segunda-feira, 1 de março de 2010

E agora, José?!



Avanços em todas as áreas acontecem cada vez mais rápido. Os pais começam a se preocupar com o futuro dos filhos cada vez mais cedo. Diploma universitário não é mais garantia de segurança ou de bom emprego. Mais de 50% dos brasileiros – (IBGE 2006) – trabalham em profissões diferentes daquelas para as quais se formaram. Da noite pro dia tudo muda. O que era ontem uma profissão de futuro, de repente, torna-se passado de um glamour que não volta. As inovações tecnológicas ditam as diferenças. O investimento das famílias, com recursos, na educação dos filhos, faz-se cada vez mais intenso e extenso. Feliz daquele que pode contar com o respaldo financeiro familiar.

Numa sociedade que se esconde por trás de cotas que não resolvem os problemas de um processo educacional falho, camufla-se através de ilusória facilitação um rombo bem maior do que à primeira vista podemos divisar. Cortar investimentos na educação de base e investir no topo da linha acadêmica parece não ser a melhor saída.

Age o Estado como um construtor inescrupuloso que sabota os alicerces de suas edificações com produtos de inferior qualidade e procedência. Disfarça a fachada final de seus edifícios com pseudo-acabamentos. Cria-se a ilusão de solidez para as edificações que não resistem à primeira intempérie. Permeadas por rachaduras que prenunciam o desmoronamento iminente, não oferecem condições para a restauração de suas estruturas, pois estas não oferecem vigas e nem esteios que se prestem à sustentação em suas bases. Bases não existem.

Estimular a aquisição do diploma universitário só, não basta. Interessante seria acompanhar o desenvolvimento das estruturas mentais do ser, que necessita de desafios sempre acima do estágio em que se encontra. Analfabetos funcionais podem inflar as estatísticas do mundo acadêmico, mas não o tornam mais instigante. Também não o fazem mais eficiente.

É preciso que o Estado jogue o seu foco para a educação de base. Infância não é problema apenas da família. A infância é o futuro da humanidade.

Um mundo melhor se faz com homens melhores. Homens melhores são forjados com autodeterminação, disciplina, afetividade, formação de caráter, atitude e instrução baseada em múltiplos interesses. Num processo educacional bem-sucedido, não se separa a autonomia intelectual da envergadura ética e moral.

Um país sério se preocupa com o futuro de seu povo. O futuro começa com o apoio aos pequeninos. Crianças são como flores delicadas que requerem cuidado e amparo para desenvolvimento seguro. Mesmo que fujam aos parâmetros esperados, exigem mãos e mentes desveladas que lhes encaminhem para um bom desenvolvimento. Os grandes educadores sempre consideraram o início da infância como a fase de importância decisiva na formação do homem. Pena que esta fase o estado descarta de seu ciclo educacional.

Educação que se baseia na ação, no interesse, no jogo, na arte e no trabalho da zona proximal, como primeiros recursos no campo da aprendizagem, não necessita de cotas. Necessita de investimento e comprometimento. A evasão escolar reflete a ineficiência do nosso sistema de ensino. Um sistema abortivo que contempla a cidadania com o descaso. Os que conseguem concluir o ciclo de formação (ou deformação?) para a disputa das cotas são apenas sobreviventes. Ao penetrarem no ciclo superior do ensino farão coro, em desconsolo, aos versos de Drummond: “ E agora, José?...José, para onde?”


Elzi Nascimento.

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2 comentários:

  1. O ensino básico está atrelado ao nível municipal e não federal. Isto se deve às diferentes características, necessidades e possibilidades regionais.
    Existe uma obrigatoriedade para com a destinação de recursos na educação básica determinada por Lei aos municípios, da mesma forma que existe a obrigatoriedade legal aos pais no tocante à educação básica aos filhos, além de uma série de incentivos neste sentido.
    O que falta é o incentivo e o respeito aos mestres, que necessitam de melhor formação e maior apoio no desempenho de suas atividades.

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  2. Grande Willian, o pensamento é exatamente esse! A educação está sendo tratada de uma maneira vergonhosa em nosso país. Medidas que "camuflam" o que está errado só comprova a falta de competência daqueles que deveriam viabilizar um ensino digno à todos, desde o início até o final de nossas vidasa academicas.

    Na minha visão, a mudança deve partir daqueles que tem em mente um mundo melhor. No caso, nós! Não custa nada tentar! Vontade a gente tem de sobra.

    Um grande abraço, Nelsinho Lima.

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