domingo, 2 de janeiro de 2011

O sonho da fraternidade universal



É com muita frequência que abordamos o tema da necessidade de interiorização como metodologia para o autoconhecimento. Como o foco é a própria pessoa, uma leitura descomprometida pode parecer que se faz uma apologia ao egoísmo. Pelo contrário, o que reafirmamos é que o homem que consegue sucesso nesse mergulho na própria natureza e existência interna, que consegue a chave para abrir os portais que o levarão de volta ao seu âmago, encontra a fonte única de todos os seres. É quando então emerge a Unidade como verdade eterna. Ligados ao verdadeiro espírito da fraternidade universal estamos aptos a buscarmos um mundo melhor, a trabalhar por ele, conscientes de que somos todos irmãos.
A visão egoísta percorre outros caminhos e o ser humano se sente solitário, isolado, porque é incapaz de captar as realidades alternativas, fecha-se em seu casulo, encontra nomes para justificar sua omissão – cautela, cuidado, descrição, prudência – para ocultar a limitação da sua percepção e outros sentimentos como rejeição, medo, culpa. Geralmente estes sentimentos são alimentados pela dificuldade individual de interiorização e se o homem não os identifica, também não pode combatê-los e superá-los, transmutá-los. Tanto o medo da partilha quanto a arrogância de se sentir superior gera a solidão, expressa na incapacidade de criar e direcionar as experiências de forma a superar as diversidades absorvidas pela nossa percepção.

O universo é dual em sua natureza. O ideal de harmonia implica em unificar o poder dualista, gerar equilíbrio, colocar-se entre as colunas. Ser fraterno significa não estar isolado, mas unidos por um princípio gerador de uma força conjunta, capaz de promover uma construção dentro dos arquétipos pessoais. À medida que nos conscientizamos dessa ligação universal, o sentido de solidão se expande até ser substituído pela comunhão com a luz. São etapas difíceis e muitos de nós poderemos ficar atados aos nossos fantasmas e fantasias, perdemos o foco e nos distraímos buscando justificativas em vidas passadas, ou paralelas, para explicar a nossa incapacidade de convivência. Neste aspecto, atingimos sempre e mais, os que nos são mais próximos. Embora seja normal este processo de amadurecimento espiritual o ponto central deve sempre ser a evolução da consciência.

Não existem regras para buscar a si mesmo, mas existem métodos que se mostram eficazes se praticados com disciplina e desejo sincero de autoconhecimento. Uma das formas de superar as dificuldades do caminho da luz é procurar reservar um momento de meditação para criar uma atmosfera harmônica que ajude a delinear uma trajetória moral e consciente de como buscar essa comunhão universal, sem nos perder nos atalhos. Aqui sim, a experiência é individual. Temos necessidade de experiência própria, as percepções são diferentes de pessoa para pessoa e neste aspecto não existem iguais no Universo. Somente depois que ultrapassarmos esta etapa, quando não precisamos impor a nossa verdade sobre a verdade do outro, é que temos contato com a nossa fraternidade. As diferenças são conceituais e deixadas no mundo das aparências. Assim, centralizados na Luz, todos fazemos parte de uma consciência maior e só queremos amor e paz para todos.

Os resultados, a compreensão que extraímos das nossas meditações, deverão se basear em princípios profundos, mas também no senso prático, não apenas uma mera adição à confusa massa de teorias e especulação no mundo da ciência, mas sim por causa de suas implicações reais sobre os interesses da humanidade.

De nada adiantarão nossas percepções se elas não dirigirem as nossas ações para o bem comum. Pouco resolverá incorporarmos ao nosso vocabulário palavras como essência, essencial, substancial, sem conhecermos o misterioso morador das profundezas do nosso ser. Ao longo do nosso desenvolvimento observamos que a fraternidade universal, mesmo sendo uma matéria de difícil compreensão, é de transcendental importância para a solução dos grandes problemas da humanidade. É dela que depende o surgimento de instituições sócio-políticas justas e sadias, que possam harmonizar a humanidade e aliviar os seus sofrimentos. Pode até ser um sonho, mas é um sonho de nobreza.

Por Kleber Adorno.

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