Alguém já deve ter ouvido por aí
que filosofia vem do grego philia (amizade, amor fraterno) mais a
palavra sophia (conhecimento). Traduzindo a palavra ficaria algo como
“amor ao conhecimento”.
Mas o que é especificamente ter amor ao conhecimento?
Gostar de conhecimento? Gostar de pensar? Gostar de investigar os mistérios do
mundo? Uma predisposição à crítica científica? Sim e não.
Dizer apenas isso,
que a filosofia se resume a essa definição, seria renegar essa predisposição
racional às outras ciências. Ou não pensamos quando trabalhamos com matemática,
biologia, física, etc?
Talvez a pergunta mais
complicada de se responder em filosofia seja justamente “O que é filosofia?”.
Isso porque dificilmente você vai ver professores preocupados em explicar o que
é matemática, o que é biologia ou o que é física. Porque isso é assunto da
filosofia, para ser mais exata de um campo da filosofia, a filosofia das
ciências.
A filosofia é anterior a todas
as ciências. Sim, eu disse todas. Se fizéssemos uma árvore genealógica aqui de
todas as ciências, veríamos que todas tem como ponto de partida a filosofia.
Por quê? Porque mais do que um conjunto de teorias sobre vários aspectos do
mundo filosofia é também uma postura, uma maneira de olhar o mundo.
Pois bem, para começo de
conversa precisamos de uma resposta satisfatória, embora não definitiva do que
seja a tal filosofia. Podemos começar pensando de onde ela vem. A filosofia
surge na Grécia, por volta do século VII e VI a. C. Isso não quer dizer que
antes dela não existia amor ao conhecimento.
A fundamental diferença está aí.
Antes da filosofia explicávamos o mundo de uma maneira diferente da racional,
explicávamos o mundo de uma maneira mitológica.
Vamos lembrar o mito sobre a
criação do mundo. Para os Gregos, o início da criação era o Caos, e este gerou
Érebo (a parte mais profunda dos infernos) e Nyx (a noite). Estes fizeram
nascer Éter (o ar) e Hémera (o dia). Depois Gaia (terra) tornou-se a base em
que todas as vidas têm a sua origem. Úrano (céu) casou-se com Gaia (terra).
Todas as criaturas provêm desta união do céu e da terra (titãs, deuses,
homens). Também temos um mito mais conhecido como o de Pandora.
Pandora foi a
primeira mulher e Zeus envia um presente aos humanos, mas com a intenção de
puni-los por terem recebido o fogo do titã Prometeu que o roubara dos Céus.
Pandora leva consigo a caixa, e a abre, por curiosidade, deixando escapar todos
os males que afligem a humanidade. Entretanto, consegue em tempo fechá-la
retendo a esperança, a única maneira de suportarmos as dores e sofrimentos da
vida.
Obviamente que hoje, se alguém
nos contasse esses mitos como a verdade sobre o surgimento do universo ou dos
males, saberíamos que não se trata de uma verdade científica e muito menos
comprovada. O mito tinha o papel nas civilizações antigas de, entre outras
coisas, garantir a sobrevivência do grupo fornecendo segurança frente ao desconhecido.
Precisamos de explicações e o
mito é uma delas. Os mitos ainda existem, mas usamos hoje o exercício da
crítica racional para questioná-los, seja para afirmá-los ou negá-los. Pois
bem, o mito, que era uma tradição passada de gerações a gerações como uma
história contada é substituído pelo discurso filosófico.
O discurso filosófico surge com
os primeiros filósofos, os pré-socráticos, que começam a questionar as
explicações míticas sobre o princípio de todas as coisas. Esses primeiros
pensadores centram-se na natureza e elaboram diversas concepções de cosmologia.
Todos procuram explicar como diante da mudança podemos encontrar a
estabilidade, ou, questionando a explicação mítica, como do caos surge o mundo
ordenado.
Nesse sentido, a filosofia se
diferencia do mito. Enquanto no mito o conteúdo não se questiona, a filosofia
problematiza e convida a discussão. A filosofia rejeita o sobrenatural e a
interferência de agentes divinos nas explicações de fenômenos. Mais do que
isso, exige uma coerência e a definição rigorosa dos conceitos.
Como diria
Deleuze, um filósofo contemporâneo, “filosofar é criar conceitos”. Mas seria só
isso?
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