A mobilização dos
jovens que foram às ruas nas manifestações de ruas gerou pouco eco entre os
grandes partidos políticos brasileiros. De liberais a socialistas, as legendas
continuam a adotar uma postura à margem dos apelos da juventude. Além de contar
com poucos representantes de até 29 anos em seus quadros, as siglas têm
lideranças juvenis dirigidas, em sua maioria, por parentes de caciques da
política brasileira.
Consulta feita pelo
jornal O Estado de Minas junto a integrantes do PT, PSB, PMDB, PSDB, DEM e PDT
mostra que a maioria dos partidos não soube apontar dois nomes de militantes
considerados jovens, segundo o Estatuto da Juventude, com até 29 anos.
Os democratas
tratam, por exemplo, o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o deputado federal
Efraim Filho (PB) como representantes da juventude do partido, apesar de ambos
terem 34 anos.
Entre os
trabalhistas, o presidente nacional da Juventude Socialista, Luiz Marcelo de
Camargo, sugere os nomes do deputado Weverton Rocha (MA), de 34, e da deputada
estadual do Rio Grande do Sul Juliana Brizola, de 38.
A falta de
representantes jovens nos partidos se deve, em especial, à falência da União
Nacional dos Estudantes (UNE), afirma o cientista político Leonardo Barreto.
A
organização, que ficou conhecida por ser o espaço de encontro de universitários
contra o regime militar, vigente de 1964 a 1985, perdeu credibilidade nas
discussões políticas nos últimos anos, segundo Barreto.
“A UNE virou um
grande negócio de carteirinhas de estudantes. Além disso, passou a receber
verbas do governo do PT, perdendo assim toda a legitimidade”, afirma.
No PMDB, foram
encontrados jovens de destaque na política com até 29 anos, mas a maioria deles
tem relações familiares com caciques dos partidos. Na juventude dos
peemedebistas, o filho do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), é
o presidente nacional da organização.
Aos 21 anos, Marco
Antônio Cabral assumiu o cargo em março do ano passado. Ao lado dele na
diretoria, estão o deputado estadual do Ceará Danniel Oliveira, de 28 anos, e o
deputado federal Wilson Filho (PB), de 24 anos, respectivamente, sobrinho do
senador Eunício Oliveira (CE) e filho do ex-senador Wilson Santiago (PB).
Parentes com
histórico na política também é a realidade da juventude tucana, na qual se
destaca o nome de Expedito Neto, de 25 anos, que tentará uma vaga na Câmara dos
Deputados este ano. Ele é filho do ex-senador Expedito Júnior (PR-RO), que teve
o mandato cassado por compra de votos e abuso de poder econômico, em
2009.
Clã no PSB também
são vistos sobrenomes repetidos da política tradicional entre os líderes da juventude.
Secretário nacional da Juventude Socialista Brasileira, Bruno da Mata, de 30
anos, é filho da senadora Lídice da Mata (BA), pré-candidata ao governo do
Estado neste ano. Ele ainda não dá como certa a própria candidatura no ano que
vem. “Nada pode ser descartado”, diz.
Em Pernambuco, o
filho do governador do Estado, Eduardo Campos (PSB), também está cotado para
ser candidato ao Congresso Nacional. Aos 20 anos, João Campos pode manter a
tradição da família Arraes de ter ao menos um representante na Câmara.
O cenário de novas
gerações das tradicionais famílias de políticos acaba afastando novatos no
sistema, afirma o cientista político Leonardo Barreto.
