quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Somos todos feitos do mesmo barro

 

Fico muito angustiada em ver que nossa sociedade está tomando um rumo que vai apenas trazer mais sofrimentos e mais mortes para as pessoas. A polarização absurda que vem sendo estimulada por poucos nas redes sociais atinge a muitos. Penso mesmo que deveríamos fazer uma massiva campanha contrária, ou seja, deixar bem claro que somos feitos da mesma matéria, que somos todos humanos, todos temos sonhos, carências, fraquezas e fortalezas. Mas vejam que, paradoxalmente, também somos únicos, temos nossos próprios desejos e temores, nossas fragilidades e nossos valores, mas nada nos impede de nos ajudarmos mutuamente, a não ser nossa própria vontade. É isso que nos faz humanos. A capacidade de sentir a dor do outro. Não podemos perder isso de vista ou nos tornaremos apenas bestas em busca de mais território para “caça”.

Quando eu era adolescente meu irmão mais velho convidou um casal coreano para almoçar conosco. Eu sempre tinha uma visão de que os orientais, especialmente os japoneses e coreanos, eram pessoas diferentes, superiores a nós, “simples ocidentais”. Admirava e ainda admiro sua disciplina, sua paciência e sua capacidade de melhorar tudo que é inventado e, principalmente, o respeito às normas e à coletividade.

O coreano era o mestre de taekwondo do meu irmão, que trouxe sua jovem esposa e seu filho bebê para um almoço de domingo. Vejam que morávamos no interior de Minas. Já começava por aí minha admiração: uma jovem família coreana vir de tão longe e ensinar sua arte milenar aos desconhecidos ocidentais.

Como toda boa mineira, minha mãe preparou um lombo de porco assado na panela com farofa e mais alguns acompanhamentos. Eles simplesmente amaram a comida, especialmente a farofa. E não era apenas gentileza, pois se serviram dela repetidas vezes. E… não espalhem, a comida de minha mãe é espetacular. Mas isso serviu para que os visse mais como pessoas como nós mesmos, afinal, gostaram da nossa comida também.

Mas outro acontecimento me fez enxergá-los como seres humanos “iguais”, embora diferentes. Após o almoço, todos saíram para ver as dependências da nova academia que meu irmão estava montando, pois, como faixa preta, já poderia ensinar a milenar arte coreana. Quero dizer, quase todos, pois a jovem esposa com o seu bebê ficaram em casa e eu fiquei com eles para fazer companhia e ajudar no que precisassem.

Eis que o bebê começa a chorar convulsivamente, devido a cólicas abdominais. A mãe ficou desorientada e, por isso, peguei o bebê do colo dela e tentei fazê-lo arrotar, mas não consegui. Em seguida preparei um banho morninho, também sem sucesso. Depois de alguns angustiantes minutos de fracasso em fazer o bebê se calar, o pessoal chega. Minha mãe, que já tinha 5 filhos, sendo eu a segunda, foi logo perguntando: “Pôs o bebê para arrotar? Deu banho morno nele?”. Diante de minhas respostas afirmativas, ela se sentou, colocou o bebê de bruços nos joelhos e ele simplesmente se calou. Nada como uma pessoa experiente, pensei.



Esse episódio me fez ver que todos somos ignorantes em muitas coisas, que todos temos fragilidades e, principalmente, que podemos aprender uns com os outros e nos ajudar mutuamente. Então não há super-humanos ou sub-humanos, há apenas pessoas dispostas a aprender e a ajudar e outras “nem tanto”. Somos feitos do mesmo barro! Trabalhar coletivamente nos faz mais fortes e capazes de ir mais longe.

Por Iriam Starling.

Nenhum comentário:

Postar um comentário