Alguns leitores me apostariam por ser extremamente ácido, e até
injusto, dizem eles, com o Partido dos Trabalhadores. Em verdade, nada tenho
contra o partido em si. Não o deifico, mas também não o demonizo. O que gloso,
e o faço com isenção, são os atos perpetrados por suas raposas felpudas de
rabos maneirosos e de hábitos inaceitáveis, que assediam e assaltam os cofres
da nação. Aliás, não estou solitário na crítica.
"O PT caiu na vala comum das demais
siglas e superou a malandragem dos outros": são palavras de Olívio Dutra, ex-governador gaúcho, candidato
a senador derrotado nas eleições passadas e um dos fundadores do partido, ao
jornal O Sul, em edição de 5 de dezembro último. Isso posto, sem pimpar,
vascolejo a poeira e sigo em frente.
A proposta de reforma política frequenta com destacada
assiduidade as arengas de parlamentares, programas partidários e candidatos a
cargos públicos. Na prática, porém, pouco ou nada avança. Como o PIB
brasileiro, às vezes até recua a níveis que se aproximam de zero. Não chega a
ser algo de todo mau. As regras do jogo político-eleitoral no Brasil carecem de
alguma estabilidade e não podem ser alteradas a torto e a direito sob a
influência de eventuais maiorias no Congresso Nacional. Todavia, é óbvio que há
distorções - algumas até muito graves! - no quadro partidário, assim como na
forma como se exercita a política eleitoral. E elas podem ser banidas sem a
necessidade de qualquer revolução heroica.
Hoje fica claro que do enorme crescimento no número de legendas,
a maioria delas com representação no parlamento, não resulta um maior poder de
atração sobre o eleitor. Quer dizer: o sistema partidário falha na sua função
essencial - ser a voz do eleitor! Era previsível que, em 1985, esgotado o
período militar, com o retorno das liberdades civis sacramentadas na Carta
Magna de 1988, novos partidos fossem criados - ou recriados. Afinal, a camisa
de força da legislação vigente tornara o MDB e a Arena, depois PDS, simples
conglomerados de tendências à direita e à esquerda.
Mas o que se viu, reabertas as comportas da democracia, foi uma
imensa pulverização de legendas. De 1988 até 2013 - 25 anos! - o número de
partidos políticos brasileiros aumentou em 350%: de sete para 32. Destes, 22
deles com deputados eleitos para a Câmara Baixa. Não obstante, pesquisas realizadas
no período 2004/2010 confirmam a maior preferência dos eleitores por três
legendas: PT, PMDB e PSDB, como sabido. O ruim é que a esmagadora maioria - 66%
este ano e, no melhor cenário, 56% em 2010 - não opta por qualquer partido. Não
há, pois, relação entre liberalidade excessiva na legislação que rege a vida
dos partidos e grau de representatividade das legendas, fator essencial na
democracia representativa.
O problema não chega a ser o número em si de legendas, mas o
fato de que, por falta de uma cláusula de barreira ou desempenho, há muitos
partidos nanicos com acesso ao fundo partidário e ao horário no programa
político. E o resultado logo se fez presente: "inventar" partido
político virou negócio rentável - no sentido pecuniário mesmo do vocábulo. Minuto
de TV virou moeda de troca: às vezes, literalmente!
Instituir, pois, a cláusula de barreira é crucial para aprimorar
a escassa legitimidade do quadro partidário brasileiro. E ainda facilitará as
alianças para a governabilidade. Continuará a ser possível fundar legendas, mas
somente aquelas que atraiam percentuais mínimos de eleitores terão
prerrogativas plenas, como em democracias consolidadas, o que não é o nosso
caso. Um segundo aperfeiçoamento seria o fim das coligações em eleições
proporcionais para que restos de votos não elejam candidatos de legendas
coligadas, totalmente incógnitos do eleitor.
Não são necessárias, assim acredito, alterações profundas para
se dar um salto de qualidade na vida pública brasileira. Inclusive, é justo
lembrar, ministros do Supremo Tribunal Federal, o STF, onde em 2006 um projeto
de cláusula de barreira foi por eles derrubado, consideram oportuna uma nova
análise do tema. Assunto para a legislatura e a presidente que assumem em
janeiro de 2015, sem que seja forçoso apelar para a proposta golpista de uma
"constituinte exclusiva".
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário