segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Riscos, planejamento e serra carioca


Os desafios de uma sociedade cada vez mais complexa remetem a riscos cada vez maiores. Não é sem razão que muitos pesquisadores usam a expressão “sociedade de risco” para designar esta quadra da história (Ulrich Beck, p.ex.), equiparada a uma perigosa “corda bamba” por onde caminha a humanidade, alvejada pelos ventos do ilimitado poder criativo humano, por cima do precipício que representam tais riscos.

Não se trata do simples risco da existência, presente no universo humano desde tempos imemoriais, mas de riscos altamente potencializados pelo desenvolvimento tecnológico, como os riscos ambientais, cibernéticos, nucleares, econômicos e biológicos, exemplificativamente. Tais situações não somente desestabilizam o desenvolvimento, mas chegam ao ponto de colocar em risco a própria espécie humana, que acaba perdendo o controle do que antes contrava.

Este mesmo acúmulo do conhecimento que remete a maiores riscos, também possibilita maiores meios para a sua prevenção. O drama carioca é um exemplo. Há dias o Brasil e o mundo acompanham, estupefatos, a catástrofe que transformou em caos uma das mais prósperas regiões do Rio de Janeiro. Mais de 700 mortos (por enquanto), além da devastação avassaladora de grande parte da região serrana.

As causas desta tragédia recaem nas chuvas torrenciais que assolaram aquela região e na falta de planejamento governamental. Quanto às chuvas, o homem (ainda) não consegue controlar. Entretanto, poucas são as justificativas para a falta de planejamento dos governos (estadual e municipais), o que minimizaria em grande parte os danos sofridos. O Brasil não é o Haiti! (pelo menos não deveria ser).

A grande verdade é que os políticos brasileiros normalmente não gostam de planejar. É algo incrustado na cultura pátria, que deve mudar, diga-se de passagem. Prefere-se agir, afoitamente, do que pensar acuradamente, antes. Não que se deva cair no imobilismo reflexivo, até mesmo porque a política é o local da ação, mas é inegável e inconteste a importância do planejamento.

Por que se planeja? Porque os recursos (todos eles, até mesmo a vida) são limitados. Se os recursos são limitados, quanto mais adequado e profundo o planejamento, maior a probabilidade das ações alcançarem melhores resultados. Tem custo? É claro. Investir em planejamento significa investir em idéias, em reflexões, em ações sistêmicas, em pessoa que pensam. Significa priorizar o que há de mais valioso no ser humano, que é a sua inteligência e o seu poder criativo.

Os exemplos mais bem sucedidos de êxito pessoal, institucional e de sociedades tiveram por base ações planejadas. Não que as ações pontuais devam ser relegadas a um segundo plano, mas devem estar concatenadas com objetivos e metas maiores, ajustadas a médio e longo prazo. Se assim fosse pensado, a região serrana do Rio de Janeiro teria um plano de riscos, monitorado, das regiões mais vulneráveis às chuvas, o que teria levado à evacuação dessas áreas.

As tragédias normalmente deixam as suas lições. Além da dor e do sofrimento de milhares de pessoas, fica a necessidade de uma mudança de postura dos governos. Não é questão de perquirir culpa, mas de evitar maiores danos no futuro. Os riscos da sociedade atual são cada vez maiores, o que remete a ações mais profícuas, eficazes e planejadas a fim de minimizar outros danos futuros.

Por Giovani Corralo.

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Um comentário:

  1. "A grande verdade é que os políticos brasileiros normalmente não gostam de planejar." SIM! Não sei o que eles pensam exatamente, mas com certeza devem achar que curar é mais barato do que remediar (ironicamente diferente do que a maioria pensa).

    Muito bom o texto. Fica aqui a minha esperança de um novo recomeço definitivo pra serra carioca.

    http://elarafaela.blogspot.com

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