sábado, 12 de janeiro de 2013

O Domingão do Faustão e a Psicopatologia



Discurso de psicóloga, no "Domingão do Faustão", deixa mães de autistas e especialistas indignados, foi o que estampou a primeira folha do meu provedor UOL, no dia 20/12/2012. Como professor de pediatria e hebiatra (médico de adolescentes, jovens) há quase 55 anos e, atualmente, praticando psicoterapia, fiquei tremendamente revoltado, triste e desesperançado com a entrevista e o programa escolhido, para esclarecimentos das diversas síndromes de sofrimento mental que podem ocorrer no ser humano e, sua influência no crime coletivo, cometido na escola primária Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, nos Estados Unidos.        

E surgiram absurdas explicações do porquê da tragédia, ocorrida na pequena cidade norte-americana. Como simples ser humano, fico de luto pelo trágico acontecimento, mas as coisas podem sempre piorar. Certamente, o bom jornalismo saberia como, onde e quando abrir uma discussão sobre assunto de tamanha importância. Critico a mídia, qualquer que seja ela, quando convida “especialista” que, salvo as clássicas exceções à regra, estão, geralmente, correndo em busca dos seus 15 minutos de glória, sem se importar com a higiene mental e social do povo que pagou seus estudos.  

Quanto mais importante for uma emissora, ou coisa que o valha, deveria ter muito mais cuidado ao divulgar temas controversos, principalmente, num país onde a novela passou a ser o maior difusor de conhecimento, através de uma dramaturgia distorcida, disforme (repito, salvo raras ressalvas). Onde estão os Conselhos de Medicina, Psicologia, para se manifestarem sobre esse mau jornalismo? E o pior, são esses pobres peritos profissionais (fora alguns casos isolados) que não perdem uma oportunidade de comparecer a esses programas, debates midiáticos...        

Quando teremos os fatos mais bem estudados e mais bem anunciados? Os Psiquiatras falam de síndrome de Asperguer, Psicopatias, Autismo, e entram por aí, em uma discussão sem fim, pois nem sabem o que é.      

A Medicina é a ciência das verdades transitórias. E, toca a surgirem programas e artigos no éter, sobre autistas, psicopatas e assassinatos em massa. Bastaria fazer uma pergunta à nossa massa semianalfabeta, para constatar qual o gênero de filme preferido e típico do americano do norte: o faroeste, com a presença do indefectível caubói.        

Aí está a origem – remota, mas básica – da tragédia ocorrida na pequena cidade dos USA. Apesar de, em nossa história, termos, também, colonos europeus matando índios, assim como a escravidão negra, o - desculpem o termo difícil — psicossocial brasileiro é bem diferente daquele dos americanos do norte. As nossas armas não são vendidas em lojas de departamentos, e sim contrabandeadas do Paraguai.        
Para que entrar no terreno movediço da psicopatologia? Será uma tentativa de intelectualizar a miséria, na qual vive a maioria de nosso povo, ou um desejo incontrolável de aparecer na mídia? O meu temor é que a cultura do narcisismo, do consumo e da violência tenha contaminado nossos psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiras e outros profissionais assemelhados... É apenas uma advertência de um velho médico.


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Um comentário:

  1. Você acha, então, que o motivo foi os filmes, o psicossocial deles e nada no tocante a coisas como bullying (falo dos bem pesados), problemas com a família, dentre outros?

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