Uma das coisas de que estou quase certo é que o brasileiro não
tem certeza de coisa alguma. Não sabe se dança na corda bamba ou se cai como um
viaduto. Se é bêbado ou equilibrista. Não sabe se dá ou pede pra descer. Se
assobia cana ou chupa o hino nacional. Digo isto também com o pé no chão da
dúvida. E alguém me avisou pra pisar neste chão devagarzinho. Eta povinho pra
gostar dum cima de muro. Tudo tem dois lados. Ou mais. Fica difícil
reconhecer-se e, ainda pior, identificar o outro e seus direitos. O vício
emocional é antigo. Advém de nossas origens mais remotas. Coloniais, ora pois.
Sequer decidimos se o Brasil foi descoberto ou achado pelos portugueses. Ou
seja, a coisa já começou mal. A relação com os nativos da terra, ainda nos
primeiros anos, fundava-se em uma dualidade de amor e ódio. Isto, claro sem
deixar de levar em conta suas especificidades culturais, que nos fazem pensar
sobre a impropriedade talvez cometida ao chamá-los de índios, com uma unidade
quiçá inexistente.
Em 1808 a grande família veio para o Brasil. Sempre lembro do
Nanini e da Marieta no filme da Camurati. Se foi fuga ou estratégia militar
contra as tropas de Napoleão ainda não fomos capazes de decidir. Há quem
considere a vinda da corte e seu aparato burocrático como a verdadeira
independência do Brasil. Que nada! Tratava-se da Metrópole na Colônia. A
montanha foi a Maomé. Confusão total. Depois veio a Independência de fato (ou
de direito?), de pai pra filho. Um português libertador dos portugueses. Só que
não. Bem diferente de Simón Bolívar, o libertador da Venezuela e da Colômbia,
que originou o impropério "bolivariano", tão empregado recentemente
pela mídia e por políticos da oposição conservadora. Nada obstante, mal
empregado atualmente pelos neo-udenistas.
Mal empregado, posto que ao se
desejar associação com o comunismo erra feio, pois Bolívar, a despeito dos
ideais progressistas, era um liberal. Naquela época, aliás, o socialismo nem
era utópico. O Brasil tampouco se resolvia liberal ou conservador, até que o
imperador abdicou em favor de seu ainda imberbe infante. No meio do caminho
havia outro Pedro. De revoltas regenciais à Guerra do Paraguai, as incertezas
levavam as honrarias. A República já começou velha. Café com leite. Café com
leite? Chimarrão foi a resposta na "revolução" burguesa de 30. E as
intentonas, comunista ou integralista? Eixo ou aliados? Vargas escolheu os
dois. Na dúvida, a vida e a história. E assim seguimos sempre unânimes nesta
síntese de incertezas. Catolicismo ou Candomblé? Protestantismo ou Espiritismo?
Tudo junto reunido. O brasileiro quer tudo. De Carmem Miranda ao south american
way. Ai, ai. Ai, ai.
Parlamentarismo ou
presidencialismo? Legalidade ou golpe? Marcha com a família ou com o sem-terra?
MDB ou Arena? Sim ou sim, senhor?

Exige-se o direito de
mandar qualquer um pra Cuba. Mais do que a era da intolerância, vivemos a era
das incertezas no Brasil.
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário