domingo, 2 de janeiro de 2011

Recriar a si próprio



A vida é múltipla o suficiente para nos apresentar situações que vão desde aquelas que são simples de imaginar até as inimagináveis. Ela é um conjunto de circunstâncias que vão das mais previsíveis às totalmente inesperadas. Nesta trajetória, que é única para cada um, as pessoas vão se modificando e suas vidas vão se alterando.
Estas transformações acontecem por diferentes fatores. As etapas que cada sujeito passa na sua existência, como a infância, a adolescência, a fase adulta e a velhice, são passos inevitáveis e que oportunizam mudanças muito baseadas em nossas alterações biológicas. Nosso corpo vai mudando e nossa percepção em relação a ele também. A leitura do mundo ao nosso redor, nossas ideias e comportamentos vão variando. Nossa subjetividade é algo que se compõe a cada nova experiência e a vida se traduz em uma eterna fita de Moebius que se enlaça tal como o símbolo do infinito sem deixar claro algumas vezes o que vem de dentro e o que vem de fora. Construímos o que está ao nosso redor que, por sua vez, também nos constrói.
Passamos, via de regra, por estas etapas que se apresentam para todos nós de forma mais ou menos semelhante. Porém, de um jeito menos (crono)lógico, cada um absorve de modo singular e inusitado as mudanças que a vida oferece. Neste sentido, não é possível evitar a necessidade de recriar a si próprio no decorrer do caminho. Em algumas ocasiões, as pessoas evitam se deparar com estas situações deixando atingir uma urgência tamanha que gera uma grande crise. Como se estivesse acontecendo um abalo sísmico, um terremoto que não se sabe se vem de dentro ou de fora. Ainda assim muitas pessoas resistem e não se permitem mudar suas forma de sentir, ver e lidar consigo e com o que está ao redor.
"Mas porque não nos reiventar?", canta Adriana Calcanhoto em uma bela música nos auxiliando a pensar que "não há lugar pra lamurias, essas não caem bem, não há lugar pra calunias, mas porque não nos reiventar?" ao invés de ficar rígido, fixo, como uma árvore plantada no solo que só sairá dali quando for derrubada e morta.
Se recriar pode dar bastante trabalho, exige coragem e disposição. É fazer constantemente uma escultura de si próprio. Um trabalho artesanal que nunca acaba, que nunca fica totalmente pronto. Para que possamos ser senhores de nós mesmos é preciso gostar da modelagem que vamos aprendendo a fazer aceitando as modificações durante o seu feitio. Afinal, é preciso assumir esta tarefa que cada um faz por si. E não há como delegar.

por Patrícia Spindler.

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