segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O “Mensalão” era uma gorjeta

Talvez seja característica humana não reconhecer o mérito do outro. No Brasil, isso parece ser mais forte; na política deve ser regra, tanto que nas campanhas vence quem consegue que uma pecha grude no outro. Essa cultura do desmerecimento fica mais acentuada entre as malfeitorias petistas e psdebistas.

Quem se alinha ao Partido dos Trabalhadores defende a impunidade dos corruptos da agremiação sob a justificativa de que no período do PSDB também havia as mesmas práticas. O pressuposto deveria ser inverso, já que o partido ocupou o lugar por rejeição da sociedade ao modelo anterior.

Ao contrário dessa visão, sempre defendi a ideia de que ninguém elege representante para corromper ou ser corrompido.

O escândalo do Petrolão agora traz uma certeza ao povo brasileiro, pelo menos aos que reprovam a corrupção de qualquer partido, de que a corrupção parece fazer parte da genética da administração pública brasileira. Ela é generalizada de baixo para cima, em todas as instituições e em todos os cantos do Brasil. E só aparece gente contrária depois que os fatos são divulgados na mídia, ou são denunciados pelo Ministério Público ou pela Polícia Federal. Os demais órgãos são figurativos.

Depois da deflagração do Petrolão, a presidente Dilma Rousseff quer fazer exame de DNA para provar que é a mãe punitiva. Os corruptos – antes chamados de Paulinho, Yussefinho, Duquinho – amigos de estarem nos casamentos dos filhos, passam a ser bandidos e, por isso, nada do que dizem merece credibilidade. Não ficam corados de lembrar que foram seus apadrinhados até serem pilhados, que foram escolhidos por eles, pelos destaque – e que destaque! – competência e confiança que mereciam.

Esses filhotes da corrupção não têm pai. Ninguém os indicou. Seria bom que o endereço da Petrobras fosse divulgado. Parece que é só adentrar e assumir uma diretoria.

Não se sabe desde quando a corrupção corre solta na Petrobras sem uma voz dissonante durante todo esse tempo. Nem houve sequer uma ressalva como a de um ex-diretor do Banco do Brasil a um ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, ao alertá-lo de terem alcançado o limite da irresponsabilidade.

De peculiar nesse caso só o fato da atual presidente da empresa, Graça Foster, assumir que sabia do propinoduto e não fizera nada; assim como a presidente da República ainda não fez nadinha de nada, a não ser o que sabe fazer: falar. Além disso, a quantidade de delações comprova que as prisões dos corruptos do “Mensalão” retiraram a certeza da impunidade.

Praticamente todas as grandes empreiteiras estão sob suspeição de envolvimento neste escândalo e, por isso, não será possível a punição de todas elas, pois não haveria outras capazes de tocar as grandes obras públicas.

Como medida concreta, vão gastar milhões com terceirizadas para auxiliarem na recuperação do dinheiro que deixaram ir pelo ralo. E carimbam que corrupção é inerente à empresa quando se pretende criar uma gerência anticorrupção.

Corromper e ser corrompido são institucionalizados como um sistema de gestão. Envolve toda a cadeia sem risco e sem entraves para ninguém, com regras, atores e papéis bem definidos. Não é exclusividade do setor público, mas é esse o que interessa.

Todos precisam encarar a corrupção como suprapartidária e não dar trégua. E, como a morte, mesmo sabendo que nunca será vencida, todos devem combatê-la. Por enquanto, fica para a história a indiscutível paternidade do PT e a troca do símbolo da Petrobras, de maior empresa do Brasil para a mais corrupta do mundo.



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