terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Castelos e guerras na areia
Tenho escrito muito sobre pequenos gestos do nosso cotidiano e da possibilidade de exercitar a delicadeza e a ética que fazem parte da “guerra”, do tipo de batalha que travamos na vida contemporânea. Sim, porque isto é um treinamento que podemos optar ou não em fazer. Uma espécie de tropa de elite do dia-a-dia que invade nosso corpo, nossas vísceras, nossos impulsos e também nossa razão.
Pensando nisto, se trata de fazer uma reflexão sobre a percepção do que está a nossa volta. Ou seja, perceber o que nos é familiar, sem ser necessariamente do mesmo sangue ou aquilo que nos faz ter uma herança genética. No entanto, quando identificamos o familiar também podemos estar sensíveis ao que estranhamos, ao que não faz parte de nós. Esbarramos quase que o tempo todo neste estranho, porém não é de um sujeito que estou falando mas de situações, de vivências, de experiências que a vida vai nos recheando. Traduzindo: aquilo que fecha mais com a maneira de cada um ou que não bate com a forma que vivemos.
Nesta época de férias e veraneios pode ser interessante pensar como isto se dá. A praia é um lugar super democrático, ainda que tenha uma certa organização por tribos que se espalham conforme o que o espaço do litoral proporciona (banho, surfe, esportes, brincadeiras na areia, área para banho de sol) e também não podemos negar que há uma certa distribuição diferenciada, que o poder aquisitivo ocasiona, nas areias das classes sociais.
De qualquer maneira quando passamos uma parte do dia na beira da praia acabamos percebendo quem são os vizinhos que nos cercam com seus apetrechos de todas as ordens. Durante o tempo que se passa na beira do mar vai se tornando familiar a maneira que a criança brinca, que os adultos se comportam. Com relação a alguns faríamos igual, semelhante ou muito diferente. Tem aqueles que entram no mar e os que não entram. Aqueles que permanecem lendo quase o tempo inteiro e os que nem pensam em combinar praia com leitura. Tem os que conversam o todo tempo, que dormem, que comem de tudo, que bebem, quem compra de tudo, (pois há quem vende de tudo), quem fuma, quem joga, quem caminha, corre, quem joga lixo no chão, quem junta o lixo do chão e quem fica observando tudo isto que às vezes se transforma numa muvuca enorme e outras vezes parece compor uma ordem perfeita.
Neste leque de situações se pode perceber quando os embates se dão. Como, por exemplo, um menininho que chora muito porque quer só pra ele o brinquedo do seu vizinho de guarda-sol. Nesta hora, podemos perceber como os pais são convocados a agir com a criança numa viagem pela passagem do mundo infantil ao adulto e vice-versa. Ou seja, como as crianças se comportam em relação aos pais e como os adultos agem e se defrontam com os filhos, seus e dos outros. Como ocorre aí a relação dos adultos, seja entre um casal, seja no que se refere aos vizinhos na areia. Às vezes ocorre um exercício da ética, de educação e outras vezes o que se vê é um descaso com as outras pessoas, com o lugar e com a situação.
Mas há também as sintonias de uma amizade que se constrói junto com os castelinhos de areia que se erguem e que são como ondas do mar que se prolongam pela praia num desencadeamento da vida de maneira tão natural e espontânea. Achamos sempre neste caleidoscópio coisas que podem nos ser muito familiares e outras muito estranhas. De dentro desta observação, podemos refletir sobre a nossa postura ou nossa atuação.
por Patrícia Spindler.
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Postado por
William Junior
às
10:02
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A magia dos sonhos e encantos, quem não ouviu ou quis viver um conto no castelo?
ResponderExcluirAbraços forte
Olá William e Patrícia,
ResponderExcluirAcabei de voltar da praia, onde eu via, diariamente, um mundo de pessoas diferentes... Passei tempo observando essa interação, esse encontro com as energias do mar ou areia, vi meus filhos construindo não apenas castelos, mas amizades... Exercitando a doação e não ao egoísmo, praticando a união, a disposição de ajudarem... Fiquei fascinada em ver a simplicidade com que as crianças olham às outras, sem qualquer distinção de cor, credo ou classe social... Nesse ponto, você pára e percebe que o "crescimento" nos tira muitas coisas. Que possamos voltar, todos, para a praia e apreciar esses mundos diferentes, mas que acabam compondo um mesmo mundo... Que possamos viver nele pacífica e respeitosamente.
Grande beijo,
Jackie