Os testes feitos com o material
apontam o fechamento de 75% de ferimentos em apenas três dias
Pesquisadores da Unicamp
desenvolveram um projeto inédito com células-tronco aderidas a fios de sutura,
usados em cirurgias, o que pode revolucionar a medicina brasileira na
regeneração de tecidos.
"As células-tronco,
retiradas dos tecidos adiposo, ou seja a gordura, foram colocadas no fio de
sutura comum com cola de fibrina, uma cola médica muito resistente e que
modificamos para manter as células vivas durante a aplicação", explicou à
Agência Efe o biólogo Bruno Volpe, que há três anos está desenvolvendo o
estudo.
Os testes feitos com o material
apontam o fechamento de 75% de ferimentos em apenas três dias e, segundo Volpe,
"depois de vários testes, elas são capazes de sobreviver sete dias".
A cicatrização é uma das fases
mais preocupantes após a cirurgia, pois depende das condições de saúde de cada
indivíduo, mas com o uso das células-tronco, dois pesquisadores da Faculdade de
Ciências Médicas da Unicamp descobriram a regeneração em uma fístula
intestinal.
O pesquisador conta que este
processo pode ser realizado em qualquer tipo de ferimento, como os de diabetes
e provenientes de plásticas, mas que a fístula do intestino foi escolhida por
ser um tecido fácil de ser lesionado e difícil de cicatrizar.
A grande inovação da pesquisa de
mestrado de Volpe foi a metodologia de implantação das células-tronco na
fístula através de um fio cirúrgico e este processo foi patenteado pela Agência
de Inovação Inova Unicamp.
O próximo passo, segundo o
cientista, é melhorar o tempo de vida das células-tronco para 15 dias e poder
exportar a técnica a outros países.
"Mas antes, a expectativa é
de viabilizar o uso do método no sistema público de saúde brasileiro para
diminuir o tempo de internação, o que significa menos gasto público e melhor
qualidade de vida ao paciente", disse Volpe.
O biólogo destacou que está
procurando parcerias para financiar investimentos para que a técnica seja
expandida a um maior número de atendimentos, já que, atualmente, o procedimento
é realizado apenas com pacientes da universidade.
O teste inicial foi feito com
ratos, nos quais as células-tronco regeneraram quase todo o tecido do intestino
dos animais, resultado que indica uma boa adaptação em pessoas, já que estas
células são encontradas no organismo humano, capazes de se transformar em
outros tipos celulares, ajudando na reestruturação dos tecidos dos órgãos.
O tempo de recuperação das
fístulas por meio do tratamento convencional nos ratos é equivalente ao
organismo humano e pode levar até dez semanas, mas com os fios de
células-tronco a aceleração do processo é "um milagre", segundo
Volpe.
Desde a década de 1970, quando a
medicina descobriu a existência e capacidade das células-tronco, pesquisadores
buscam formas de aproveitar o potencial dessas células.
De acordo com Volpe, a aplicação
direta das células-tronco não dá o mesmo resultado do que o fio de sutura
enriquecido.
Em uma pesquisa espanhola, usada
como referência pelos brasileiros, foi testado o poder da célula-tronco
diretamente na ferida, mas sem o mesmo resultado de cicatrização; além disso,
outra pesquisa dos Estados Unidos produziu fios semelhantes aos de sutura, mas
com quantidade limitada de células-tronco.
Porém, os pesquisadores
brasileiros conseguiram implantar as células-tronco em fio de sutura longo, com
cerca de 30 centímetros, e após dois dias de preparação foi aplicado para o
teste com a expectativa de que o material sobreviva por sete dias.
O estudo apontou que o
procedimento não exige testes de compatibilidade da adesão das células nos
pacientes e não há sinais de inflamação ou rejeição no organismo em que as
células foram aplicadas.
Essa linha de investigação da
Unicamp surgiu em 2005 a partir de aulas de cirurgia plástica, nas quais o
cirurgião Ithamar Stocchero questionou o uso de células-tronco em fios de
sutura.
"É muito importante ver os
resultados de um trabalho árduo que oferece uma técnica barata que pode
expandir. Isso mostra que o Brasil tem condições de produzir ciência igual ou
melhor que outros países", ressaltou Volpe.
Agência Efe.
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