Muitas primaveras não fazem - muitos invernos, também! - a corrupção, do
latim "corruptione", o ato ou efeito de corromper, era um pecado em
si mesmo. Nenhuma pessoa definia a acepção, mas também a absolvia. Ninguém dava
colher de chá. Ela era execrada, quase sacrílega, e os corruptos eram exibidos
ao ódio popular. Era assim e pt saudações!
Caso houvesse certo encantamento com o berço do Partido dos
Trabalhadores, nascido na cabeça de alguns filósofos e sacramentado nos portões
das montadoras de automóveis na região do ABC paulista - e, por certo, havia -
era a repugnância incisivamente manifesta pelo partido da estrela solitária
contra o demônio da corrupção.
Jovem, barba cerrada, testa encrespada, cara de
poucos amigos, exsudando aparente indignação, Lula malsinava as maracutaias.
Dizendo-se patrono da moralidade, parecia que o inconteste líder do PT - mas
apenas parecia, desgraçadamente! - lideraria de fato uma novíssima agremiação
partidária disposta a denunciar e a exterminar a ladroeira e a rapina,
exercícios teimosamente usuais na terra brasilis a partir do desembarque de Cabral
e da malfadada carta de Caminha. Era lógico que esse novo ente político assim
travestido captasse a simpatia da juventude e logo o apoio de milhões de
brasileiros, afadigados da maranha comum.
Em 2002, após três tentativas frustradas - uma contra Collor e duas
contra FHC - Lula é eleito chefe da nação. Oba! O PT agora é governo. O demônio
da corrupção será expulso do país. Com ar assustado, mas com a esperança
n´alma, crente no feroz combate à corrupção, o Brasil aguarda a faxina
prometida. E o que deu? Desilusão geral! Para desagrado dos brasileiros de boa
fé, a corrupção granjeia agora nova roupagem, um novo olhar. Mais grave: uma
nova ética.
O conceito se flexiona. Se contorce. Se relativiza. De início,
refuta-se a ladroeira e a rapina; logo se apequena a dimensão do bailarico.
Gente! O dano não era tão extenso como pensavam as oposições e a mídia,
asseveram os cardeais petistas.

Mas não ficou só aí. Utilizou-se, ainda, o pretexto caradura de que
"todos fazem malfeitos". A turma do PSDB fez, disseram.
Descaradamente, eles, os tucanos, ocultavam os malfeitos sob o tapete. De 2002
a 2014, em 12 anos de hospedagem no Planalto, o PT repisou exaustivamente a
arenga da ladroeira e da rapina na era FHC. Mas o que fez o PT? Nada. Não fez
nada, absolutamente nada, para prová-la - se é que realmente existiu! -, e
muito menos para levar os possíveis réus às barras dos tribunais.
A baboseira
contra a corrupção era menos árdua. Melhor: era, eleitoralmente, uma
inesgotável fábrica de votos!
Na mais descocada das explicações, dita em voz sussurrante, quase pudibunda,
afirma-se que os malfeitos, as maracutaias, no dizer das lideranças petistas,
são, entrementes, praticados por um governo preocupado com os pobres, que faz
justiça social e que promove a distribuição de renda. Desconsidere-se,
portanto, a roubalheira nos ministérios, na Petrobras, no Banco do Brasil e
outros órgãos governamentais. É corrupção? É, sim. Mas a corrupção do bem. A
corrupção virtuosa. E, se virtuosa, deve ser absolvida. E, porque não,
enaltecida!

Tema que retorna à liça política, em meio a todo o escândalo do
petrolão, talvez até mesmo para distrair a opinião pública, a reforma política
é piada para morrer de rir. É conversa para boi nanar. É lero-lero
inconsequente. Sem proselitismo, ninguém vencerá a carência de vergonha na cara
definhando e tornando palatável, em nome de intenções virtuosas, a roubalheira
que faz do erário público a sua guaiaca singular.
Per Bacco! Enquanto caminho
nas areias brancas da praia de Jurerê, penso cá com os meus botões: não rapinam
para auxiliar os pobres; rapinam, isso sim, para se eternizar no poder.
Comente este artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário