Acho que já contei
o meu único crime. Na verdade, descontando-se alguns sinais amarelos em que não
dava mesmo para parar, não há contravenções ou pecados maiores na minha vida.
Ficha limpa.
Claro que muito
pequei em pensamento, mas a imaginação é uma área neutra em que tudo é
permitido e nada é punido. Crime, crime mesmo só tenho um. Roubei uma pulseira.
Atenuante: foi por amor.
Eu tinha uns sete
anos e nós tínhamos acabado de alugar uma casa em Los Angeles. Meu pai
lecionaria durante um ano na Universidade da Califórnia. Nos botaram, eu e
minha irmã, numa escola próxima da casa. E foi lá que eu a conheci. Morena,
cabelos longos. Não vou nem tentar me lembrar do nome. Digamos que fosse
Sandra. E me apaixonei pela Sandra.
Ninguém se apaixona
aos sete anos, dirá você. Engano seu. As grandes paixões são aos sete anos.
Todas as outras, pelo resto da vida, serão simulacros, pois nenhuma será tão
intensa e desesperada. Eu amava Sandra e, na minha imaginação, era
correspondido. Nos meu sonhos ela me olhava, e trocávamos sorrisos, e eu até
beijava seus cabelos na fila. Foi a sua total indiferença aos meus olhares e
suspiros que me levou ao crime.
Descobri, na casa
em que morávamos, mal escondida numa prateleira, uma caixa contendo uma
pulseira dourada. A pulseira não devia ter qualquer valor para estar assim tão
à mão de um neocriminoso, mas era linda.
Peguei a pulseira
e, naquela noite, ensaiei o que diria a Sandra, quando lhe entregasse o
presente no dia seguinte. “My name is Luis and I love you.” Ou talvez algo
mais, mais cativante: “Tome esta pulseira, que é bela como você” ou “Lembre-se
de mim, Sandra!”
Eu sabia exatamente
onde cruzaria com Sandra no caminho da escola. E lá estava ela caminhando na
minha frente, com os cabelos longos soltos e balançando. Aproximei-me,
tremendo. Não podia errar a minha fala. Dizer “My love is name and I Luis you”
ou coisa parecida.
Emparelhei com ela,
entreguei a pulseira — e saí correndo! Sem dizer nada e sem olhar para trás.
O incrível é que a
pulseira que significara tanto para mim — meu primeiro amor, meu primeiro roubo
— não significou nada para ela. Sandra continuou me ignorando, nunca nos
falamos, ninguém deu falta da pulseira, e eu de vez em quando a imagino hoje —
meu Deus, com a minha idade! — contando para um bisneto a história do presente
do garoto estranho. Mas ela não deve se lembrar de nada. Aposto que votou no
Romney.
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artigo....
Rs Muito legal!!!
ResponderExcluirNos atemos a cada coisa né! rs
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