Fico muito angustiada em ver que nossa sociedade
está tomando um rumo que vai apenas trazer mais sofrimentos e mais mortes para
as pessoas. A polarização absurda que vem sendo estimulada por poucos nas redes
sociais atinge a muitos. Penso mesmo que deveríamos fazer uma massiva
campanha contrária, ou seja, deixar bem claro que somos feitos da mesma
matéria, que somos todos humanos, todos temos sonhos, carências, fraquezas e
fortalezas. Mas vejam que, paradoxalmente, também somos únicos, temos nossos
próprios desejos e temores, nossas fragilidades e nossos valores, mas nada nos
impede de nos ajudarmos mutuamente, a não ser nossa própria vontade. É isso que
nos faz humanos. A capacidade de sentir a dor do outro. Não podemos perder isso
de vista ou nos tornaremos apenas bestas em busca de mais território para
“caça”.
Quando eu era adolescente meu irmão mais velho
convidou um casal coreano para almoçar conosco. Eu sempre tinha uma visão de
que os orientais, especialmente os japoneses e coreanos, eram pessoas diferentes,
superiores a nós, “simples ocidentais”. Admirava e ainda admiro sua disciplina,
sua paciência e sua capacidade de melhorar tudo que é inventado e,
principalmente, o respeito às normas e à coletividade.
O coreano era o mestre de taekwondo do meu irmão,
que trouxe sua jovem esposa e seu filho bebê para um almoço de domingo. Vejam
que morávamos no interior de Minas. Já começava por aí minha admiração: uma
jovem família coreana vir de tão longe e ensinar sua arte milenar aos
desconhecidos ocidentais.
Como toda boa mineira, minha mãe preparou um lombo
de porco assado na panela com farofa e mais alguns acompanhamentos. Eles
simplesmente amaram a comida, especialmente a farofa. E não era apenas
gentileza, pois se serviram dela repetidas vezes. E… não espalhem, a comida de
minha mãe é espetacular. Mas isso serviu para que os visse mais como pessoas
como nós mesmos, afinal, gostaram da nossa comida também.
Mas outro acontecimento me fez enxergá-los como
seres humanos “iguais”, embora diferentes. Após o almoço, todos saíram para ver
as dependências da nova academia que meu irmão estava montando, pois, como
faixa preta, já poderia ensinar a milenar arte coreana. Quero dizer, quase
todos, pois a jovem esposa com o seu bebê ficaram em casa e eu fiquei com eles
para fazer companhia e ajudar no que precisassem.
Eis que o bebê começa a chorar convulsivamente,
devido a cólicas abdominais. A mãe ficou desorientada e, por isso, peguei o
bebê do colo dela e tentei fazê-lo arrotar, mas não consegui. Em seguida
preparei um banho morninho, também sem sucesso. Depois de alguns angustiantes
minutos de fracasso em fazer o bebê se calar, o pessoal chega. Minha mãe, que
já tinha 5 filhos, sendo eu a segunda, foi logo perguntando: “Pôs o bebê para
arrotar? Deu banho morno nele?”. Diante de minhas respostas afirmativas, ela se
sentou, colocou o bebê de bruços nos joelhos e ele simplesmente se calou. Nada
como uma pessoa experiente, pensei.
Esse episódio me fez ver que todos somos ignorantes
em muitas coisas, que todos temos fragilidades e, principalmente, que podemos
aprender uns com os outros e nos ajudar mutuamente. Então não há super-humanos
ou sub-humanos, há apenas pessoas dispostas a aprender e a ajudar e outras “nem
tanto”. Somos feitos do mesmo barro! Trabalhar coletivamente nos faz mais fortes
e capazes de ir mais longe.
Por Iriam Starling.
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