terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A polêmica internação involuntária

O drogado tem o direito de escolher se quer ser tratado ou o tratamento deve ser obrigatório...

A pergunta-chave é: o dependente, intoxicado pela droga, tem ou não capacidade de discernir o que é mais benéfico para si ou para sua saúde?

No projeto de lei 7.663/2010, aprovado pela Comissão Especial da Câmara, proponho a internação involuntária para tratar dependentes das drogas. Alguns a rotulam de autoritária, fascista, higienista etc. Argumentam que uma internação contra a vontade tem efeitos pífios. Outros vão mais longe, brandem argumentos ultraliberais ou mesmo anarquistas, de que as pessoas têm o direito à liberdade de se drogar e que o Estado não deve interferir.

Num universo tão rico de correntes ideológicas é importante estabelecer vínculo com a realidade do dia a dia. Para quem se preocupa com o crescimento epidêmico do número de dependentes químicos, é crucial saber o que pode ou não melhorar isso. Para tanto é vital ter informações baseadas em evidencias científicas. A pergunta-chave é: o dependente, intoxicado pela droga, tem ou não capacidade de discernir o que é mais benéfico para si ou para sua saúde? Estou convicto de que não tem. As evidências mostram que as drogas afetam e modificam de forma quase irreversível redes cerebrais específicas que controlam o prazer, a motivação e os impulsos. No período da intoxicação aguda, a capacidade de raciocinar e entender o que acontece ao redor fica severamente comprometida. Num tempo relativamente curto de uso, se instala uma doença crônica de difícil cura. Na "fissura", o dependente vende tudo o que tem, dorme na rua, come restos de lixo, não trabalha ou estuda, não prove minimamente a família, se é por ela responsável, e só tem preocupação: a próxima dose. Ele é portador de grave alteração mental e necessita de ajuda externa para seu tratamento. A ajuda começa com a família, que pode e deve ser ouvida nessas circunstâncias, e de uma criteriosa avaliação médica, que deve ser suficiente na internação para a desintoxicação.
Mesmo sendo uma doença incurável, quanto mais cedo é iniciado o tratamento, maior é a chance de prolongar a abstinência durante a vida. Como secretario de Saúde, assisti à destruição de muitos jovens, sem nada poder fazer. Pela lei atual, o dependente químico não pode ser tratado "contra sua vontade". Mas quando chega ao ponto de romper com os mínimos padrões de sobrevivência e convivência social, o dependente não é mais capaz de saber o que é importante para si. Se deixarmos ao seu "arbítrio", demorará muitos anos e assistiremos a uma devastação em sua vida e da família, até que alguns poucos decidam se tratar. Boa parte morrerá antes disso.
A questão da internação involuntária por algumas semanas, para a desintoxicação, em ambiente hospitalar, é decisiva para iniciar o tratamento e salvar vidas. Livre da intoxicação aguda o dependente poderá raciocinar com mais clareza e decidir sobre a continuidade do tratamento. As evidências também mostram que a continuidade da abstinência é semelhante tanto em quem é internado involuntariamente, quanto voluntariamente.
O que não podemos é continuar assistindo à progressão dessa grave epidemia, sem avançarmos em atitudes firmes de apoio aos doentes e suas famílias.
Por: Osmar Terra, deputado federal.
Acho uma medida que já deveria ter acontecido. E você?



2 comentários:

  1. opino como uma pessoa q já viveu com dependente quimico, no caso ele usava o crack, ele se internou mais de 15 vezes em tres anos de uso, internação voluntária e involuntária....te digo uma coisa não adanta eliminar o efeito tem que eliminar a causa(tráfico), os traficantes procuram a pessoa q está se recuperando e "dão" (depois é cobrada) um pedrinha e já é o suficiente para uma recída e o retorno ao abismo, é um círculo vicioso....

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  2. Olha já convivi com um filho que se voltou para as drogas. Maconha, cocaína, crack e quem sabe mais o que..... Na verdade, o causa não é o tráfico como diz a pessoa acima ( claro na minha opinião). Porque então milhares de jovens que tem acesso a droga não se viciam?. Não é o trafico, a droga o problema. O problema está na pessoa, em sua personalidade e principalmente na educação que os pais dão. Sim, apesar de muitos pais acreditarem que fizeram tudo certo, sempre existe alguma lacuna deixada. Eu sei bem onde eu e minha esposa erramos. Apesar da personalidade de nosso filho ser muito difícil, era muito curioso e portanto queria vivenciar tudo que tivesse vontade, em determinado momento de sua adolescência nos cometemos deslizes e isso potencializou a sua dependência. Penso que a medida de levar a pessoa mesmo contra sua vontade para o tratamento é positiva, deve ser feito sim, mas de nada adiantará se a pessoa não tiver uma transformação de personalidade, se através de um processo interior ela perceber seu erro. A família também precisa mudar sua dinâmica, descobrir seus pontos falhos, para cobrir brechas. E indo mais profundamente a forma como se organiza a sociedade provoca essa dependência .... Uma sociedade consumista, que tem um ideal de beleza e de vida para poucos, a valorização do ter do status, a falta de cultura humana, o egoísmo, a competição e pressão extremas, levam as pessoas a tentarem atenuar seu vazio usando drogas. Para atenuar a situação, precisamos de uma transformação profunda na base da sociedade, e isso convenhamos ninguém conseguiu até hoje.

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