Nova técnica, ainda em estudo nos Estados Unidos, causa olhares
reticentes na área médica
Uma dupla de
médicos dos Estados Unidos divulgou este mês uma descoberta que tem chamado a
atenção da comunidade científica. Peter Rhee, da universidade do Arizona, e
Samuel Tisherman, da Universidade de Maryland, desenvolveram uma técnica, que
conforme eles, permite ressuscitar mortos.
Os estudos da dupla
resultaram em uma técnica que consiste em retirar todo o sangue do indivíduo e
resfriá-lo até 20 graus abaixo da temperatura normal. No lugar do sangue é
colocada uma solução salina que ajuda a rebaixar a temperatura do corpo do
paciente para algo entre 10 e 15 graus Celsius.
Após o problema que
causou a morte ser resolvido, o sangue é bombeado de volta ao corpo. Quando a
temperatura do organismo atinge 30 °C o coração volta a bater, de acordo com os
médicos.
“Quando seu corpo
está com temperatura de 10 graus, sem atividade cerebral, batimento cardíaco e
sangue – é um consenso que você está morto. Mas ainda assim, nós conseguimos
trazer você de volta”, disse o professor Peter Rhee em entrevista à rede BBC.
Até agora a técnica
foi testada em porcos e cerca de 90% deles se recuperaram quando o sangue foi
bombeado de volta. Após o procedimento, os testes cerebrais revelaram que não
houve dano ao órgão.
A novidade foi
recebida com receio por alguns médicos procurados pela reportagem do Diário da
Manhã. Alguns preferiram não se posicionar publicamente a respeito do assunto.
Os especialistas
ouvidos informaram que já existem tratamentos de hipotermia bem estabelecidos
em situações específicas, como cirurgias cardíacas e neurológicas, além do
atendimento de pacientes pós-recuperação de parada cardiorrespiratória.
O professor adjunto
de Cardiologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), doutor em Ciências da
Saúde pela UFG e presidente da Sociedade Goiana de Cardiologia (SGC), Thiago
Veiga Jardim, considera que a pesquisa vem mostrando resultados promissores em
animais e reconhece que o tema é bastante complexo e por esse motivo é preciso
ser observada com cautela. “É um campo de pesquisa que sempre desperta grande
interesse e, por isso, há grande repercussão, mas como disse anteriormente são
estudos iniciais em modelos animais. Trazer isto para humanos e ainda
disponibilizar o uso em grande escala requer muito tempo, ótimos resultados e
grandes investimentos. Talvez para um futuro não tão próximo quanto
gostaríamos. Não vejo uma viabilidade para utilização deste procedimento em
curtos prazos”, acredita.
O médico
nefrologista e membro da Associação Médico Espírita do Estado de Goiás Dezir
Vencio entende que a viabilidade dos estudos merece atenção, porém deve estar
fundamentada em “evidências clínicas e científicas que levem em consideração
reprodutibilidade, consistência, qualidade e aplicabilidade, atualmente, ainda,
não alcançadas pela medicina em humanos”.
O profissional de
saúde respondeu aos questionamentos acompanhado pelos filhos Luiz Fernando
Cunha Vencio (radiologista), Sérgio Alberto Cunha Vencio (endocrinologista) e
Paulo Roberto Cunha Vencio (pneumologista) e ressaltou que: “As aplicações
desse estudo convergem para a assistência em pacientes em parada
cardiorrespiratória já instalada ou em fase de instalação. Em estudos atuais,
esses procedimentos seguem as linhas determinadas pela American Heart
Association, que são discutidas a cada cinco anos em congresso médico
específico e que determina as diretrizes de atendimento à parada
cardiorrespiratória, baseadas em evidência e, até o momento, o estudo do dr.
Peter Rhee não foi reproduzido em humanos”, o que para ele é sinal de que o
assunto ainda está em análise científica.
Espírito
O fisiologista
Joaquim Tomé de Souza, membro e ex-presidente da Associação Médico Espírita do
Estado de Goiás, também conhecido como professor Tomé, ficou curioso a respeito
do assunto e foi taxativo ao comentar o que acontece com o espírito em caso de
morte do corpo. “Se o espírito já desligou, não volta mais, a menos que seja
uma situação de quase morte, quando o espírito entra no estado de letargia e o
processo de morte não se consolida e o espírito volta.” No entanto, ele afirma
que esta não é uma regra e sim uma espécie de exceção para espíritos que ainda
têm algo a cumprir na Terra. “Isso acontece apenas para o espírito que tem o
compromisso de voltar”, destaca.
Para ele, é
necessário observar com cautela as informações divulgadas uma vez que os
resultados são de testes feitos com animais. Tomé ressalta que o mais delicado
é cuidar do cérebro. “Os neurônios, as células cerebrais, são as mais sensíveis
à falta de nutrientes, entretanto, elas não ficariam sem estes porque
certamente estarão circulando, mesmo em baixa temperatura (e também em baixa
velocidade), no líquido que está substituindo o sangue. O neurônio, em seu
metabolismo consome muita glicose e oxigênio e, é claro, além de outros
nutrientes, mas certamente todos eles estão sendo ofertados no líquido
circulante”, acredita.
Dezir Vêncio também
acredita que enquanto o espírito não se desliga do corpo o procedimento é
possível, o que pode propiciar que ele tenha “variadas percepções sensoriais,
tais como: visão de um túnel, com uma luz no final, de pessoas conhecidas ou
desconhecidas, e do próprio corpo sendo atendido, relatar conversas do ambiente
ao acordarem, sensação de dor ou de desconforto, ou nada sentir/relatar, ao
voltar”, descreve.
Humanos
Os pesquisadores já
conseguiram autorização para testar a técnica em humanos. As cobaias serão
vítimas de armas de fogo em Pittsburgh, cidade que fica no noroeste dos EUA, no
Estado da Pensilvânia.
Um dos desafios a
ser encarado é a questão do sangue. Nos testes com porcos foi usado o próprio
sangue dos animais congelados, no caso dos humanos será necessário usar o
estoque de bancos de sangue.
Com informações da
BBC
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