segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sobre adultos e crianças...



Há muito tempo venho cozinhando em fogo forte a teoria de que os adultos nada tem a ensinar às crianças, quando estas brigam entre si. Os ensinamentos que temos a oferecer aos pequeninos, quando intervimos, não são aplicáveis a nós mesmos, porque padecemos das mesmas inseguranças, incertezas e medos deles. E somos ditos adultos.

Senão, vejamos:quando papai e mamãe brigam, certamente alguém dos dois quer que sua brincadeira prevaleça. Quando colegas de trabalho estremecem suas relações, provavelmente um deles recebeu maior atenção do chefe do que o outro, ou seja, a tia valorizou mais a ousadia de um do que do outro. Amigos quando viram inimigos, é porque um deles tomou a boneca do outro, ou o outro roubou o caminhãozinho do um. Ou até mesmo, um vizinho invadiu a cerca divisória do terreno ao lado, sem pedir licença.

É muito fácil usar a coerção física para impor nosso modo de pensar aos infantes. Mas na hora de emprestar o presente recentemente ganho no Natal, a gente chega a pedir que mamãe ressuscite e venha intermediar nosso conflito interno. Basta avaliar a sensação de deixar o colega dirigir seu carro novo com apenas 70 quilômetros no odômetro, pra ver se o sentimento de egoísmo dos tempos de criança não aflora ao coração. Ao contrário, penso que as crianças tem a nos ensinar.

Um beliscão, dedo no olho, ou até mesmo uma mordida no braço, podem resolver o problema na hora. Nem sempre o mais forte leva vantagem. É o mais fraco que desiste e abre mão da posse. Mas eles levam uma vantagem indesmentível no pós-conflito: são infinitamente menos rancorosos do que nós. Com a mesma naturalidade que partem para o pau, esquecem que há dois minutos, quase amputaram o dedinho do colega, com seus dentes de força incontrolável. E se perdoam ao natural.


Assim como brigam, ‘desbrigam’ e seguem na brincadeira. Sem sequelas. Sem traumas. Porque não tem o repertório de mágoas e dores que nós já carregamos no peito. Em um livro de capa preta, que canso de citar, está previsto o papel e a importância das crianças no nosso mundo. Temos que ser como elas. Não guardar rancor. Valorizar o perdão. De modo que tenhamos acesso às bênçãos que estão guardadas para nosso suprimento. É delas o reino dos céus. E é delas também o desfrute de uma vida mais feliz, menos amarga.


Por Mauro Blankenheim

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