“Não há estímulo para o jovem entrar numa
legenda sem que ele tenha um vínculo de poder”, argumenta. Para ele, um dos fatores de escassez de jovens no partidos
é o fato de as agremiações não apresentarem estruturas democráticas. “Com
exceção do PT, que tem eleições diretas, dificilmente as lideranças são
renovadas dentro dos partidos”, diz o cientista político. (Com informações do
jornal O Estado de Minas)
Desmotivação dos jovens em relação à
política é tendência mundial, diz cientista
Embora o número de
eleitores aptos ao voto facultativo, com 16 e 17 anos de idade, tenha aumentado
em relação à última eleição, em 2012, a percepção é que há um desinteresse dos
jovens nessa faixa etária em relação à eleição deste ano. A avaliação é do
cientista político Eurico de Lima Figueiredo, da Universidade Federal
Fluminense (UFF). Para ele, essa percepção não é só restrita ao Brasil.
“A desmotivação é
mundial”, disse. “Parece que nós vivemos uma época em que os jovens encontram
soluções que já estão dadas”, completou. Figueiredo acredita, no entanto, que
principalmente agora, na Europa, haverá um recrudescimento da participação
juvenil na tentativa de encontrar soluções para os novos problemas colocados
pela crise econômica.
“A tradição mostra
que são os jovens que mais reagem a situações de crise, inclusive porque eles
trazem dentro de si o futuro e reconhecem nas situações críticas do presente o
que não deve ser feito e o que precisa ser mudado.”
No caso do Brasil, analisou
que a última participação forte da juventude na política ocorreu com a geração
dos “caras pintadas”, que foram às ruas pelo impeachment de Fernando Collor, da
presidência da República (1992).
Por isso, reiterou
que a desmotivação é uma tendência geral do mundo, que vive uma situação que,
“para o jovem, é relativamente confortável”. Segundo o professor de
pós-graduação em ciência política da UFF, há uma ideologia espalhada no ar, que
se denomina pós-modernismo, onde se cultiva muito o individualismo, em vez das
preocupações coletivas e sociais. E isso tudo influencia o comportamento
juvenil.
“Por isso, não é de
se estranhar que haja essa desmotivação”, declarou.
UNE QUER MOTIVAR
A presidente da
União Nacional dos Estudantes (UNE), Virgínia Barros, chamou a atenção para o
fato que apesar de o número percentual de jovens entre 16 e 18 anos incompletos
com inscrição eleitoral não ser tão expressivo, “ano a ano, nas eleições, nunca
tantos jovens estiveram aptos a votar”.
De acordo com o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de brasileiros de 16 e 17 anos que
têm inscrição eleitoral subiu de 2.391.092, em 2010, para 2.913.627 em 2012.
Virgínia Barros
observa que, ao mesmo tempo, é grande o número de candidatos jovens. “No geral,
será uma eleição que tem recorde de participação de jovens, tanto em eleitores,
como em candidatos”. Por essa razão, definiu como relativo o dado que aponta
uma desmotivação dos eleitores de 16 e 17 anos para o pleito deste ano.
A dirigente destaca
que o voto para menores de 18 anos foi um direito conquistado na Constituição
de 1988. “É um direito caro para o País e uma forma importante de os jovens
entrarem em contato com a cidadania e com seus deveres enquanto cidadãos para
opinarem sobre a política em seu País.”
A UNE pretende
trabalhar para que os jovens “agarrem esse direito com mais expressão”. A
impressão do presidente da entidade estudantil é que existe um certo desencanto,
uma rejeição à política, diante do atual cenário político nacional. “Mas, por
outro lado, existe cada vez mais entre os jovens a noção que a política ajuda a
mudar as coisas.”
Entre as políticas
públicas que obtiveram sucesso nos últimos tempos, citou como exemplo a questão
das cotas. A percepção, explica Virgínia Barros, é que o jovem, ao prestar mais
atenção no debate eleitoral, pode mudar as coisas no Brasil, “devido à
vigilância da sociedade contra a corrupção”.
“Se por um lado
existe uma certa rejeição à política, eu entendo que ela vai cedendo espaço,
cada vez mais, a uma vontade do jovem de participar mais das coisas.”
A
presidente da UNE estimou, porém, que serão necessárias mais algumas eleições
para que essa participação da juventude na política possa se tornar mais
nítida.”
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