integrantes desentrosados, desconfiados e
desmotivados. Certamente a visão de conjunto e a evolução ficariam bastante
comprometidas. Empresas com clima organizacional ruim e líderes que não
inspiram, dificilmente podem esperar equipes de alto desempenho, animadas,
uniformes e motivadas.
Mestre-sala e porta-bandeira: graciosidade, fantasia e bailado são critérios para
o casal que literalmente carrega o estandarte da escola. Comprometidos, em
geral nasceram, cresceram e irão permanecer na comunidade ou agremiação, por
ela doando parte de seu tempo e dedicação. Impensável seria aceitar uma
proposta para desfilar em outra escola. Executivos e profissionais por sua vez
têm seus empregos garantidos enquanto convenientes às empresas. Neste cenário,
vendem seu tempo e esforço, porém, morrer pelo patrão é coisa do passado.
Bateria: a ala mais empolgante de uma escola de samba, cujo
objetivo é acompanhar o canto e conduzir o ritmo do desfile. Vale citar a
história do mestre André criador da "paradinha", movimento no qual a
bateria subitamente para de tocar, deixando só o cavaquinho e a voz dos
puxadores. Apesar de bem avaliado pela crítica, sua utilização aumenta as
chances que o samba "atravesse", podendo a bateria retornar ao ponto
errado da letra. Num ano que promete ser tão ou mais enfadonho que 2013, o que
sua empresa tem feito para seus funcionários não percam o pique?
Os mais ligados aos desfiles talvez
tenham sentido falta da comissão de frente, rainha da bateria, ala das baianas
e velha guarda, elementos que compõem a intrincada teia de uma escola de samba.
Integrá-los e colocá-los na avenida em uma hora de desfile, coordenando mais de
duas mil pessoas motivadas, entrosadas e com o mesmo propósito e objetivos, é
tarefa que poucos Ceos conseguiriam, considerando o pouco tempo de treino e o
fato de que a grande maioria dos integrantes está ali por vontade própria, sem
nada receber.
Talvez você não tenha a mesma
criatividade de um grande carnavalesco, a energia de um puxador de
samba-enredo, a graciosidade de um porta-bandeira, nem queira que seus
funcionários saiam vestidos de baianas. Porém, comprometimento, doação,
motivação e harmonia são quesitos que não fazem mal à equipe alguma.
Enfim, ainda que não vá para avenida,
talvez valha a pena levar algumas de suas lições para o mundo corporativo. Só
não queira colocá-las em prática na Quarta-feira de Cinzas. É
"atravessar" na certa.
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