sábado, 26 de janeiro de 2013

O trânsito precisa ser um assunto discutido


É visível: nos últimos quinze anos, o trânsito mudou. Nesse período, a frota gaúcha mais do que dobrou. Hoje, são mais de cinco milhões de veículos circulando e mais de quatro milhões de condutores. O trânsito tornou-se mais do que complexo: ganhou status de ciência e vários de seus ramos tornaram-se especializações universitárias. Em seu aspecto mais violento, o trânsito tornou-se também uma calamidade pública, reconhecida pela Organização das Nações Unidas como epidemia mundial.  
Espelho da sociedade em que está inserido, o trânsito de hoje reflete toda a complexidade da sociedade moderna e das relações entre as pessoas. Em diversos aspectos, o Código de Trânsito Brasileiro antecipou-se às mudanças sociais que se refletiram no espaço de convívio a que chamamos trânsito. Na terça-feira, 22, completou-se 15 anos de sua vigência, trazendo vários debates e algumas certezas.        

Dentre as certezas, a principal é a de que, nesse período, o trânsito ganhou espaço de discussão, saiu das sombras e está sendo dissecado à luz do dia, mostrando suas fragilidades e seus problemas, mas também suas potencialidades e possibilidades de recuperação. As questões de trânsito são pauta obrigatória de qualquer órgão de imprensa responsável, de qualquer governo sério, de qualquer educador comprometido. Tema de nível planetário - do ponto de vista ecológico, sociológico, econômico - o trânsito bebe das fontes de diversas áreas do conhecimento.        

O etnólogo francês Marc Augé, por exemplo, introduz o importante conceito de não-lugar, espaço que se opõe ao lar, ao espaço personalizado, privado. O não-lugar é por definição um espaço público de passagem, de contatos breves e epidérmicos, tal como shoppings e estações, em que o ser humano se sente ainda mais só, por se perceber um ninguém junto a muitos outros seres humanos igualmente indiferenciados. Ele sente necessidade, em espaços assim, de impor sua individualidade, valorizando símbolos como cartões de crédito ou a carteira de motorista. Daí podemos intuir que, quanto mais impessoal e anódino for o espaço público, mais os seres humanos que nele circulam tenderão a comportamentos fora do padrão - seja pichando uma parede, seja desrespeitando leis de trânsito.        

Conhecimentos como esse nos autorizam a avançar mudanças. Se o nascimento do CTB, há 15 anos, abriu espaço para questionamentos e muitos debates, hoje vivemos a época da consolidação das normas, estas consideradas como o social resolvido, a problemática já solucionada e cristalizada. O desafio está, porém, em aplicá-las da forma mais adequada aos seres humanos que somos - caso contrário, elas serão letra morta ou, pior, instrumentos de domínio, a exigir constante controle dos corações e das mentes. Precisamos trabalhar o trânsito com a amplitude que lhe é própria, humanizando-o, tornando-o inclusivo, possibilitando protagonismo e expansão humana de todos e de cada um. No dia em que o conseguirmos, infrações e os consequentes acidentes não serão mais do que histórias de um passado que ninguém gostará de recordar.          


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Um comentário:

  1. Bem, o trânsito está mudando si, Como todo processo que envolve consciências humanas é lento demorado. Morrem por ano 43 mil pessoas em acidentes automobilísticos. UM número assustador
    Precisamos de mais conscientização, de um trabalho didático, educacional de educação das vontades de autoconhecimento, de saber lidar com o estresse, os conflitos, as frustrações. Isso é comum ao dirigir um carro. Trabalhar esses sentimentos enquanto estou num engarrafamento. Cinco por cento de multas e impostos no trânsito devem ser usados para isso. É muito dinheiro. Será que estão usando esse dinheiro para isso???

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