Quero ter olhos de
ver o pão com manteiga não mais cair ao chão. E se cair que seja com a manteiga
virada para cima. Quero ter olhos de ver todos com boa alimentação oriunda do
suor do próprio rosto, do esforço digno e contente por possuir força e saúde para
tal.
Quero ter olhos de ver emprego para todos e todos exercendo esse trabalho com gosto,
respeito e alegria pela sua realização.
Quero ter olhos de
ver todos vivendo em digna habitação, limpa, cuidada e tratada com olhos de
bem-querença, apesar de eventualmente humilde.
Quero ter olhos de ver a saúde
estendida a todos: Adultos, velhos e novos; com carências recentes ou antigas
carências, com igual carinho e idêntica atenção. Quero ter olhos de ver a
segurança pública e a segurança privada como regra que se opõe a tudo e a todos
que sejam contrários a elas.
Quero ter olhos de
ver a educação como mestre maior de todas as outras ciências e os mestres
professores e educadores com a dignidade de poder ensinar com salário digno,
com a autoridade que precisam e com o respeito que merecem.
Quero ter olhos de
ver a meiguice (ternura, carinho,) que anda tão fugidia... arrepiada de horror
diante das barbaridades públicas e privadas que vemos todos os dias estampadas
nos jornais, que ouvimos no rádio e vemos na televisão.
Quero ter olhos de
ver a hipocrisia e o cinismo da sociedade a jazer no fundo imenso, tectônico e
profundo da terra-mãe, suficientemente poderosa para levar, de um só roldão,
quase trezentos mil irmãos sul-asiáticos.
Quero ter olhos de
ver as coisas todas agindo (ou desagindo) na sua inércia em favor do homem,
espécie, de todos os seres que existem. Quero ter olhos de ver o irmão
dando a mão para o outro irmão sem ter a pronta intenção de logo vir a
tomar-lhe o que ainda restou do infortúnio eventual ou permanente.
Quero ter olhos de
ver os fazedores do mal sendo queimados pelas hostes da bem-querença, pela
força que o bem imprime em tudo que vê, em tudo que toca, em tudo que sente, em
tudo que intui. O bem que tudo purifica, verseja e harmoniza, e poder vê-los,
então, sãos por inteiro, condenados a ser, permanentemente, fazedores do bem!
Quero ter olhos de ver a vida fluindo solta, solene, célere, lenta, cálida ou
tempestuosa, pois na vida há tempo para tudo.
Há tempo até mesmo
para aprender que a vida é curta, e muito breve para aprender o que é preciso.
E, evocando o oriente multimilenar (por que não?), quero ter plena saúde para
levar o meu trineto à praça, brincar com ele, e vê-lo tomar o seu mingau em
tigela de ouro.
E o mesmo ainda fazer com o filho dele! Quero
ter olhos de ver... e ouvidos de ouvir!
Nadir Silveira Dias.
Nadir Silveira Dias.
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