A fila chegava a
cinco quadras a partir da porta de entrada da lojinha de xerox.
Os primeiros
estavam no local desde a madrugada. Todos com o mesmo propósito: pagar por uma
consulta com a máquina de fotocópias que passou a prever o futuro. A notícia se
espalhou rapidamente pela cidade depois que uma mulher foi até o local
solicitar um serviço simples mas recebeu da copiadora, de forma inexplicável, a
frase: “Hoje é o seu dia”.
E atribuiu aquilo a um milagre. Depois disso, o
equipamento continuou nessa rotina, imprimindo apenas mensagens a quem
apertasse o botão.
Os olhos do dono da
lojinha de xerox brilharam com o inusitado. Ele viu a oportunidade de ficar
rico vendendo a consulta e elevou o preço da cópia de R$ 0,50 para R$ 50,00. O público
soube da façanha pelo boca a boca e passou o final de semana nas calçadas, à
espera de uma mensagem de felicidade, sorte, paz. Cada um com o seu desejo na
ponta a língua.
– Quero saber
quando vai sair o dinheiro da minha ação na Justiça.
– Não quero ficar
solteira. Vou perguntar quando chegará minha vez de subir ao altar.
– Um título para o
meu time. Quando vamos ganhar alguma coisa.
Enfim, os pedidos
se multiplicaram, de vários tipos, para todos os gostos. O proprietário da
lojinha olhava o relógio e não via a hora de abrir a porta, às 8h, e começar a
faturar. Seus cálculos apontavam lucro diário de R$ 50 mil. Por isso, cercou a
máquina com caixas e mais caixas de papel, enquanto os seguranças contratados
tentavam acalmar a multidão, já bastante nervosa.
E no meio de tanta
gente surgiu o estagiário da lojinha da xerox, responsável por fazer as
fotocópias, completamente alheio ao que estava acontecendo. Sua cabeça ainda
adolescente estava em outro mundo e ao ver tantas pessoas pensou apenas que
aquele seria um dia de muito trabalho. Não sabia do milagre nem dos planos do
patrão.
O estagiário levou
vários empurrões até conseguir entrar. Dentro da loja cumprimentou os colegas,
o chefe e se dirigiu até a máquina. Com fones no ouvido, desligou e ligou o
equipamento. Era um hábito, sempre fazia isso quando chegava. E o equipamento
deixou de emitir mensagens para voltar a ser uma simples fotocopiadora.
Essa história tem
dois finais.
No primeiro, o
estagiário acorda dois dias depois em uma cama de hospital, onde é informado da
destruição da loja pelos clientes.
No segundo final, o
estagiário corre perseguido pela multidão, que quer xerocar cada parte do seu
corpo, e a máquina emite uma nova mensagem:
- Essa gente
acredita em qualquer coisa hoje em dia.
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