quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A economia do spam nosso de cada dia



Qual é o problema com a internet? Eu costumava gostar dela, pelo menos da parte que dizia respeito ao recebimento de e-mails. Uma das melhores partes do meu dia era o som amigável do Outlook Express anunciando que outro e-mail havia chegado à minha caixa de entrada. Então eu parava o que estava fazendo para ver qual amigo ou colega havia enviado uma mensagem, ou qual informação solicitada havia chegado.
Aqueles foram meus dias de glória do e-mail. Eu sinto saudade. Hoje em dia, parece que de dez e-mails que recebo, oito são propagandas não solicitadas, também conhecidas como spam. Desses oito, metade são amostras brutas e desumanizantes de pornografia. Por isso, nunca checo meus e-mails quando meus filhos estão por perto.
Embora eu já tenha sido um entusiasta do e-mail - e escrito a respeito- , eu agora considero que ele tem duas facetas. Alguns amigos meus desistiram dele completamente, ao decidirem que os custos excedem os benefícios. É difícil não concordar que eles têm certa razão. Sempre houve aspectos positivos e negativos a respeito do e-mail, mas parece que, ultimamente, com base na minha própria caixa de entrada e crescente lista de termos filtrados, os aspectos negativos estão prevalecendo.
A minha experiência reflete a tendência nacional. De acordo com o Wall Street Journal, a quantidade de spam , proprocionalmente ao número totais de e-mails na internet, cresceu 350% entre os anos de 2001 e 2002. A proporção agora está próxima a 50% de todo o tráfego de e-mails. O spam representa 70 a 80% de todos os e-mails recebidos pelos servidores da America Online e 40% da rede da Earthlink.
A economia do spam explica a sua propagação. Uma vez que um sistema de spam é estabelecido, o custo marginal de envio de e-mails não solicitados é praticamente zero. Consequentemente, taxas mínimas de resposta podem fazer com que o processo seja lucrativo. Enquanto todo aquele lixo enviado por correio normal exige uma taxa de resposta de 1 em 100 para ser lucrativo, o lixo eletrônico requer uma taxa de resposta de 1 em 100.000. Isso aumenta enormemente a sua capacidade como ferramenta de marketing.
Por exemplo: uma reportagem recente no jornal Forth Worth Star-Telegram falava sobre um spammer que enviava dez milhões de e-mails por dia oferecendo um software por US$40. Os seus esforços resultaram em 50 pedidos por dia, permitindo-lhe ganhar US$700.000 por ano. Nada mal para uma taxa de resposta de apenas 0,000005%. Seguindo a lei da oferta, o seu sucesso apenas induz outros spammers a entrarem na indústria, um processo fácil. Qualquer pessoa que possua um computador e uma conta de e-mail pode fazê-lo.
O resultado é a redução do apelo de um instrumento extraordinário. Afinal de contas, quantas pessoas assistiriam TV se os canais apenas mostrassem comerciais? A aversão está crescendo, e os políticos estão atentos a isso, como evidenciado por um recente “Fórum do Spam”, organizado pela Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos, e por diversos projetos de lei que estão sendo elaborados a respeito. Essa é, entretanto, uma combinação infeliz de eventos.
Infeliz porque soluções para problemas como esses são ineficientes, não podem ser legisladas, e resultarão em enriquecimento de empresas offshore. Após o 11 de setembro, o governo americano deixou claro o seu desejo de regulamentar várias formas de comunicação, especialmente o e-mail. A explosão do spam fornece um disfarce útil para justificar tal regulamentação, partindo do pressuposto de que o spam é simplesmente uma outra variante de falha de mercado exigindo vigilância do estado.
Além de serem incompatíveis com uma sociedade livre, essas respostas são incompatíveis com a teoria do mercado que nos ensina que o mundo em que vivemos é dinâmico, não estático, e leva algum tempo para que os recursos reajam a problemas que possam servir de obstáculos para a sociedade. O mercado não falha quando o preço da gasolina sobe, nos obrigando a realocarmos nosso uso de gasolina até que os empreendedores reajam à mudanças no preço redirecionando recursos para a produção de gasolina. É o governo que falha quando interfere nesse processo, frequentemente fazendo com que os problemas persistam desnecessariamente.
Pelo mesmo motivo, não precisamos supor que a praga atual do spam deva ser necessariamente a norma, anulando assim quaisquer vantagens que possamos obter através do e-mail e justificando a intervenção governamental. Na verdade, não há como saber como a natureza do e-mail mudará nos próximos cinco anos. Mas supor que as más condições persistirão indefinidamente certamente não se encaixa com a experiência prática de quase todas as esferas da vida. Mesmo que o estado moderno dependa de tais suposições, elas ultrapassam a ingenuidade para entrarem no reino do absurdo.
Problemas criam soluções
É verdade que os próprios problemas criam as condições necessárias para que os empreendedores ofereçam diversas soluções. Alguém pode enxergar nos problemas a oportunidade para a criação de intranets privadas, nas quais os spammers teriam que pagar pelo direito de fazerem propaganda. Na verdade, o seu pagamento poderia resultar em e-mail e acesso à web com custo zero para os não-comerciantes que usassem o sistema, financiando-o similarmente às redes de televisão. O provedor dessas intranets poderia regular quem envia spam e o quanto. Essa solução é, mesmo que ainda não na prática, tecnologicamente viável .Se os custos continuarem a aumentar, as condições de mercado poderiam facilmente mudar para permitir que tal sistema se desenvolva.
Há também atualmente muitas outras formas originais e inteligentes sendo encontradas pelos mercados para reagir aos problemas do spam . A empresa SpamArrest intercepta todos os e-mails enviados para os seus assinantes, exigindo que os remetentes visitem uma página e cliquem em um campo permitindo que o e-mail seja enviado para o destinatário final. A parte genial desse processo é que ele requer que o remetente acompanhe seus e-mails fazendo algo que só humanos podem fazer. Tais esforços tornariam muito mais difícil a vida do spammer.
Outras empresas como a SpamGourmet's oferecem serviços gratuitos. Elas permitem que assinantes submetam endereços de e-mail falsos para empresas que provavelmente tentariam vender os endereços para spammers. Os usuários especificam quantos e-mails desejam receber em resposta, quando alcançado esse número, os e-mails são “destruídos”. Como as empresas nunca veem o endereço de e-mail verdadeiro dos usuários, eles nunca são incluídos listas de e-mail de marketing.
Existem inúmeras outras abordagens, não há como listar todas aqui. O fato de que ninguém usará o e-mail se a tendência atual continuar é suficiente para garantir que algumas soluções serão encontradas. Assim como o mercado fornece regulamentação suficiente para maximizar as transações, ele também fornecerá as ferramentas necessárias para os serviços de e-mail maximizarem o número de clientes satisfeitos. Contanto que o estado não intervenha nesse processo corretivo, os dias de glória do e-mail retornarão. Ele será tão seguro, eficaz e benéfico quanto era no passado.
Agora com licença, vou esvaziar a minha caixa de entrada.


por Christopher Westley.

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