Alguns leitores me apostariam por ser extremamente ácido, e até
injusto, dizem eles, com o Partido dos Trabalhadores. Em verdade, nada tenho
contra o partido em si. Não o deifico, mas também não o demonizo. O que gloso,
e o faço com isenção, são os atos perpetrados por suas raposas felpudas de
rabos maneirosos e de hábitos inaceitáveis, que assediam e assaltam os cofres
da nação. Aliás, não estou solitário na crítica.
"O PT caiu na vala comum das demais
siglas e superou a malandragem dos outros": são palavras de Olívio Dutra, ex-governador gaúcho, candidato
a senador derrotado nas eleições passadas e um dos fundadores do partido, ao
jornal O Sul, em edição de 5 de dezembro último. Isso posto, sem pimpar,
vascolejo a poeira e sigo em frente.
A proposta de reforma política frequenta com destacada
assiduidade as arengas de parlamentares, programas partidários e candidatos a
cargos públicos. Na prática, porém, pouco ou nada avança. Como o PIB
brasileiro, às vezes até recua a níveis que se aproximam de zero. Não chega a
ser algo de todo mau. As regras do jogo político-eleitoral no Brasil carecem de
alguma estabilidade e não podem ser alteradas a torto e a direito sob a
influência de eventuais maiorias no Congresso Nacional. Todavia, é óbvio que há
distorções - algumas até muito graves! - no quadro partidário, assim como na
forma como se exercita a política eleitoral. E elas podem ser banidas sem a
necessidade de qualquer revolução heroica.

Mas o que se viu, reabertas as comportas da democracia, foi uma
imensa pulverização de legendas. De 1988 até 2013 - 25 anos! - o número de
partidos políticos brasileiros aumentou em 350%: de sete para 32. Destes, 22
deles com deputados eleitos para a Câmara Baixa. Não obstante, pesquisas realizadas
no período 2004/2010 confirmam a maior preferência dos eleitores por três
legendas: PT, PMDB e PSDB, como sabido. O ruim é que a esmagadora maioria - 66%
este ano e, no melhor cenário, 56% em 2010 - não opta por qualquer partido. Não
há, pois, relação entre liberalidade excessiva na legislação que rege a vida
dos partidos e grau de representatividade das legendas, fator essencial na
democracia representativa.
O problema não chega a ser o número em si de legendas, mas o
fato de que, por falta de uma cláusula de barreira ou desempenho, há muitos
partidos nanicos com acesso ao fundo partidário e ao horário no programa
político. E o resultado logo se fez presente: "inventar" partido
político virou negócio rentável - no sentido pecuniário mesmo do vocábulo. Minuto
de TV virou moeda de troca: às vezes, literalmente!

Não são necessárias, assim acredito, alterações profundas para
se dar um salto de qualidade na vida pública brasileira. Inclusive, é justo
lembrar, ministros do Supremo Tribunal Federal, o STF, onde em 2006 um projeto
de cláusula de barreira foi por eles derrubado, consideram oportuna uma nova
análise do tema. Assunto para a legislatura e a presidente que assumem em
janeiro de 2015, sem que seja forçoso apelar para a proposta golpista de uma
"constituinte exclusiva".
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