Lembro quando ouvi pela primeira
vez a provocação de Cazuza em Ideologia “...eu vou pagar a conta de um
analista...pra nunca mais saber quem eu sou...ideologia eu quero uma pra
viver...meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder”. Era o
canto voraz nos meados da década de 1980 que como uma faca rasgava o silêncio
das entrelinhas do não dito.
Como vários outros poetas e
artistas visionários com maior sensibilidade Cazuza estava antenado ao conflito
emergente de sua época. Onde é mesmo que eu estou? Sou o quê? Certeza?
Duas décadas depois tudo ficou
muito pior. Primeiro por que nosso ávido mercado de consumo transformou a ideia
de identidade em produto rotativo. Você facilmente adquire uma nova identidade
pagando seu design em 24 prestações em seu cartão de crédito.
Técnicas de condicionamento,
figurino, e manuais de autoajuda podem auxiliar na busca de tentativa de
sucesso na adequação para a perda de sua identidade o ajustando ao ideal do
mercado de consumo.
Por outro lado a insegurança
crescente e a maleabilidade dos valores.
Hoje as ideologias já não mais
representam o que valiam há duas décadas. Um partido de esquerda por exemplo o
que significa? O que representa hoje lutar pelo direito dos trabalhadores?
Nossa realidade avilta as ideologias do passado em um antagonismo doentio... “faça
o que eu digo, não faça o que eu faço”.
É a gestão pública que avilta o direito
dos trabalhadores, a educação que não educa, saúde que adoece, corrupção no
moralismo e no discurso que versava outrora em ética. A máscara caiu e o rei
está nu. Fora a ditadura diante dos protestos que são silenciados.
Hoje não é raro ouvir a queixa de
insegurança, medo, endividamento. São mantras que tornaram-se comuns no
discurso do cotidiano.
O modismo e senso comum aviltando
a noção de eu e a identidade transformando a alienação em produto de mercado
agenciado pelo estilo “Big Brother” de viver.
Estes dias outra leitora enviou a
nosso web site uma queixa:
“...eu sou muito insegura, tenho
medo de sofrer e acabo sofrendo antecipado, não gosto de mim!! Tenho tudo pra
ser feliz, ter autoestima e não consigo ser uma pessoa alegre e positiva. Isso
é perca de identidade?”
Infelizmente na maior parte das
vezes o que a leitora traz é decorrência do esfacelamento da consciência que é
a perda da identidade.
A fragilidade mostra que hoje é comum pessoas que se
perdem por não mais levar a sério o que querem, por existir uma divisão intensa
entre instinto, afeto e pensamento. Perder a identidade é perder nossa
essência.
Coisa que foi muito cantada com
fim trágico. É bom se cuidar.
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