Ultimamente, o que se percebe é o despropósito entre a compreensão que muita gente tem do luxo (diz-se chique) e os seus comportamentos pra lá de contraditórios. Com a razoável possibilidade de se obter dinheiro, o velho sonho de ser alguém importante (sobretudo para si mesmo) abriu precedentes nunca vistos. Mais do que antes, hoje é possível frequentar lugares caros e sofisticados, fazer viagens de tirar o fôlego e promover festas além da sua razão de ser. Porém, há um limite para o que o dinheiro pode comprar, pois é possível constatar, inequivocamente, a miséria mental e a consequente pobreza no jeito de se comportar em tais circunstâncias.
Em bons restaurantes, ou em cruzeiros marítimos, por exemplo, vê-se facilmente um sem número de clientes comerem avidamente com um olho no prato e o outro na travessa. Mais: conversas correntes são comuns enquanto o alimento encontra-se à boca. E, para encerrar a questão com colher de ouro: as mãos comumente empunham o garfo e a faca ininterruptamente, qual um maestro que manuseia a sua batuta (no caso, são duas!). É um show malogrado, embora tais pessoas aparentem se sentir no ápice do luxo: “Gasto, logo abafo”. Fantasia pessoal?
Casas enormes são construídas. Extravagantes somas capitais são depositadas no alicerce das fantasias que anseiam, em tom desesperador, participar da nata da sociedade. Festas nababescas são realizadas como oportunidade de se exibir o poder através da hipnotizante obra. Muita cortesia é jogada aos participantes, tal como confetes e serpentinas que caem no salão dos carnavais. No entanto, é mera aparência, pois ao menor desagrado (causado na intimidade familiar, por exemplo), a irritação sobe e os palavrões descem aos degraus da grosseria, que se abafa, convenientemente, nos porões da hipocrisia social. Logo se vê que o festejo se foi e a quarta-feira de cinzas chegou...
Casamentos mirabolantes primam pelos luxuosos detalhes da cerimônia. Numerosa lista de convidados atesta a necessidade de se sentir importante diante da plateia, das luzes e da fama momentânea. Estruturas caras e cada vez mais fora do propósito matrimonial consomem o dinheiro presente e futuro. Mas, afinal, sonho é sonho! Será? O efeito posterior ao megaevento tem demonstrado o pesadelo a que se pode chegar. Semelhante ao amargo porre depois da doce bebedeira, o casamento se desfaz rápida e facilmente, e se não ocorre nesses moldes é porque, à exceção da doentia dependência emocional, a delicada questão financeira trava em razão dos brutais interesses próprios.
Encontramo-nos, pois, na era dos contrastes, na qual o dinheiro e a liberdade das ações levam a pessoa a provar o gosto do devaneio. Feito uma criança que consegue o primeiro doce, e, inebriada por ele, e sem qualquer traquejo para prová-lo, lambuza-se mais do que se delicia. Contudo, um bom banho a repara para que continue a sua jornada de aprendizagem. Para o adulto, entretanto, especialmente aquele que se julga superior (destaque-se o autoengano gerado pela condição financeira), os resultados são bem danosos, a lição não atinge a sua meta e a cegueira alia-se a novas travessuras que inevitavelmente trarão maior frustração e dor. Então, será que convém afirmar que a vida é injusta, ou as escolhas, carregadas de inconsciência e oposição ao que se pretende (e suas consequências), dizem respeito ao nível de desenvolvimento em que nos encontramos por hora?
baseado em: Armando Correa de Siqueira Neto.
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A felicidade está nas coisas simples da vida. Deixar-se enganar por tais veleidades revela pobreza.
ResponderExcluirIsto me lembra o que Roberto Shinyashiki citou em sua entrevista: "O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem."
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