quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A educação é realmente importante?



A mídia alardeia diariamente: a educação transforma a vida das pessoas. Em sua capacidade de sintetizar ela mostra imagens sobrepostas de jovens em estado de delinqüência e inseridos no mercado de trabalho. São os mesmos jovens em momentos diferentes mediados pelo milagre da educação. Esta foi transformada numa espécie da panacéia para a cura de todos os males sociais. Os governantes fazem projetos, campanhas publicitárias etc. A TV faz a sua parte.

O discurso pela educação aparenta unanimidade. Paradoxalmente, a mesma sociedade que vê na educação algo essencial para que os indivíduos disputem no mercado, aceita passivamente a mercantilização da educação. Mesmo nas universidades públicas, os critérios produtivistas, próprios da lógica do mercado, são aceitos com naturalidade.

Eis o estado de guerra hobbesiano onde “o homem é lobo do homem”. O darwinismo social, a competição, resume a ideologia predominante. Os cínicos justificam a crescente mercantilização da educação como algo que estaria contribuindo para a cidadania. Estes, mesmo admitindo que os futuros diplomados terão pela frente um mercado de trabalho saturado e altamente competitivo, isto é, com poucas chances de exercerem a profissão, consideram que o desenvolvimento da sociedade é proporcional à quantidade de diplomas.

A lógica rasteira que transforma a educação numa mercadoria como outra qualquer, onde se vendem diplomas e ilusões, encobre os interesses particularistas em nome dos interesses da sociedade. Se os empregos são escassos, que farão os futuros formados com os seus diplomas? A resposta cínica: terão que enfrentar o verdadeiro vestibular do mercado de trabalho e a sociedade ganhará com isto porque vencerão os melhores.

Eis porque propostas como a adoção de cotas para negros produz tanta polêmica.* A educação é restrita a poucos, e o mercado de trabalho também. Quanto maior o número de diplomados, maior a disputa. As cotas reduzem o quantum de diplomas entre os que têm as melhores condições de disputar as vagas nas universidades públicas, isto é, entre os que possuem capital cultura e social acumulado. São indivíduos que, desde a infância, são preparados para assumirem o seu lugar na universidade.

Se a educação é mesmo importante, é preciso não apenas investimentos governamentais, mas também uma profunda democratização da mesma.
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Fonte: Escola Jerônimo Coelho

pelo prof. Antônio Ozaí
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5 comentários:

  1. Você tocou em um ponto importante: o mercantilismo da indústria do diploma, onde se cortam custos contratando professores menos aptos e aumentando o número de alunos por sala de aula. Não bastam investimentos. É necessário valorização profissional e criterioso planejamento para a educação.

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  2. Olá amigo,

    Quando o jornalista Antonio Ozaí publicou este artigo na Folha de São Paulo, às vesperas das eleições presidenciais em 2006, foi acusado de partidarismo ao então candidato, hoje Senador, Cristovam Buarque.
    Na minha opinião, o texto é apartidário. A bandeira por um melhor ensino deve ser levantada por qualquer candidato que tenha a intenção de governar um município, estado ou a República deste país.
    Sou cético quanto à eficácia das cotas raciais ou étnicas em universidades ou em qualquer outra coisa. Pra mim, são atitudes segregatórias por si só. Mas no cenário atual tem sido a melhor opção.
    É sempre importante levantar esta questão.

    Parabéns!

    Um forte abraço!

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  3. A democratizaçãoo se dá com uma gestão de vivência e prática democrática. Dessa maneira, o principal órgão gestor é uma assembléia de alunos, professores e pais na qual se discute frequentemente todas as questões de interesse da escola. As decisões da assembléia são encaminhadas para as comissões, que avaliam como implementar as ações. É diferente do que observamos na maioria das escolas e, no Brasil, são poucas as instituições que adotam esse modelo. No entanto, já há um entendimento de que é preciso ouvir e dar voz aos alunos. Essa consciência vem crescendo. Muitas das escolas mais tradicionais, embora não tenham uma gestão democrática, estimulam a formação de comissões por turmas, nas quais se discute não questões curriculares ou administrativas mas questões disciplinares por Helena Singer

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  4. A hipocrisia está lançada! Tudo o que é feito hoje é pintado de "democracia", mas não é o que acontece. A minoria das vagas (ou nenhuma sendo mais pessimista) são para os "mais capacitados", mas para os que tem mais dinheiro/poder. Hoje, assim como na Idade Média européia, só tem mais quem já tem algo e quem não tem fica sonhando um dia ter (quem sabe a Mega Sena ajude...)

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  5. Isso é muito verdade.Será que á quem
    quem mudará isso.

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