Sempre que leio textos sobre a polêmica relação entre homens e mulheres – cada qual se achando mais valioso –, me recordo de outra disputa igualmente famosa: o que tem mais valor, a forma ou o conteúdo? A essência ou a aparência? A apresentação ou a mensagem? Que se movam os exércitos para um lado e para outro, pois batalhas como essas não têm hora para terminar.
Sou um criador mais afeito ao conteúdo. Meu universo é a palavra e o campo simbólico. Escrevo e falo esperando que o enunciado seja compreendido e "terminado" na mente de quem recebe. Porém, isso é muito mais determinado por minhas deficiências do que por um pretenso talento: na verdade, desde a época de publicitário, morro de inveja dos artistas plásticos e gráficos; dos desenhistas e dos fotógrafos. Estes, sem se gastarem com palavras, falam até demais.
Para não dizer que sou completamente incapaz de produzir imagens, me sirvo da poesia – a maneira de desenhar que dispensa os pincéis. Mesmo assim, gosto mesmo é de combiná-la com a melodia para ver nascer uma canção. E, outra vez, fico dependendo de companheiros talentosos para juntar as notas musicais. Feliz de quem sempre encontra parceria para completar uma obra!
Do mesmo modo como o amor e/ou o sexo utilizam a diferença para perpetuar a espécie, combinando homens e mulheres, a forma e o conteúdo também estão a serviço de algo maior: gerar conceitos. Estes, tal qual um filho, nascerão tão mais bonitos e completos quanto mais herdarem coisas legais dos criadores. De uma idéia nascida em papel pardo escrito à mão até ela se tornar, digamos, um filme cinematográfico baseado em imagens computadorizadas, tudo será regido pelo casamento harmônico (ou não) de forma e conteúdo. Nem a moda, nem a arquitetura, nem a dança, nada escapa desta verdade: o importante é a concepção do conceito.
Evoquei esta relação entre homens e mulheres de propósito, pois simboliza com exatidão minha devoção às manifestações artísticas que não domino: admiro a mulher, mas não desejo ser uma. O que me atrai nela é justamente o que me falta. Assim, quando vejo a capa de um livro, ou sua editoração caprichada, nasce uma inveja positiva, que enaltece aquele que, ao contrário de mim, é apto para produzi-la. O mesmo vale para um encarte de CD, a formatação de uma página de internet, o cartaz de um show. Quero nunca me afastar destes talentosos seres capazes de lidar com a forma a ponto de chegarem ao desejado conceito – mesmo destino que busco com as palavras. No mínimo para compartilhar de ótima companhia durante o trajeto!
Rubem Penz.
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Sou um criador mais afeito ao conteúdo. Meu universo é a palavra e o campo simbólico. Escrevo e falo esperando que o enunciado seja compreendido e "terminado" na mente de quem recebe. Porém, isso é muito mais determinado por minhas deficiências do que por um pretenso talento: na verdade, desde a época de publicitário, morro de inveja dos artistas plásticos e gráficos; dos desenhistas e dos fotógrafos. Estes, sem se gastarem com palavras, falam até demais.
Para não dizer que sou completamente incapaz de produzir imagens, me sirvo da poesia – a maneira de desenhar que dispensa os pincéis. Mesmo assim, gosto mesmo é de combiná-la com a melodia para ver nascer uma canção. E, outra vez, fico dependendo de companheiros talentosos para juntar as notas musicais. Feliz de quem sempre encontra parceria para completar uma obra!
Do mesmo modo como o amor e/ou o sexo utilizam a diferença para perpetuar a espécie, combinando homens e mulheres, a forma e o conteúdo também estão a serviço de algo maior: gerar conceitos. Estes, tal qual um filho, nascerão tão mais bonitos e completos quanto mais herdarem coisas legais dos criadores. De uma idéia nascida em papel pardo escrito à mão até ela se tornar, digamos, um filme cinematográfico baseado em imagens computadorizadas, tudo será regido pelo casamento harmônico (ou não) de forma e conteúdo. Nem a moda, nem a arquitetura, nem a dança, nada escapa desta verdade: o importante é a concepção do conceito.
Evoquei esta relação entre homens e mulheres de propósito, pois simboliza com exatidão minha devoção às manifestações artísticas que não domino: admiro a mulher, mas não desejo ser uma. O que me atrai nela é justamente o que me falta. Assim, quando vejo a capa de um livro, ou sua editoração caprichada, nasce uma inveja positiva, que enaltece aquele que, ao contrário de mim, é apto para produzi-la. O mesmo vale para um encarte de CD, a formatação de uma página de internet, o cartaz de um show. Quero nunca me afastar destes talentosos seres capazes de lidar com a forma a ponto de chegarem ao desejado conceito – mesmo destino que busco com as palavras. No mínimo para compartilhar de ótima companhia durante o trajeto!
Rubem Penz.
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